sábado, 25 de março de 2023

Owen Pallett / The Hidden Cameras (GNRation, 24 de Março)




Owen Pallett, antigo membro de The Hidden Cameras, juntou-se ao seu líder Joel Gibb em palco para celebrar o legado histórico que os canadianos deixaram na música pop contemporânea.

O espetáculo iniciou-se com Gibb a solo, todo vestido de branco, com guitarra e bateria e adereços, diz-nos, comprados à tarde numa loja chinesa de Braga, a tocar algumas das canções do disco “The Smell of Our Own”, que celebra agora 20 anos de existência (a primeira foi “Golden Streams” seguida por “A Miracle”, “Shame”, “Boys Of Melody” e “Ban Marriage”) e novas composições para o seu álbum previsto para 2024. Composições irreverentes e diversas influências, que vão desde o folk ao rock’n’roll.

O virtuoso do violino, compositor e produtor, Owen Pallett é um dos músicos mais aclamados no Canadá, com influências que vão desde o pop e rock à música eletrónica, sendo reconhecido pelo seu trabalho a solo e pelos arranjos de orquestra para alguns dos maiores músicos da atualidade. Em 2005 estreou-se a solo como Final Fantasy com o disco Has a Good Home, seguindo-se He Poos Clouds. O seu trabalho com os Arcade Fire, no disco The Suburbs (2011), foi distinguido com um “Grammy”. Esta noite aproveitou a ocasião para celebrar a reedição daqueles dois álbuns de estreia como Final Fantasy.

Á partida poderiam ser dois concertos distintos, mas não foi isso que aconteceu, pois por diversas ocasiões durante o espetáculo, atuaram em conjunto, misturando cumplicidade musical e uma amizade que vai resistindo ao tempo e à distância.



sexta-feira, 24 de março de 2023

Sons da Primavera


1. David BowieYou Feel So Lonely You Could Die
2. PJ Harvey Who By Fire
3. Son Lux, Mitski, David ByrneThis Is A Life
4. London GrammarLord It´s A Feeling
5. Belle and Sebastian I Don’t Know What You See In Me
6. Daughter Be On Your Way
7. Thus LoveCenterfield
8. Yeah Yeah YeahsWolf
9. Yves TumorGod Is A Circle
10. Dream WifeLeech
11. Nothing But ThievesWelcome To The DCC
12. CatbearI Choose Love
13. The 1975 I’m In Love With You
14. Emily Jane WhiteWashed Away
15. BeckOld Man
16. Måneskin The Loneliest
17. Miley CyrusFlowers
18. Trvstfall Sing Louder
19. BoygeniusNot Strong Enough
20. The RegrettesYou’re So F**cking Pretty


sexta-feira, 10 de março de 2023

Nina Nastasia (GNRation, 10 de Março)



"I f*****g love Portugal"

A autora de “A Dog’s Life” trouxe consigo o novíssimo Riderless Horse, sétimo álbum de carreira que assinala o fim de um silêncio discográfico de doze anos. Trata-se do primeiro disco desde a morte do marido Kennan Gudjonsson, com quem travou uma longa e abusiva relação, amorosa e profissional, documentando a dor e o luto através de doze transformadoras canções. Assim, neste disco, Nina Nastasia não celebra um momento feliz e estável da sua vida, apenas tenta recuperá-la, salvando-a do momento mais triste e doloroso da sua existência.

Riderless Horse é um despojado e arrepiante conjunto de canções que nos conta os diversos momentos da relação, dos mais sombrios aos mais esperançosos. Nas últimas palavras de Riderless Horse, diz-nos “I wanna live, I’m ready to live”, deixando-nos o coração aquecido de esperança. Há momentos em que dizemos que a arte salva, mas poucas as vezes isto foi tão evidente e tão profundamente emocionante.

Numa sala esgotada e sem direito a lamentos ou queixumes, a cantora folk norte-americana, uma talentosa cantora e compositora conhecida pela sua abordagem única e emocional na música, apresentou-se sozinha mas segura, criou uma atmosfera íntima e envolvente, e percorreu todos os seus sete discos com canções excelentes, destacando-se "This Is Love", "Nature" ou a arrepiante "The Two of Us". Pelo meio esqueceu-se de uma letra, que justificou com um "Brain Fart" e soltou um espontâneo "I f*****g love Portugal". O público compreendeu mostrando-se sempre recetivo e interessado e ainda participou em coro num "happy birthday", que a cantora registou no telemóvel e com destino a um tio nonagenário!

O espetáculo foi verdadeiramente especial e deixou uma marca indelével na minha memória.


quinta-feira, 9 de março de 2023

Burrocratização do ensino


Enquanto o país se entretém com a futura localização de um aeroporto que se tornou a imagem do desatino e da incapacidade estrutural de decidir em tempo útil, esquecem-se as más notícias que ensombram a escola pública. Concomitantemente, quem queira servir-se da pandemia para relativizar os resultados negativos do desempenho internacional dos nossos alunos, só pode ter em mente o eterno argumento do “coitadinho”.

Quando tudo gira em torno da mediocridade, em nome da qual ganhou raízes o maior monstro burocrático e legislativo de sempre, eis-nos perante o Leviatã que não suga apenas as energias dos melhores professores, mas também destrói a sua dignidade profissional. Com que objetivo? A encenação de um “céu de papel” que esconda a triste realidade da terra. Mas este ocultamento do “reino da estupidez”, para nosso bem, não é totalmente estanque. E os sinais do desastre educativo nacional estão à vista, de facto, não sendo já possível camuflá-los com o fogo de artifício dos recursos digitais e outros iluminismos da era da inteligência artificial.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Ice Merchants


Este ano, pela primeira vez, um filme de produção portuguesa foi candidato aos Oscars, mais precisamente o de melhor curta-metragem de animação.

Intitula-se “Ice Merchants” (“Negociantes de Gelo”), tem 14 minutos e foi realizado por João Gonzalez, cineasta do Porto.

O resumo é fácil de fazer: um homem e o seu filho vivem num pequeno chalé pendurado na parede de uma imponente montanha. Lá, fabricam gelo que vendem numa vila a alguma distância do sopé da elevação. Para servirem os clientes, voam literalmente ao seu encontro. 

Filme assente em pormenores, em pequenos gestos estranhos porque pouco habituais, pois nada sabemos do ofício de negociar gelo, começa por estranhar pelo absurdo de alguém que sobrevive vendendo gelo a quem vive perto de uma montanha coberta de neve...

Limitado nos tons cromáticos em que assenta, utilizados para diferenciar os dois centros da ação, mas também para simbolizar a união do pai e da mãe (ausente?, mas nem sempre...), “Ice Merchants” no minimalismo da sua conceção, na vertigem da sua narrativa com os mergulhos sem rede para o abismo, e no inesperado do seu tom, desconcerta pelo círculo vicioso, qual pescadinha de rabo na boca, que move e condiciona os mercadores.

Termina, de forma trágica, mais impactante dado o humor ligeiro que perpassa por todo ele e na cena final, com uma mensagem ecológica que alerta para a responsabilidade individual de cada um... porque – e quem assistir entenderá – para nós não haverá um paraquedas suplente nem uma almofada que nos ampare a queda.