quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Planeta - Lixeira (Placebo - Life’s What You Make It)

 

Os sinais são cada vez mais preocupantes. Tudo o que se passa no nosso planeta, a sua decadência, tem no Homem o único responsável.

A sociedade de consumo desenfreado, a constante crise económica, a insegurança internacional e o continuado confronto entre as nações, o esbanjador estilo de vida das nações mais avançadas, tudo isso é insustentável para a Terra que assim não se consegue regenerar. O que se passa com o degelo nos polos e os devastadores incêndios na Amazónia – o pulmão natural em vias de colapso final – são exemplos negativos e criminosos de que é (quase) impossível reverter a morte anunciada deste nosso habitat, que já foi um paraíso e que vai sendo transformado numa verdadeira montureira.

O vídeo do tema Life’s What You Make It (cover do tema dos Talk Talk de 1985), da banda inglesa Placebo foi gravado numa das áreas mais poluídas do planeta, em Agbogbloshie, localizado na cidade de Acra, no Gana, onde fica a maior lixeira eletrónica do mundo onde são abandonados milhões de computadores, televisores, impressoras e telemóveis velhos pelos países mais desenvolvidos. A ideia é mostrar como parte da população vive e trabalha neste local e também o quanto nós, seres humanos, descartamos não só o lixo convencional, mas os restos de equipamentos eletrónicos, tão presentes na nossa vida.

O vídeo inicia-se com imagens da linha de produção de uma fábrica de produtos eletrónicos até serem substituídas por imagens de Agbogbloshie, um enorme depósito de resíduos de produtos eletrónicos onde milhares de famílias recolhem sucatas para sobreviver.

No meio da catástrofe humana registada nesse local, as imagens mostram os seus trabalhadores, essencialmente crianças e jovens, em alguns momentos de descontração e alguns deles chegam a cantar, a dançar e a exibirem-se para as câmaras.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Truman Capote – A Harpa de Ervas

 



Há muito tempo não lia uma obra de prosa tão poética. A escrita de Capote, servida por uma boa tradução nesta edição Sextante, revela uma musicalidade impressionante e o título da obra dá bem o tom dessa música: o vento inclina a erva, fazendo-a soltar uma espécie de zumbido, um conjunto de ecos que parecem sintetizar vozes humanas que cantam em uníssono.

Está dado o mote para um magnífico livro, bem típico da época em que foi escrito, o início dos anos 50 do século passado; época de ilusão e de esperança para muitos mas de pessimismo para outros. Entre esses descrentes, alarmados pelo império do capitalismo, pelo macarthismo cada vez mais violento, pelo racismo e injustiças sociais, encontramos os escritores do movimento “Beat”, como são os casos de Capote e Kerouac.

Neste contexto, este livro é um intenso apelo à liberdade; ao direito que cada um deveria ter à diferença, a comportamentos socialmente atípicos e a todo um conjunto de pensamentos e comportamentos que devem ser respeitados. Assim, as personagens principais deste livro são seres antissociais, pessoas renegadas pela sociedade, perseguidos pela cor da pele, pela “deficiência” ou, como é o caso do narrador, por ter sido abandonado pelos pais. É neste aspeto que o livro é bastante autobiográfico – também Capote foi um jovem rejeitado pelas sociedade, um desenraizado, abandonado pelos pais.

Trata-se então de um livro típico desta época da escrita norte-americana, num belo estilo poético. Não é um livro grande; não é um livro com um grande enredo; mas é uma obra que prima pela beleza da própria escrita e por uma belíssima mensagem de liberdade.