- L'Incroyable Histoire Du Facteur Cheval (A Incrível História do Carteiro Cheval), de Nils Tavernier – França (2018)
Esta longa-metragem é dedicada à vida real do carteiro francês Ferdinand Cheval (1836-1924), interpretado genialmente por Jacques Gamblin. Um carteiro solitário que encontra a mulher da sua vida, Philomène (a encantadora Laetitia Casta) e dessa união nasce Alice, que Ferdinand ama mais do que tudo e por ela lança-se numa tarefa de loucos: construir-lhe com as suas próprias mãos um incrível palácio. Não se deixando abater nunca pelos azares da vida, este homem banal não se deixará afetar e consagrará 33 anos da sua vida a esculpir esta obra extraordinária: “O Palácio Ideal”, em Châteauneuf-de-Galaure, na região de Drôme. Inteiramente construído de pedras que encontrou perta da sua casa, o gigantesco palácio é decorado com esculturas de animais, fadas e seres mitológicos. Um monumento que pode ser visitado em Hauterives, França.
- Verdens Verste Menneske (A Pior Pessoa do Mundo), de Joachim Trier – Noruega (2021)
Neste filme, Julie (Renate Reinsve) é uma norueguesa que está a chegar à casa dos 30 anos mas que tem dúvidas em assentar, como o namorado deseja. O encontro com outro homem, por quem se apaixona, vem ainda complicar os problemas existenciais de uma jovem mulher que se sente “a pior pessoa do mundo”, uma personagem secundária na sua própria vida que nunca soube muito bem o que quer da vida: quando a vemos pela primeira vez, somos informados de que é uma brilhante aluna de medicina; logo depois, muda para psicologia para, em seguida, saltar para fotografia, acabando a trabalhar numa livraria; vai tendo uns romances, incluindo com professores, até conhecer Aksel, autor de banda desenhada, com quem passa alguns anos até se apaixonar por Eivind, e onde a sua ideia sobre maternidade oscila entre a rejeição e o desejo.
Estruturado em 12 capítulos, como um livro, e com momentos mágicos de criação cinematográfica – como quando tudo para à volta de Julie e só ela se move – “A Pior Pessoa do Mundo” é uma forma divertida, simples e honesta de nos encontrarmos com nós próprios e recorda-nos que o cinema é ainda uma arte de contar histórias.
- È Stata La Mano Di Dio (A Mão de Deus), de Paolo Sorrentino – Itália (2021)
Filme com uma belíssima fotografia e profundamente autobiográfico pois Sorrentino evoca a sua juventude na Nápoles da década de 80, quando Diego Maradona foi jogar para o clube local, a sua vasta família, a tragédia que o deixou e aos irmãos órfãos e a sua decisão de ser cineasta. É o jovem Fabietto que representa a versão ficcionada do realizador nesta jornada existencialista. Além de Fellini, sempre citado, é inevitável recordar Ettore Scola e o seu filme "La Famiglia" (1987) no qual, mais do que contar a história de uma família, assistimos à declaração de amor incondicional e tolerância que devem ser (teoricamente) as principais características de uma família. Belíssimo filme!
- A Vida Invisível (de Eurídice Gusmão), de Karim Aïnouz (Brasil, 2021)
É um melodrama tropical muito bem interpretado e dirigido. Passa-se na década de 50 do século passado e é um retrato de vidas reprimidas: histórias paralelas de duas jovens irmãs inseparáveis, Eurídice que sonha em ser uma pianista de renome e Guida que procura um amor verdadeiro, descendentes de uma família portuguesa bastante conservadora, que em virtude de uma determinada ocorrência, vêem-se impossibilitadas de comunicar entre si. Ambas lamentam a falta uma da outra, pelo que jamais desistirão de voltar a reencontrar-se. Todavia, e apesar de viverem geograficamente próximas (sem o saberem), tal evento tarda em ocorrer e a tristeza corrói-as lentamente, sendo as cartas que escrevem (e que nunca chegam ao seu destinatário) o único meio que encontraram para (tentar) amenizar a dor/saudade perpétua. Convém ter lenços por perto para assistir até ao fim…
- Persian Lessons (As Lições de Persa), de Vadim Perelman – Alemanha, Bielorrússia, Rússia (2020)
Um filme baseado em factos reais sobre a Segunda Guerra Mundial onde Gilles um jovem judeu belga, é preso pela SS juntamente com outros judeus e enviado para um campo de concentração na Alemanha. Para escapar à execução, ele jura aos guardas que não é judeu, é persa. A mentira salva-o mas Gilles acaba por receber uma missão aparentemente impossível: ensinar Farsi a Koch, o oficial encarregue da cozinha do campo, que sonha abrir um restaurante no Irão depois da guerra terminar. Gilles tem agora de inventar uma língua que não conhece, palavra a palavra. Conforme a relação pouco habitual entre os dois floresce, começa um clima de suspeita e de medo pela descoberta da trama.
Apesar de poucos momentos mais contundentes em termos de violência, não somos poupados dos horrores da guerra e podemos senti-los ao longo de todo o filme, apenas pela observação dos acontecimentos dentro do campo de concentração.
O final do filme é algo que merece especial menção, pois, inesperado, é simplesmente emocionante e espetacular, dando inclusive um maior significado ao filme e resgatando qualquer deslize de roteiro. A derradeira cena (na verdade a penúltima) é uma pérola surpreendente e inesquecível, que coroa de profundidade atemporal esta bela obra.
Um filme baseado em factos reais sobre a Segunda Guerra Mundial onde Gilles um jovem judeu belga, é preso pela SS juntamente com outros judeus e enviado para um campo de concentração na Alemanha. Para escapar à execução, ele jura aos guardas que não é judeu, é persa. A mentira salva-o mas Gilles acaba por receber uma missão aparentemente impossível: ensinar Farsi a Koch, o oficial encarregue da cozinha do campo, que sonha abrir um restaurante no Irão depois da guerra terminar. Gilles tem agora de inventar uma língua que não conhece, palavra a palavra. Conforme a relação pouco habitual entre os dois floresce, começa um clima de suspeita e de medo pela descoberta da trama.
Apesar de poucos momentos mais contundentes em termos de violência, não somos poupados dos horrores da guerra e podemos senti-los ao longo de todo o filme, apenas pela observação dos acontecimentos dentro do campo de concentração.
O final do filme é algo que merece especial menção, pois, inesperado, é simplesmente emocionante e espetacular, dando inclusive um maior significado ao filme e resgatando qualquer deslize de roteiro. A derradeira cena (na verdade a penúltima) é uma pérola surpreendente e inesquecível, que coroa de profundidade atemporal esta bela obra.