sábado, 24 de junho de 2017
3 Álbuns Deslumbrantes!
Editados em 2017, são segundos álbuns de vozes femininas que fazem lembrar, por exemplo, Angel Olsen, Lisa Germano, Gillian Welch, Laura Marling ou Joanna Newsom, em que a intensidade dos temas desafia as influências óbvias.
São discos não aconselhados a quem ouve música a retalho na net e com o som comprimido, sem conhecimento do que foi sentido e pensado pelo artista.
Aldous Harding – Party
Esta neozelandesa, nascida Hannah Topp, em “Party” (editado pela 4AD e produzido por John Parish, colaborador de PJ Harvey) tem o dom de fazer a realidade parecer uma coisa muito frágil (“Blend”), por vezes penetrando numa escuridão convidativa e cativante (“The World Is Looking For You” e “Party”), invocando uma dor profunda (“Horizon”, recentemente apresentada de forma magistral no Later with… Jools Holland, da BBC 2) e um vício (“I’m So Sorry”), alternando o humor e as vozes sem esforço (“What If Birds Aren't Singing They're Screaming” e “Living The Classics”) e construindo assim uma obra surpreendente.
Julie Byrne – Not Even Happiness
Abençoada com uma voz límpida e profunda, esta norte-americana brilha sem espalhafato ao longo de 9 canções da mais bela e hipnotizante folk, criando momentos sublimes. Os arranjos orquestrais são cuidados, as letras falam de felicidade, mas também de desejo, luta, força, sabedoria, integridade, viagens (“Melting Grid”) e de solidão: “I was made for the green, made to be alone,” canta em “Follow My Voice”. A voz de Julie é de uma delicada entoação. Aconchega-se ao ouvido, cola-se à pele, transmite tranquilidade mesmo quando canta infortúnios. A imagem que fica é de uma mulher intransigente nas suas tentativas de criar uma vida significativa - “I crossed the country and I carried no key” (em “Sleepwalker”).
Nadia Reid – Preservation
Cá está outro disco que mais parece uma daquelas receitas que de tão simples se tornam irresistíveis. Arranjos simples e muito silêncio para deixar a voz respirar. Quase não há ingredientes adicionados para desviar a atenção da voz, das melodias e das palavras. A neozelandesa Nadia Reid apostou em canções de arrepiante personalidade (em “Reach My Destination” canta There were two little words that I used, one was ‘fuck’, the other was ‘you’) onde o protagonismo é dado claramente à sua voz e à sua guitarra. É música simples, como as melhores coisas na vida são. Discos destes fazem crer que este mundo merece ser vivido.
Globalização
Se o Mundo só tivesse 100 pessoas, era tudo mais fácil de compreender. Um número redondo ajuda sempre. Convidei todos para uma festa cá em casa e ficou assim a guest list!
Metade dos 100 convidados são homens e outra metade
mulheres. Justo e perfeito! Se a gente não estragar nada, o futuro está
assegurado. Tem muito amor para acontecer.
As companhias aéreas seriam muito beneficiadas. Mais de
metade [60] vivem na Ásia. Da América do Sul viriam 9, acho que conheço quase
todos, das terras do Tio Sam e do Canadá 4, de África 14 e por via terrestre
apenas 11 europeus. O Oriente leva muita vantagem. Será que o Mundo vai ser
todo chinês?
Mandei 75 convites por telemóvel, mas como só 30 tinham
Internet, foi SMS para uns e Whatsapp para outros. Aos restantes 25 enviei
carta. Tomara que chegue a tempo; e que a saibam ler.
Os nossos convidados fazem muita coisa diferente. Mas
sobretudo vivem vidas muito desiguais. O Mundo não é bom para todos.
Como no género, também se dividem a meio no lugar onde
escolheram, ou têm, de viver. 51 em cidades e 49 no campo; e também a meio no
dinheiro que têm para gastar. 49 têm menos de dois dólares por dia. 1,77 euros,
menos de 8 reais. Ainda assim, 21 são gordos, 15 comem menos do que é preciso e
há um que está esfomeado. Vou organizar a ementa do jantar para responder a
isso.
Tanta diferença é mais fácil de entender se soubermos como
foi a infância de cada um. Embora 83 saibam ler e escrever, 17 não saberiam
entender o endereço cá de casa.
Apenas 7 acabaram a universidade, mas nem todos saberiam
falar entre eles. A maior diferença nos nossos convidados é a língua. Vejam só:
12 falam chinês, 5 espanhol e outros 5 inglês. Há quatro grupos de 3. Os
falantes de português, árabe, hindi e bengali. Dois falam russo, outros dois
japonês. Os outros sessenta e três falam cada um a sua língua! Babel! Je
comprend rien.
Para fazer a ementa e as mesas tomei em conta a religião. Há
33 cristãos que comem de tudo, 22 muçulmanos que não bebem álcool, 14 hindus
que não comem vaca, 7 budistas que são vegetarianos e 12 sem religião nenhuma
que se sentam onde quiserem.
No final, quando agradeci por terem vindo, desejei um bom regresso
a casa. Mas 23 ainda não foram embora porque não têm um teto para morar.
sexta-feira, 23 de junho de 2017
11º F
“Os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos – a ânsia de coisas impossíveis, precisamente porque são impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo.”
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
Muita sorte e felicidade. Desejo que a alegria na vossa vida seja infinita e constante.
Acreditem na vossa força interior, vocês são capazes…
CCB
sábado, 10 de junho de 2017
Pensamento do Dia
“Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo.”
Oscar Wilde
quarta-feira, 7 de junho de 2017
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Rufus Wainwright, Theatro Circo, 31 de Maio de 2017
Inserido no ciclo “Respira! – O piano como pulmão” promovido pelo Theatro Circo, Rufus Wainwright apresentou um concerto único nesta sala bracarense completamente esgotada. Sem formato banda, apenas alternando a utilização de um piano com uma guitarra acústica. Esperava um alinhamento baseado nos primeiros discos de estúdio, esquecendo as últimas incursões pela ópera, pelos sonetos de Shakespeare e por Judy Garland e foi isso mesmo que aconteceu.
“Agnus Dei” (de Want Two) teve as honras de abertura do espectáculo, revisitando de seguida os 7 álbums de estúdio (com excepção do disco menos conseguido de 2010, All Days Are Nights: Songs for Lulu), ora cantando com uma guitarra na mão, ora se sentando no piano para apresentar o próximo tema. “This Love Affair”, “Out Of The Game”, “Grey Gardens”, “Jericho”, “In My Arms” (aqui enganou-se na letra o que levou à gargalhada geral e a um forte aplauso) sucederam-se num ambiente bastante intimista. Wainwright mostrou-se muito comunicativo com o público. Referiu-se por duas vezes à cidade de Braga: quando visitou "umas 5 igrejas" e quando se deslumbrou com o Bom Jesus. Tentou, com sucesso, a comédia quando contou a sua recente passagem pelos arredores de Barcelona e pelo momento em que recebeu uma massagem de um profissional que não dominava a língua inglesa e que lhe pediu para “inspire” e “expire” (inhale, exhale) e que também lhe perguntou “Do you like depression?”…
O artista emocionou-se quando apresentou uma cover de Lhasa de Sela (falecida em 2010), a magnífica “I’m Going In”. Houve ainda tempo para apresentar uma nova canção “The Sword Of Damacles” que “soon will be released”, contando previamente que foi inspirada por uma amiga francesa chamada Bernardette. Anunciou que irá apresentar a sua primeira ópera "Prima Donna" na próxima semana em Paris e que já está a preparar a próxima ópera baseada no imperador Adriano.
Sem grande surpresa as últimas quatro canções foram: “Cigarettes And Chocolate Milk”, “Going To A Town” (a mais ovacionada da noite), “Hallelujah” (original de Leonard Cohen) e, surpreendentemente, encerrou a noite com “Poses”, do disco com o mesmo nome que verdadeiramente celebrizou Wainwright como compositor (nesta última interpretação voltou a esquecer-se da letra – “it’s getting late”, justificou o homem). Agradeceu e elogiou o público bracarense: "What a discovery!".
Rufus Wainwright provou que o artista é um bom artista, mostrou uma das suas facetas mais fortes, a de cantautor sozinho ao piano ou à guitarra, longe das orquestrações pomposas que costumam marcar presença nas suas canções. E tão cedo não se apagará esta actuação nas mentes de quem a presenciou.