- Wadjda (O Sonho de Wadjda), de Haifaa Al-Mansour - Arábia Saudita (2012)
Este é supostamente o primeiro filme a ser totalmente filmado dentro da Arábia Saudita contemporânea para além de, ainda mais miraculosamente, ser o primeiro filme de sempre a ser realizado por uma mulher dessa nacionalidade. Foca-se na história de uma jovem rapariga de 11 anos que sonha em ter uma bicicleta, para brincar com o seu amigo Abdullah, algo que lhe é proibido pelos pais e pela sociedade devido ao seu sexo.
O filme evidencia as características de uma sociedade baseada em tradições religiosas, à qual os ocidentais apenas imaginam como seria e também proporciona situações inimagináveis de restrições e preconceitos impostos às mulheres para o espectador tentar “digerir” e procurar, neste contexto, maneiras de viver com um mínimo de dignidade.
- La Historia Oficial (A História Oficial), de Luis Puenzo - Argentina (1985)
A narrativa deste filme centra-se na experiência de Alicia, uma professora argentina durante os anos 80, que começa a questionar as origens da sua filha adotiva e vai descobrindo os horrores da ditadura militar que ela, durante anos, tem vindo a ignorar. Suportado por um soberbo elenco, com especial destaque para Norma Aleandro e Chunchuna Villafañe, mostra como uma mulher foi cúmplice na criação da sua própria prisão de ignorância que, apesar de tudo, se mostra menos dolorosa que a necessária verdade. Assistir a “A História Oficial” torna-se um exercício de memória, e mostra que é preciso sempre discutir e falar sobre as atrocidades do passado, para que jamais se repitam os erros do passado.
- Maria Full of Grace (Maria Cheia de Graça), de Joshua Marston - Colômbia (2004)
Relata a experiência de uma jovem grávida colombiana que, depois de perder o seu emprego, se deixa seduzir pelas propostas de um cartel de droga, acabando por ser uma mula para eles. Com 62 preservativos cheios de cocaína no seu organismo, ela parte para Nova Iorque juntamente com outra rapariga. Joshua Marston filma todo este trajeto com particular intensidade, com destaque para as autênticas cenas de suspense no avião e no terminal de aeroporto.
"Maria Cheia de Graça" é um drama pausado mas pleno de intensidade, que aos poucos se vai insinuando e causando um discreto, mas violento, murro no estômago.
- The Lunchbox (A Lancheira), de Ritesh Batra - Índia (2013)
Este filme, já considerado de culto, passa-se em Bombaim e dá-nos uma visão diferente sobre a Índia e o dia-a-dia dos que lá vivem. Vale a pena ver o funcionário público, o Mr. Saajan Fernandes, e a dona de casa charmosa que nos transporta ao fabuloso mundo da comida indiana.
Saajan é um contabilista mesmo à beira da reforma. É viúvo e sem filhos, com uma existência solitária e melancólica. Um dia, o sistema de distribuição de lancheiras que, pelos vistos, existe na cidade, indo recolhê-las a casa e deixando-as no local de trabalho, engana-se e entrega-lhe uma que não lhe pertence. Saajan abre-a e encontra comida absolutamente fantástica…
Esta é uma história simples, de gente comum, passada numa cidade onde tudo é acelerado e num tempo onde já ninguém escreve à mão, mas envia e-mails, como alguém comenta no próprio filme. Mas estes anacronismos vêm sublinhar a diferença entre o amor clássico, pleno de emoções e subtilezas, onde o tempo alimenta a paixão, o oposto dos romances atuais, imediatos e de acentuado cariz sexual.
- Mies Vailla Menneisyyttä (O Homem Sem Passado), de Aki Kaurismäki - Finlândia (2002)
Um homem chega a Helsínquia num comboio noturno. Não sabemos o seu nome. Pouco depois da sua chegada ele é espancado com tal violência que perde a memória, esquecendo-se mesmo da sua identidade. Um início destes parece prometer mais tragédia que comédia mas neste filme a miséria humana é usada como ponto de partida para criar uma tapeçaria de comédia tão absurda como delicada. Humor unicamente escandinavo…