quarta-feira, 31 de julho de 2013
Sam Savage - Firmin
Este livro deveria ser lido atentamente por todos aqueles que não compreendem a paixão pelos livros.
Terminada a leitura, não posso deixar de admitir que, se fosse um rato como Firmin, teria devorado literalmente o livro depois de o ter “devorado” em poucas horas. Trata-se de uma fábula magnífica.
Firmin, o rato, é o mais novo de uma ninhada de treze filhos de uma ratazana bêbada. Fraco, por falta de teta disponível, é o renegado da vida.
Vítima de “biblobulimia”, Firmin alimenta-se de livros: ele lê, come e vive os livros, de todos os géneros (ao todo são referidas largas dezenas de títulos ao longo de todo o livro). Aliás, o seu lema é: “bom para comer, bom para ler”.
Vivendo numa livraria de bairro, ele observa as pessoas e vai aprendendo a viver com elas. A livraria Pembroke Books de Norman Shine (na primeira parte do livro) e a casa de Jerry Magoon (na segunda parte) são o seu refúgio – o mundo lá fora é horrível e decadente. Os livros e o sonho comandam a sua vida.
No entanto, Firmin, o devorador de livros, não consegue comunicar com os humanos, essa espécie incompreensível e egoísta. Jerry, o homem que queria consertar o mundo, escritor modesto e vagabundo no destino, é o único que o compreende, o seu único amigo. Jerry é pobre e desprezado mas é feliz.
Firmin, o rato, carrega consigo a solidão. Mas graças ao afecto (ou amizade, ou amor, tanto faz) por Jerry e pelos livros, essa solidão não deixou nunca de ser apenas uma palavra que apenas vagueou com ele pela vida. Firmin teve a coragem suficiente para vencer o medo e procurar o sonho. Foi um rato renegado mas feliz.
Um livro fantástico; uma fábula inesquecível.
Aconselho vivamente a audição, em simultâneo, da banda sonora citada na obra (com temas, por exemplo, de Cole Porter e George Gershwin) e que permitirá recriar, na perfeição, a Boston perdida de Firmin e de Sam Savage.
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