terça-feira, 15 de outubro de 2013

Valter Hugo Mãe – Filho de Mil Homens

 


Depois de magníficos livros como "A Máquina de Fazer Espanhóis" e, principalmente, "O Remorso de Baltazar Serapião", as expectativas eram altas para este livro de Valter Hugo Mãe (VHM). Anunciava-se o regresso às maiúsculas e o assumir de uma perspetiva mais positiva e uma escrita mais suave. Desde logo, anunciava-se o abandono de uma linha pessoal que VHM ia seguindo nas suas obras anteriores. Esse abandono de um estilo bem pessoal não me agradou mas devo dizer antes de mais nada que estamos perante um bom livro. A leitura é agradável, a escrita poética dá uma certa musicalidade ao livro e a sensibilidade do autor está sempre “à tona da água”.

Conta-se a história de um homem que, como o autor, cruza os quarenta anos de idade e questiona o sentido da sua existência, decidindo-se pela procura de algo que o complete: uma mulher e um filho. Crisóstomo, pescador, era metade. Fez 40 anos e sentiu-se só. Procurou um filho e encontrou-o: Camilo, catorze anos. Encontrou uma mulher e sorriu: Isaura (o nome mais belo que existe). Sorriu. Uma anã sem nome era infeliz. Só. Mas 15 homens, quase todos os que havia na aldeia a visitavam. E da doença e da solidão nasceu um filho. A mãe, anã, completou-se e morreu. Isaura com 16 anos cedeu ao amor carnal e começou a morrer. Conheceu um maricas e casou. Mais tarde o maricas será chamado pelo seu nome (Antonino); antes disso foi sempre renegado porque maricas não é ser gente. Um dia o maricas foge e Isaura descobre que o amor é esperar. Chora. Camilo, o filho da anã, é adotado pelo velho Alfredo. Alfredo morrerá e Camilo herda a solidão. Para Isaura “ser o que se pode é a felicidade”. Assim foi até conhecer Crisóstomo e Camilo, entretanto adotado pelo homem que fez 40 anos. Todas as metades se completaram e o maricas voltou. Antonino é acolhido pela nova família: Isaura, Crisóstomo e Camilo. A união entre os pobres, solitários deserdados da vida. Ainda havia tempo para que todos sorrissem.

Como se vê a mensagem é bonita, o enredo é interessante mas falta aqui (na minha opinião, é claro) Valter Hugo Mãe. Falta o cunho pessoal, o estilo “tsunami” a que VHM nos vinha habituando.
A solidão foi derrotada, assim como o preconceito, esse monstro devorador da vida, do qual nasce a solidão. Independentemente da qualidade inegável da obra, a palavra chave que me assoma à mente é esta: cedência.

terça-feira, 1 de outubro de 2013