Durante a visualização deste filme aconteceu-me algo inédito e estranho. A história que me estava a ser apresentada fez-me recordar na íntegra um conto fabuloso de Anton Tchekhov, “A Minha Mulher”, que li há vários anos. No livro, Pavel Anndreievitch vive na sua casa de campo, com Natália Gavrilovna, sua mulher. Cada um vive numa parte da casa, vivendo separados há já uns anos. Natália não suporta Pavel, demonstrando-lhe um ódio que Pavel não consegue compreender. Pavel vive sozinho e angustiado sem que consiga descortinar uma única razão para o seu desconforto interior. Quando recebe uma carta anónima pedindo-lhe que faça algo pela população empobrecida de uma localidade vizinha, sente-se entusiasmado pela ideia e, formula planos para organizar uma comissão de solidariedade que angarie os fundos necessários à causa e os distribua de forma justa. Quando expõe a sua ideia à mulher, descobre que esta já estava há muito tempo empenhada no auxílio desta população, tendo inclusive a tal comissão já formada.
No filme “Sono de Inverno”, que dura mais de três horas (mas como acontece em todos os grandes filmes, mal se dá pelo tempo a passar), Pavel é Aydin, um antigo ator, dominado pelo seu ego e pelas fantasias que dissimulam o sonho frustrado de grandiosidade. Aydin gere uma estalagem nas montanhas da Anatólia que fica isolada com a chegada do Inverno, juntamente com a sua irmã recentemente divorciada e a sua jovem mulher, Nihal, muito mais nova, que oscila entre a vontade de se emancipar e a de permanecer numa situação de comodismo privilegiado. Além destas personagens, deparamo-nos com os inquilinos das propriedades desta família, alguns dos quais dominados por uma atitude de servilidade, outros por um violento ressentimento, que parece estar prestes a fazê-los entrar em confronto e rutura.
E tal como o livro citado, o filme também é intenso pois leva-nos a mergulhar em questões de fundo e universais das relações sociais e humanas, acentuando tensões e expondo dilemas e conflitos.
Numa altura em que a ano está quase a terminar, elaborei uma lista com mais alguns filmes que vi e que me proporcionaram puro entretenimento e um afastamento da realidade do quotidiano. E são eles:
- Mandariinid (Tangerinas)
- Turist (Força Maior)
- Clouds of Sils Maria (As Nuvens de Sils Maria)
- Mia Madre (Minha Mãe)
- Dark Places (Lugares Escuros)
- Que Horas Ela Volta?
- Gui Lai (Coming Home)
- Phoenix
- Bolgen (The Wave)
- Mad Max: Fury Road
No que respeita às séries de televisão continuei a seguir Homeland (a sexta temporada ainda vale a pena), Fargo e True Detective (as segundas temporadas são bem inferiores às primeiras) e claro, continuei a seguir Game of Thrones. De entre as estreias, segui Narcos (excelente), Mr Robot, Jessica Jones e Blindspot. Tudo em binge-watching…
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