quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

As Minhas Melhores Leituras de 2023




1. Douglas Stuart – Shuggie Bain
2. Arturo Pérez-Reverte – O Italiano
3. Eduardo Mendoza – A Cidade Dos Prodígios
4. Paul Auster – 4 3 2 1
5. Geoff Dyer – Os Últimos Dias de Roger Federer e Outros Finais
6. Shusaku Endo – Silêncio
7. Virginie Despentes – Vernon Subutex
8. Jorge Carrión – Livrarias
9. Herberto Helder – Os Passos Em Volta
10. David Galgut – A Promessa
11. Flannery O’Connor – Um Bom Homem É Difícil de Encontrar
12. Abdulrazak Gurnah – O Desertor

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Reuniões de Profes

Ata de um Conselho de Turma (de uma Escola Secundária da Terra Média):


----- Relativamente ao aproveitamento, o Conselho de Turma caracterizou-o como hilariante, uma vez que os níveis atribuídos pouco têm a ver com o desempenho dos alunos, mas sim com outros fatores, nomeadamente: o desejo de nunca mais os ver na sala de aula; a necessidade de cumprir as anedóticas metas de sucesso, de forma a evitar o paleio justificativo no relatório de avaliação de desempenho e demais documentação; a vontade de evitar recursos por seis ou sete encarregados de educação, previamente referenciados pelo conselho de turma como "carraças parentais obcecadas com a entrada dos descendentes no curso de Economia da FEP" [soou uma gargalhada quase geral].

----- A docente de Português confessou que devia ter estudado História para entender os hieróglifos dos testes e também que tinha ganas de imitar Espanca, só para não ter que voltar a ler tantos disparates e facadas na bela Língua Lusitana. Lembrou-se da discrepância que certamente existirá entre a avaliação interna e as notas dos exames nacionais, e por isso considerou não haver qualquer problema se as classificações se mantiverem camufladas na “bondade avaliativa” [soaram exclamações de compreensão e comiseração em quatro docentes]. 

----- O docente de Geografia declarou que não abdicava dos seus princípios, pelo que tinha atribuído nível quinze a um aluno que nunca compareceu [silêncio constrangedor]. O diretor de turma, bem-humorado, sugeriu que se alterasse para “dezasseis”, o que mereceu uma ovação geral, quanto mais não fosse para não terem que aturar os chiliques pedagógicos do Gabinete de Psicologia. 

----- A docente de Inglês esclareceu que mais de metade da turma não distingue ainda “yes” de “no”, o que compreende pois nas suas aulas só falam português, e por isso é-lhe impossível dar menos de dezassete valores a toda a gente pois eles são todos uns amores [nesse momento, fez-se silêncio temeroso].

----- O docente de Educação Física acrescentou que também não tem vontadinha nenhuma de aturar os comentários infelizes de vários quadrantes sobre a importância das suas áreas curriculares, pelo que o nível mínimo que atribuiu foi dezassete, que serviu para penalizar 4 alunos por nunca terem levado sapatilhas para a sua aula.

----- A docente de Matemática não disse mas com certeza pensou nas “melgas inúteis” que são os pais e demais parentes que acompanham vários alunos na realização dos TPC e que os instruem no sentido de pôr em causa tudo o que acontece nas suas aulas, embora a maioria nem o nono ano devia ter concluído [interjeições de concordância e olhares suspeitos de quatro docentes]. 

----- A docente de Filosofia explicou ao conselho que, no âmbito da interdisciplinaridade, tinha decidido uniformizar os critérios de avaliação, a saber: nível dezoito para quem tivesse pulsação, nível dezanove para quem também respirasse sozinho e nível vinte para quem emitisse cumulativamente sons [olhares de compaixão]. 

----- Para o docente de Economia, em resposta ao Representante dos Encarregados de Educação que considerou as notas da disciplina muito preocupantes (pois no ano anterior os alunos não falaram de Economia nas respetivas aulas mas pelo menos tiveram média de 16 valores), a inação de uns, a fraca prestação de outros, o desinteresse e a falta de ambição daqueles, enfim, aparentemente barricados na mediocridade escolar, acabam por ter um efeito de desvitalização de todos, vindo sucessivamente a induzir uma mediania académica, mas que tudo poderia ser compensado desde que a estrutura do próximo teste de avaliação fosse ESTA e se inscrevessem na Juventude Socialista. 

------ O Diretor de Turma destacou o facto de em mais de trinta anos nunca ter encontrado uma turma de alunos tão mimados, cultores da ignorância, incapazes de cumprir com as regras mínimas de uma sala de aula, que encaram o copianço nos testes como uma atividade perfeitamente normal e os trabalhos práticos como uma forma de praticar as funções “copy” e “paste” do Word e, não satisfeitos com a exuberância do seu tónus intelectivo, boçalmente ajuizarem sobre a condução do processo de ensino-aprendizagem. Por tudo isto, na sua disciplina decidiu atribuir como nota mais baixa dezassete valores [múltiplas interjeições de concordância]. 

----- E nada mais havendo a tratar...