Acabei de descobrir um disco fantástico, editado o ano passado no Brasil, mas que só agora teve lançamento mundial. Cantado em português do Brasil, o que normalmente seria suficiente para não lhe dar grandes hipóteses nas minhas audições (há poucas excepções, como os Pato Fu, de Fernanda Takai, ou os Mutantes, de Rita Lee).
Elza Soares terá (porque não o admite) 79 anos e desde a década de 1950 foi um dos maiores nomes do samba. No passado fez inúmeras gravações mas nunca lançou qualquer álbum de originais. Este é o primeiro! E o que se ouve não é propriamente samba, é algo difícil de catalogar como género mas irresistível aos ouvidos. Samba rock, samba jazz, enfim, o samba é o coração que bate nesta música híbrida, intemporal, cheia de electricidade rock, pulsão electrónica e tensão pós-punk.
“A Mulher do Fim do Mundo” é um álbum de luta e de vida, onde o racismo, a discriminação (“Benedita”, “Pra Fuder”) e a violência (“Maria da Vila Matilde”), são temas dominantes com que esta diva da “bossa negra” nos encanta com a sua voz rouca, cheia e quente, arrancada à terra e arrancada do fundo da alma:
Eu quero cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Eu vou cantar até o fim
Eu sou mulher do fim do mundo
Eu vou cantar, me deixem cantar até o fim (em "Mulher do Fim do Mundo").
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