quinta-feira, 18 de março de 2010

Óscares 2010


Actualmente os Óscares já não têm os mesmos segredos que tinham quando havia um canal público que exibia apenas o “compacto” da cerimónia no dia a seguir e os filmes candidatos, ainda não tinham estreado em Portugal. A globalização, trazida pela internet e pela televisão por cabo, tornaram impossível chegarmos aos Óscares sem conhecermos tudo o que diz respeito a filmes e actores / actrizes nomeados.

Premissa essencial na elaboração desta seriação dos 10 filmes nomeados: um filme preferencialmente deve abrir os olhos dos espectadores para a realidade do nosso mundo e não distrair-se com a utopia de outro planeta.

1. Inglourious Basterds
Filme sobre a 2ª Guerra mundial, que distorce a realidade mas contém diálogos magistrais e um excelente argumento. Um dos melhores filmes de Tarantino pós Pulp Fiction, com um conjunto de actores bastante heterogéneo onde indubitavelmente o destaque vai para Christoph Waltz (a cena inicial do filme é de antologia). Curiosa a incursão pelas referências cinéfilas ao longo do filme que conclui com uma cena fantástica na Premiere de um filme de propaganda nazi “O Orgulho da Nação” (olá Cinema Paraíso). Humor negro e inteligência superior. Daqui a alguns anos 2009 vai ficar recordado como o ano de Inglourious Basterds e não de outro filme qualquer…

2. Precious
História comovente, cruel e dramática de uma teenager obesa sonhadora afro-americana grávida do segundo filho e obrigada a frequentar uma escola especial e que é rejeitada pela mãe devido ao padrasto a trocar pela filha. Realismo e humanismo apenas criticados pela comunidade negra norte-americana. O desempenho de Gabourey Sidibe e Mo’nique justificam o respectivo Óscar. Curiosa e eficaz a participação de Mariah Carey e de Lenny Kravitz!!! Pena a exagerada associação do nome Oprah a este filme, tendo em conta o que realmente ela terá feito por ele.

3. An Education
Uma das surpresas do ano. Produção inglesa de baixo orçamento, com uma história simples mas com um trunfo: Carey Mulligan. Esta jovem inglesa de 24 anos tem um desempenho notável e é a única concorrente à altura de Gabourey Sidibe. A mensagem principal do filme centra-se no papel da educação, que nunca deve ser desprezada e que é fundamental para ter uma vida mais digna e agradável. Para fãs de cinema clássico…

4. Up In The Air (Nas Nuvens)
O início do filme, com diversos funcionários a reagirem ao seu despedimento é deslumbrante. Comédia dramática hilariante e inteligente, retrato da evolução tecnológica e da globalização, conta com um desempenho inesquecível do “clássico” George Clooney bem apoiado por Vera Farmiga e Anna Kendrick. Curiosa (e esperada) a cena da visita de Ryan (Clooney) à casa de Alex (Farmiga). O que fica do filme é essencialmente uma história subtil de solidão.

5. The Blind Side (Um Sonho Possível)
Tal como Precious, também se baseia na história (neste caso verídica) de um jovem obeso afro-americano com graves problemas familiares, conhecido por “Big Mike”. Ideia a reter: há boas pessoas neste mundo…, confirmada com o discurso da vencedora do Óscar de melhor actriz, Sandra Bullock: “Não há raça, religião, classe social ou orientação sexual que nos faça ser melhor do que outra pessoa.”

6. Avatar
Filme mais caro e com maiores receitas da história do cinema, usa a tecnologia mais avançada, por isso é revolucionário mas também poderoso e deslumbrante. Essencialmente é um belo entretenimento. A mensagem deste blockbuster centra-se na natureza, na paz e na tolerância dos povos de diferentes culturas. No entanto, a história é previsível e a sua visualização por vezes assemelha-se a um jogo de computador. Não admira que Hollywood não o tenha premiado. Pelo que referi inicialmente vale a pena ver, ainda por cima com a mais-valia que é o 3D.

7. The Hurt Locker (Estado de Guerra)
Filme sobrevalorizado, talvez devido à relação dos norte-americanos com o Iraque. Tenho de concordar que a realização é muito boa, tem um realismo impressionante, é excelente a criar momentos de tensão e é o melhor filme sobre a guerra do Iraque que já vi. Para a história vai ficar mais uma injustiça na atribuição de Óscares…

8. Up (Altamente!)
Filme de qualidade técnica irrepreensível, com um início comovente, que agarra o espectador até ao fim. Carl Fredricksen, um vendedor de balões de 78 anos, vai, finalmente, realizar o sonho da sua vida, uma grande aventura, quando prende milhares de balões à sua casa e consegue voar à descoberta da América do Sul, tudo em homenagem à sua companheira de sempre, Ellie. É impossível não adorar. Difícil a sua comparação com os restantes filmes da lista.

9. A Serious Man (Um Homem Sério)
Apesar de ser admirador do trabalho dos irmãos Coen (por exemplo, Fargo, Blood Simple, The Man Who Wasn’t There e No Country For Old Man), este filme desiludiu-me e bastante. Porque ironiza demasiado o sentido da vida, porque retrata uma comunidade judaica, com regras muito próprias e pouco convencionais, porque a religião comanda a vida e dá demasiado conforto às personagens e porque os actores não surpreendem. Não recomendo.

10. District 9
Ficção científica em formato documentário, com um final decepcionante, a prometer sequelas. Poucas coisas que valem a pena: a nave espacial e os aliens

De entre os filmes que vi recentemente, destaco 10 com menção bastante positiva:

Alice In Wonderland (do exuberante e excelente Tim Burton);

Dorian Gray (desconcertante, baseado na obra de Oscar Wilde);

White Ribbon - O Laço Branço (magnífico);

The Last Station (sobre Lev Tolstoi);

Un Prophet (filme francês, violento e realista);

Bright Star (o regresso de Jane Campion);

My Sister’s Keeper (retrato da vida de uma menina com leucemia);

Coco Before Chanel (biopic de Coco Chanel);

A Single Man (Colin Firth no seu melhor);

The Messenger (drama romântico).

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