quinta-feira, 24 de junho de 2021

Factos Escondidos da História de Portugal - José Gomes Ferreira

 



Após a leitura das 477 páginas desta obra, cheguei à conclusão que o seu ator tortura os factos históricos, espezinha a verdade, mata a probidade e estrangula a independência intelectual e principalmente a nossa portugalidade. Pura perda de tempo, exemplo do que não deve ser uma obra didática e útil para quem quer aprender algo sobre a História do nosso país.

José Gomes Ferreira não tem qualquer formação em História, assegura que se trata de um livro de política (apesar de na contracapa destacar que “obriga a repensar a História”). Insinua que não estamos a ensinar corretamente a História de Portugal nas nossas escolas alegando que há uma História oficial e outra não oficial e que para ele os historiadores seguem uma “cartilha” oficial.

Trata-se de uma autêntica compilação de pseudo-factos secretos onde demonstra uma ignorância enciclopédica sobre os estudos que são feitos e publicados em Portugal por investigadores, apresenta um conjunto de teorias mirabolantes sem qualquer fundamentação científica, pejado de erros factuais. Não há análise de fontes, recorre a páginas avulsas da internet, cita meia dúzia de livros de autores e tenta adaptar as fontes à sua teoria não mencionando autores mais credíveis que não confirmem a sua tese. O último capítulo do livro, “Só não vemos o que não queremos ver” devia chamar-se “O autor só vê o que quer ver” tal é o número de imprecisões e de ideias feitas sem qualquer fundamentação.

O próprio título do livro é enganador: não apresenta Factos Escondidos da História de Portugal mas apenas factos relativos aos séculos XV e XVI. É errado considerar que em Portugal há uma História oficial: mesmo entre os historiadores há muitas opiniões e versões diferentes. A História não oficial de José Gomes Ferreira é baseada em fontes que não têm qualquer validade ou fundamentação científica. Sobre cartografia apresenta algumas deduções e ideias soltas mas todas as suas ideias não são novas, já foram apresentadas por outros autores. Faz uma escolha muito seletiva da bibliografia: chega a citar um artigo de João Paulo Oliveira e Costa mas não segue as conclusões do autor mas sim as suas próprias conclusões e ignora o resto da bibliografia deste investigador. Baseia-se em indícios, artigos desatualizados (1926 e 1934), introduz factos errados sobre o pau-brasil e a sua origem e apresenta uma mixórdia de temáticas com teorias controversas: Américas, Canadá, Brasil, Austrália, Antártida, Califórnia, Colombo, Fernão de Magalhães, os portugueses em Marrocos, a origem do nome Portugal (atribuída à Ordem dos Templários, quando existe consenso entre os historiadores quanto à sua origem) e os Painéis de S. Vicente.

Existe muita bibliografia que contradiz o autor, alguma até disponível online. Por exemplo, no que diz respeito aos portugueses em Marrocos pode-se ler este artigo de António Dias Farinha AQUI; sobre Cristóvão Colombo, ESTE artigo de Luís Filipe Thomaz (página 483) ou ESTE de Francisco Contente Domingues e sobre os portugueses na Austrália, ESTE de Carlota Simões e Francisco Contente Domingues.

Esta edição só tem explicação por se tratar de uma figura pública. Infelizmente, o mercado literário em Portugal privilegia essencialmente autores que sejam reconhecidos facilmente pelo público (como apresentadores de televisão, atores, participantes em reality shows, jornalistas, desportistas ou familiares de celebridades). Além disso, as editoras tendem a procurar material sensacionalista. O trabalho sério de investigação é muitas vezes preterido por este tipo de publicação.


quinta-feira, 17 de junho de 2021

11º CSE 1 e 2 (ESFH)

"Ensinarás a voar,

Mas não voarão o teu voo.

Ensinarás a sonhar,
Mas não sonharão o teu sonho.

Ensinarás a viver,
Mas não viverão a tua vida.

Ensinarás a cantar,
Mas não cantarão a tua canção.

Ensinarás a pensar,
Mas não pensarão como tu.

Porém saberás que cada vez que voarem,
Sonharem, viverem, cantarem e pensarem
Estará lá a semente do caminho ensinado e aprendido!"


Madre Teresa de Calcutá




Ao fim de dois anos de trabalho intenso, espero ter contribuído para que todos sejam um pouco mais conscientes do mundo que os aguarda. Não se esqueçam que as dificuldades são como as montanhas, pois só se aplainam quando avançamos sobre elas.

É o convívio com alunos assim que faz desta profissão de Professor algo de maravilhoso e único.

Desejo a todos as maiores felicidades e que o futuro vos sorria.

Até sempre,

CCB

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Wolf Alice – Blue Weekend (2021)


Desde 2015 que os Wolf Alice têm merecido a minha atenção quando editaram o aclamado álbum My Love is Cool, confirmada dois anos depois com Visions of a Life, onde a banda mistura elementos do indie rock com músicas mais introspetivas e calmas, com faixas mais pesadas e cheias de energia.

Depois de quatro silenciosos anos, acabam de regressar às edições com o ambicioso, potente e excelente Blue Weekend que promete tornar-se épico. O álbum move-se em terrenos familiares, algures entre o rock de feição mais clássica, misturado com elementos shoegaze, riffs de guitarra que, muitas vezes, remetem para o grunge do início dos anos 90, aqui e ali, um pouco de psicadelismo à mistura e uma incorporação bastante acentuada, em certos momentos, de elementos eletrónicos. As letras são reflexivas, discutem como relacionamentos começam e terminam e abordam a pandemia e as crises intermináveis que estamos a viver.


“The Last Man On Earth”, primeiro single do álbum, tem tudo para ser apenas uma balada, vai-se lenta e subtilmente metamorfoseando noutra coisa graças ao cunho pessoal dos Wolf Alice. Se a primeira parte da canção nos dá a voz crua de Ellie Rowsell, em solitária conversa com o piano, enfatizando-se cada palavra proferida, a ponte assinala uma viragem inesperada, introduzindo uma mescla de coros épicos e guitarras psicadélicas da década de 60.

Seja cinema ou sonho (“Lipstick On The Glass” e “Feeling Myself”), dream pop (“Delicious Things” e “No Hard Feeling”) ou riffs distorcidos (“The Beach”), punk (“Play The Greatest Hits” e “Smile”), folk (“Safe From Heartbreak – If You Never Fall In Love”) ou anos 80 (“How Can I Make It OK?”), Blue Weekend soa como um disco de consolidação, com arranjos impecáveis em cada música e que em apenas 40 minutos mostra uma das joias da música inglesa de 2021.

Os Wolf Alice acabam de anunciar a Tour Europeia com passagem por Lisboa a 3 de março de 2022. Os bilhetes já estão à venda...

Wolf Alice Mixtape:

terça-feira, 15 de junho de 2021

David Owen - Na Doença e no Poder



No seu livro de 503 páginas sobre as doenças dos grandes estadistas do século passado, “Na Doença e no Poder – Os Problemas de Saúde dos Grandes Estadistas nos Últimos 100 Anos”, David Owen (neurologista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico) considera que o que motivou a decisão de invadir o Iraque, tomada por George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar durante a célebre cimeira dos Açores em 2003, não foi a existência de armas de destruição maciça, nem a ambição de controlar o petróleo iraquiano mas sim um transtorno comum entre os políticos no poder, a síndrome de Hubris.

Esta síndrome, não reconhecida pela Medicina, equivaleria a uma “embriaguez de poder” caracterizada pela perda do sentido da realidade, soberba, presunção, persistência perversa em políticas que não funcionam e desrespeito pelos conselhos daqueles que os rodeiam. Os “pacientes” quando as decisões se revelam erradas, nunca reconhecem o equívoco e continuam convencidos que tomaram a decisão certa.

A sua dimensão é catastrófica quando se manifesta num pequeno grupo, fechado sobre si próprio, que desconsidera as pessoas e as instituições que promovem ideias contrárias, rejeitando-as e excluindo-as do seu núcleo decisor.

O exemplo do Iraque é o mais recente, mas ao longo da obra são apresentados muitos outros “doentes” afetados pela mesma síndrome como, por exemplo, Neville Chamberlain (primeiro ministro britânico entre 1937 e 1940, Adolf Hitler, François Mitterrand, Mao Tse-Tung, John F. Kennedy e até Margaret Thatcher nos seus últimos anos no poder. Todos eles foram atingidos por este transtorno psicológico. Aliás, Owen reconhece que também ele, no início da sua carreira política, deixou que o poder lhe subisse à cabeça - foi o mais novo ministro inglês dos Negócios Estrangeiros - embora sem nunca chegar aos extremos de alguns líderes históricos.

O fenómeno foi batizado com o nome da palavra grega “Hubris” que designava o herói que, uma vez alcançada a glória, deixava-se embriagar pelo êxito e comportava-se como um Deus capaz de tudo. Em consequência, começava a acumular erros, encontrando a sua Némesis, que o devolvia à realidade.  Não há tradução exata para a palavra Hubris que sintetiza o significado de outras: “arrogância”, “desprezo”, “superioridade”, “excesso de confiança” ou até alguma coisa semelhante a “autismo”, perda do sentido da realidade.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Leituras do Mês


- Daphne du MaurierO Outro Eu 
- Laura RestrepoA Noiva Obscura 
- Knut HamsonMistérios 
- John BanvilleA Guitarra Azul