Por todo o mundo, a televisão está a reinventar-se. As séries televisivas de qualidade são consideradas um dos formatos narrativos mais interessantes da actualidade. As características principais destas séries são uma produção opulenta equiparável à cinematográfica, actores de primeira qualidade, enredos complexos e arcos narrativos que se desenvolvem ao longo de todos os episódios. As produções norte-americanas continuam a liderar nesta área. Actualmente, a Netflix já é líder destacada, conseguindo-o em apenas quatro anos no sector de produção de séries exclusivas. Apresento de seguida oito das séries de televisão que acompanhei nos dois últimos meses e que valeram bem a pena o tempo perdido (nunca ultrapassando dois a três dias por temporada).
1 - “The OA”, é precisamente uma das mais recentes séries da Netflix. Inicialmente parece que estamos perante uma nova “Stranger Things”, mas é bastante diferente. Trata-se de um drama com contornos paranormais. Composta por oito episódios, conta-nos a história de uma jovem cega que desaparece aos vinte anos e que reaparece sete anos depois. O seu nome é Prairie Johnson (Brit Marling, que eu já tinha adorado no filme “Another Earth”), conhecida pela sigla OA (“I’m the OA” - Original Angel), e a cegueira fazia parte de si quando desapareceu, mas já não faz. A visão restaurada é apenas uma das diferenças desta jovem misteriosa que nos vai enfeitiçar. Episódio a episódio, Prairie vai contando o que lhe aconteceu, e cada revelação é mais chocante e esquisita do que a anterior. Curioso também o pacto entre os dois protagonistas logo no primeiro episódio e a referência à sua origem: o magnífico Strangers On A Train, filme de 1951, realizado por Alfred Hitchcock.
2 - “Westworld”, combina ficção científica, drama, mistério e western! A criação é da HBO e cruza vários géneros com uma abordagem completamente nova da clonagem humana e das relações entre os seres humanos e a inteligência artificial. “Westworld” é a concretização da visão do Dr. Ford (Sir Anthony Hopkins), criador de tudo o que se vê no parque futurista que serve de cenário à série. Genericamente trata-se de um parque pensado para concretizar os sonhos dos mais afortunados, sem quaisquer limites. Matar, violar, torturar. Tudo está à disposição dos que entrarem neste mundo paralelo.
3 - “Black Mirror” renasceu em 2016 pela Netflix depois de duas temporadas (em 2011 e 2013, com apenas três episódios cada) desenvolvidas para o Channel 4 britânico. Logo na sua estreia, na temporada 1, primeiro episódio, The National Anthem, uma princesa inglesa é raptada e os raptores limitam-se a exigir que o primeiro ministro tenha relações sexuais com um porco! Este ano, a série regressou com a terceira temporada (6 episódios). Uma particularidade desta série é que em cada episódio há novas histórias independentes. Trata-se de ficção científica mas com muitas semelhanças com a realidade. Tudo parece (quase) normal e há apenas pequenos pormenores que fogem ao que todos conhecemos. Por vezes, até parece que a realidade já terá ultrapassado a ficção. A reflexão sobre o mundo moderno está presente, abrindo-nos os olhos para a influência da tecnologia nas nossas vidas e para o mundo assustador em que todos vivemos sem saber. A tecnologia transformou todos os aspectos da nossa vida e isso pode não ser positivo e são mesmo muitos os espelhos negros de “Black Mirror”. Para dar alguns exemplos, a série conta histórias como a de uma sociedade em que todas as pessoas são sujeitas a um sistema de ratings — em que basta a perda de uma estrela para que se perca a oportunidade de aceder a determinados serviços —, a de um jogo de realidade virtual que consegue interagir com as nossas memórias ou a de um militar cuja visão é trabalhada para que o inimigo seja visto como um monstro.
4 - “Queen Of The South” é uma série sobre narcotráfico protagonizada pela brasileira Alice Braga (sobrinha da actriz brasileira Sónia Braga) e pelo português Joaquim de Almeida (como Don Epifanio Vargas, líder do cartel Vargas e político corrupto). Enquanto não chega a terceira temporada da série Narcos da Netflix, o filão sobre o universo do narcotráfico, continua a ser explorado e tem mais um formato de ficção baseado na obra com o mesmo nome, que li recentemente, do jornalista espanhol Arturo Pérez-Reverte, e conta a história de Teresa Mendoza, uma jovem que se vê transportada para o submundo dos cartéis de droga mexicanos.
5 - “Fleabag” é cómica, fofa, nonsense, triste e brutal. Apesar da curta duração dos seus episódios (cerca de 25 minutos) provoca um turbilhão de emoções. Fleabag (Phoebe Waller-Bridge) é uma jovem adulta que enfrenta problemas quase universais sob o ponto de vista feminino: problemas de relacionamento, conflitos familiares, frustração sexual e profissional. Uma mulher moderna que vive em Londres, a tentar curar uma ferida enquanto recusa ajuda daqueles à sua volta, mantendo a sua intimidade o mais reservada possível, mas que está constantemente em interacção com o espectador, olhando-o directamente, com comentários à parte das respectivas cenas. Por vezes, fez-me recordar Californication e mesmo Secret Diary of a Call Girl da Belle de Jour Billie Piper. Um manual de instruções para compreender a mulher que se diz moderna, não recomendado para ver em família…
6 - “The Young Pope”, é outra série hilariante onde podemos ver um papa a fumar desenfreadamente, a beber Cola Light ou a despertar com um iPhone. No início da série, Jude Law é Lenny Belardo, o futuro Papa Pio XIII (ficcional) e Diane Keaton é a Irmã Maria, que o ajudou a criar desde tenra idade num orfanato. Estamos em 1998 e será ele a tomar as rédeas do Vaticano. É um Papa jovem, muito mais jovem do que os seus antecessores, e os cardeais esperam controlá-lo a partir de dentro, fazendo dele um fantoche público enquanto continuam a reinar nos bastidores. Mas não é isto que acontece. O novo líder da Santa Sé já conseguiu o que queria, chegar ao poder, e agora vai revolucionar a Igreja como a conhecemos. O realizador italiano Paolo Sorrentino (que dirigiu o belíssimo La Grande Bellezza, em 2013) pegou na personalidade do actual Papa, Francisco, e virou-a do avesso para construir um sacerdote diferente de todos os que já conhecemos.
7 - “Medici: Masters Of Florence”, com carimbo da Netflix, dá a conhecer a dinastia Medici, a partir do século XV. O principal protagonista chama-se Cosimo e herdou o Banco dos Medici, após o seu criador, o seu pai Giovanni (Dustin Hoffman), ter sido misteriosamente envenenado em 1429. A partir de flashbacks de há 20 anos atrás, conhecemos a Florença da época e a relação entre Giovanni e os seus dois filhos, Cosimo e Lorenzo e acompanhamos a criação do primeiro grande banco europeu.
8 - “The Crown”, outra série da Netflix que retrata de forma exemplar os primeiros anos de reinado de Isabel II. A história começa em 1947, ainda no reinado do seu pai Jorge VI, quando este descobre e mantém em segredo que tem uma doença terminal. A primeira temporada termina no final da primeira década de reinado de Isabel II. Durante este período temos a possibilidade de rever algumas das datas mais importantes da sua vida e somos tentados a parar a visualização dos episódios para confirmar e investigar alguns factos na internet. Os desempenhos são notáveis, desde Clare Foy (como rainha Isabel II) a John Lithgow (como Sir Winston Churchill).
2 comentários:
Destas apenas conheço e já vi A Rainha do Sul e The Crown.
Normalmente não dou ipoteses às series de ficção científica por isso não vi nem pretendo ver o IO ou o Westworld.
Espero ver Medici e aquela do papa moderno. Gosto de series com valor histórico. Além destas que outras conheces do mesmo género?
Também gosto de séries com valor histórico. Assim de repente recordo-me por exemplo de:
- Rome (sobre o império romano - 2 temporadas);
- Borgia (tal como a série Medici, também se baseia na história de uma família e da mesma época dos Medici);
- Marco Polo (sobre o descobridor italiano do século XIII, 2 temporadas);
- Vikings (esta ainda está a ser exibida e vai na 4ª temporada);
- John Adams (sobre o segundo presidente norte-americano, representado por Paul Giamatti, 7 episódios);
- Tudors (sobre o rei Henrique VIII de Inglaterra, 4 temporadas).
Abraço
CCB
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