segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

As Minhas Melhores Leituras de 2019


1. Anna Burns – Milkman
2. Svetlana Aleksievitch – O Fim Do Homem Soviético
3. Michel Houellebecq – Serotonina
4. António Lobo Antunes – Cartas da Guerra
5. Margaret Atwood – O Assassino Cego
6. Mons Kallentoft & Markus Lutteman – Leão
7. David Lagercrantz – O Homem Que Perseguia A Sua Sombra
8. André Canhoto Costa – Os Vícios Dos Escritores
9. Jaime Bulhosa – Pedra De Afiar Livros
10. Ali Smith – Primavera
11. Tom Clancy – O Cardeal Do Kremlin
12. Carlos Poças Falcão – Arte Nenhuma

sábado, 28 de dezembro de 2019

Os Melhores Discos do Ano 2019


A época que atravessamos é apropriada para a elaboração de balanços. E o resultado é de um saudável ecletismo; não por um desejo irreprimível de “ir a todas” mas pela simples constatação de que cada vez faz menos sentido espartilhar a música produzida por estes dias.

As listas de melhores discos do ano valem o que valem. Quero dizer, podem constituir um guia generoso e prático onde estão escarrapachados os discos mais marcantes do ano que passou, mas nunca devem ser lidas como se se tratassem das Sagradas Escrituras.

 

- Nick Cave and the Bad Seeds - Ghosteen
- Sharon Van Etten - Remind Me Tomorrow
- Fontaines D.C. - Dogrel
- Angel Olsen - All Mirrors
- Purple Mountains - Purple Mountains
- Vampire Weekend - Father of the Bride
- Lana Del Rey - Norman Fucking Rockwell
- The National - I Am Easy to Find
- FKA Twigs - Magdalene
- Billie Eilish - When We All Fall Asleep, Where Do We Go?
- Michael Kiwanuka - Kiwanuka
- Slipknot - We Are Not Your Kind
- Tool - Fear Inoculum
- Weyes Blood - Titanic Rising
- Thom Yorke - Anima
- Foals - Everything Not Saved Will Be Lost (Part 1)
- Cigarettes After Sex - Cry
- Swans - Leaving Meaning
- Ex:Re - Ex:Re
- Tindersticks - No Treasure But Hope


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Chernobyl (Minissérie)

 

“Chernobyl” é uma minissérie épica da HBO em cinco partes que dramatiza os acontecimentos do acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido a 26 de abril de 1986, que dispersou uma nuvem radioativa pela Europa, contado pelas histórias das pessoas que fizeram sacrifícios incríveis para salvar a Europa de um desastre inimaginável.

Trata-se de um quadro implacável do pior acidente da história nuclear civil e reproduz o ambiente na antiga URSS, que tentou ocultar o incidente durante várias semanas, antes de resolver evacuar a zona, ainda inabitável mais de 30 anos depois.

O personagem principal é o diretor adjunto do maior centro de pesquisas da URSS. A série concentra-se no heroísmo das personagens comuns, mas os altos dirigentes soviéticos, começando pelo líder da época Mikhail Gorbachev, são retratados como sendo carentes de valores e mentirosos.

Assistir à série é ficar com um nó na garganta do início ao fim, não só porque temos a sensação de estarmos diante de algo nunca antes visto em televisão, como também porque nos relembramos que a história contada foi inspirada em factos verídicos. Por vezes até parece que estamos a apanhar com a radiação…

As consequências de Chernobyl foram catastróficas, entre várias mortes, deformações humanas e o completo abandono da cidade de Pripyat, na Ucrânia, perto de Chernobyl, atualmente uma cidade fantasma. As partículas radioativas continuam presentes no local, e quem visita a zona sem permissão é condenado a pena de prisão. 

O vídeo de apresentação do tema “Life Is Golden” incluído no álbum de 2018 da banda britânica Suede, The Blue Hour, foi totalmente filmado em Pripyat.


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Teste - Obras de Arte


A arte não deve ser vista apenas como uma construção estética, mas também como um importante símbolo que serve para representar movimentos, posicionamentos, contar histórias e, principalmente, nos fazer reflectir.

O desafio que apresento AQUI consiste em identificar 100 obras de arte que considero essenciais em qualquer manual de História da Arte…

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Benjamin Clementine – I Tell A Fly



Quando, em 2014, At Least For Now começou a ouvir-se, não era previsível que Benjamin Clementine se tornasse um fenómeno de popularidade. Cantor negro britânico votado à vagabundagem desde os 16 anos, como um Jean-Michel Basquiat musical, parecia não encaixar nos parâmetros atuais da indústria, mais abertos ao hip-hop que à memória de Nina Simone. Clementine incorporava essa herança em canções com ecos de perda e dos anos de rua. O novo disco não é uma sequela. Clementine está mais desperto politicamente e, simultaneamente, mais aberto ao vocabulário pop. Uma faixa como «God Save the Jungle» lembra o Tom Waits mais lúgubre, mas aqui e ali o dramatismo recua, dando lugar a melodias quase corais como as de «By the Ports of Europe» ou «Ave Dreamer», ainda que seja nesta que repete que «The Barbarians are coming». Como o anterior, é um disco agridoce e teatral que nunca nos deixa perceber antecipadamente de onde vem a próxima ameaça.

domingo, 17 de novembro de 2019

Teoria de Robert Stiglitz

 

Curiosa teoria económica anunciada nos Estados Unidos. O tipo chama-se Robert Stiglitz. É analista e empresário. Em Junho de 2008, quando a Administração Bush estudava o lançamento de um projeto de ajuda à economia americana, este economista escrevia na sua crónica mensal um comentário com muito humor:

“O Governo Federal está a estudar conceder a cada um de nós a soma de 600,00$. Se gastamos esse dinheiro no Walt-Mart, esse dinheiro vai para a China. Se gastamos o dinheiro em gasolina, vai para os árabes. Se compramos um computador o dinheiro vai para a Índia. Se compramos frutas, irá para o México, Honduras ou Guatemala. Se compramos um bom carro, o dinheiro irá para a Alemanha ou Japão. Se compramos bagatelas, vai para Taiwan, e nem um centavo desse dinheiro ajudará a economia norte-americana. O único meio de manter esse dinheiro nos E.U.A. é gastando-o com p**** ou cerveja, considerando que são os únicos bens realmente produzidos aqui. Eu já estou a fazer a minha parte...”.



Resposta de um economista PORTUGUÊS igualmente de bom humor:

“Estimado Robert,
Realmente a situação dos americanos é cada vez pior. Lamento, no entanto, informá-lo que a cervejeira Budweiser foi recentemente comprada pela brasileira AB InBev. Portanto, ficam somente as p****. Agora, se elas (as p****), decidirem mandar o seu dinheiro para os seus filhos, ele virá diretamente para a Assembleia da República de Portugal, aqui em Lisboa, onde existe a maior concentração de filhos da p*** do mundo”.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Sons de Outono

 
1. Michael Stipe - Your Capricious Soul
2. The National - Hey Rosey
3. NF - Time
4. July Talk - Push + Pull
5. Vampire Weekend - Harmony Hall
6. Joy Oladokun - Sunday
7. Barns Courtney - Glitter & Gold
8. Cigarettes After Sex - Sweet
9. Haim - Summer Girl
10. Isak Danielson - Power
11. The Big Moon - Your Light
12. Of Monsters And Men - Wild Roses
13. Pixies - On Graveyard Hill
14. Meg Myers - Desire
15. Devendra Banhart - Kantori Ongaku
16. Julia Jacklin - Don't Know How To Keep Loving You
17. The Killers (Ft. Wild Light & Mariachi El Bronx) - Happy Birthday Guadalupe
18. Health - Slaves Of Fear
19. Crumb - Nina
20. G Flip - Bring Me Home


terça-feira, 1 de outubro de 2019

Anna Burns - Milkman


Protagonizado por uma jovem de 18 anos, “Milkman”, a obra vencedora do Man Booker Prize de 2018, é uma “história de brutalidade, resistência e invasão sexual, tecida com um humor mordaz”, e embora nada seja declarado abertamente, situa-se nos anos 1970, na Irlanda do Norte, durante o conflito conhecido como “The Troubles”. Assim, para compreender esta história é fundamental recordarmos em que consistiu aquela disputa:

- de um lado, os lealistas (nacionalistas) - a maioria protestante que defende a manutenção dos laços políticos com a vizinha ilha da Grã-Bretanha, igualmente protestante, e a consequente manutenção da Irlanda do Norte no seio do Reino Unido;

- do outro lado, os integracionistas (unionistas) - a minoria católica que advoga a integração da “província” na República da Irlanda, predominantemente católica, com quem partilha o território da ilha. Exigem também a igualdade religiosa, nomeadamente a não discriminação da minoria católica no acesso a cargos públicos ou empregos.

Os católicos sentem-se, pois, uma minoria marginalizada, com direitos diminuídos face à maioria protestante. E isso alimenta um compreensível mas perigoso sentimento de revolta. Foi nesse contexto que entrou em cena o grupo paramilitar católico IRA (Irish Republican Army – Exército Republicano Irlandês). Lutou pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, defendendo a anexação à República da Irlanda recorrendo a métodos terroristas, incluindo ataques bombistas e emboscadas com armas de fogo contra alvos protestantes – de políticos unionistas (protestantes) a representantes do governo britânico.

Escrito de uma forma muito original, “Milkman” descreve a relação entre aquela jovem - que não tem nome, ninguém no livro tem nome, todos são referidos por relações, funções ou características, incluindo todos os locais (países e cidades) - e um homem mais velho, que a assedia sexualmente – o famigerado “leiteiro” anunciado no título –, o que leva ao surgimento de um rumor, rapidamente espalhado pela cidade, de que os dois têm um caso. O boato destrói, insidioso, as relações da narradora.

A jovem é referida como a irmã do meio, e fala da família da mesma forma: a mãe, a primeira irmã, a segunda irmã, a terceira irmã, as irmãs pequenas, o primeiro cunhado, o terceiro irmão, etc. Além disso, outros personagens que são importantes na narrativa também são chamados assim, como o namorado “mais ou menos”, a amiga “há mais tempo”, o rapaz da guerra nuclear e o Coiso e Tal. Vive sempre com medo e desconfiança num bairro assinalado como sendo absolutamente anti-governo e onde todos os moradores (mesmo os que não pertencem às “milícias”) são vigiados, fotografados, investigados, apanhados, levados para se tornarem informadores dos “do lado de lá”; onde todas as famílias (incluindo a dela) têm medo (até de ir ao hospital) e perderam pessoas que puseram bombas, ou estavam no sítio errado à hora errada, ou andam fugidas.

Burns conduz-nos pelos pensamentos de uma jovem que se recusa a aceitar o que parece obrigatório e que não pensa em casar-se nem em constituir família. E isso faz dela uma suspeita. Desta forma, esta obra evidencia de forma brilhante o poder da maledicência e a pressão social numa comunidade muito fechada, e demonstra como os boatos e as lealdades políticas podem ser colocados ao serviço de uma persistente campanha de assédio sexual.

A linguagem divertida e inventiva da narradora (que adora ler enquanto caminha por gostar de viver noutros séculos que a literatura lhe oferece) e as travessuras das irmãs mais novas compensam a dureza do ambiente, de uma violência latente, que não nos deixa espaço nem para respirar. Denso e sedutor, torrencial e arrebatador, "Milkman" é o grande romance sobre o desconhecido porque o leitor não sabe quem é o leiteiro, não sabe o que vai acontecer à “Irmã do Meio” e muito menos sabe sobre o fim das hostilidades militares nesta cidade não nomeada.


 

O confronto entre protestantes e católicos provocou uma violência extrema durante cerca de 30 anos e foi marcado pela manifestação de 30 de Janeiro de 1972, em Londonderry, conhecida como “Bloody Sunday” (morreram 14 manifestantes católicos, com tiros provenientes de soldados ingleses); pelos atentados entre 1972 e 1998, em Guildford, Woolwich e Birmingham, executados pelo IRA e pela morte de Louis Mountbatten, primo da rainha Elisabeth II, em 1979. Finalmente, no dia 10 de Abril de 1998 foi assinado o Acordo de Belfast (ou Acordo da Sexta-Feira Santa) que terminou com “The Troubles” e estabeleceu as bases para um governo de poder partilhado entre católicos e protestantes.

No cinema abundam obras que abordam estas décadas de conflitos e que ajudam a compreendê-los (para informação adicional clicar no nome do filme):

1. Bloody Sunday (“Domingo Sangrento”), 2002, de Paul Greengrass (sobre a tal manifestação de domingo, 30 de janeiro de 1972);

2. In the Name of the Father (“Em Nome do Pai”), 1993, de Jim Sheridan (sobre o atentado no pub de Guilford em 1974 e com o desempenho fantástico de Daniel Day-Lewis);

3. The Boxer (“O Boxeur”), 1997, de Jim Sheridan (que aqui volta a trabalhar com Daniel Day-Lewis);

4. The Devil's Own (“Perigo Íntimo”), de 1997, de Alan J. Pakula (sobre a fuga do líder do IRA Francis McGuire para Nova Iorque e que conta no elenco com Brad Pitt e Harrison Ford);

5. Michael Collins, 1996, de Neil Jordan (baseado na vida do revolucionário irlandês Michael Collins);

6. Hunger (“Fome”), 2008, de Steve McQueen (decorre em 1981, ano em que um grupo de irlandeses do IRA, liderados por Bobby Sands, iniciaram uma greve de fome na prisão);

7. Some Mother's Son (“Em Nome do Filho…”), 1996, de Terry George (luta de duas mães, sendo uma delas a mãe de Bobby Sands, pela vida dos seus filhos);

8. Shadow Dancer (“Dança das Sombras”), 2013, de James Marsh (na Belfast dos anos 90, uma mulher, membro ativo do IRA, é forçada a tornar-se informadora do MI5 para proteger o filho);

9. Fifty Dead Men Walking (“Na Senda dos Condenados”), 2008, de Kari Skogland (baseado na história real de Martin McGartland, um jovem de Belfast que é recrutado pela polícia para se infiltrar no IRA);

10. The Crying Game (“Jogo de Lágrimas”), 1992, de Neil Jordan (explora temas como o terrorismo na Irlanda, transexualidade e racismo);

11. The Wind that Shakes the Barley (“Brisa de Mudança”), 2006, de Ken Loach (sobre a independência da Irlanda, nos anos 20 do século passado, os primeiros passos do IRA e o acordo que levou à criação da Irlanda do Norte e à criação do estado irlandês);

12. Five Minutes Of Heaven (“Cinco Minutos de Paz”), 2009, de Oliver Hirschbiegel (um membro de um grupo paramilitar protestante mata um católico e 33 anos tarde há um reencontro: um procura a redenção o outro só pensa em vingança);

13. '71, 2014, de Yann Demange (imersão expressionista nas ruas de Belfast de inícios dos anos 70, quando o conflito entre protestantes unionistas e católicos independentistas está ao rubro);

14. Hidden Agenda (“Agenda Secreta”), 1990, de Ken Loach (passado na violenta Belfast dos anos 1980 destacando-se o terrorismo praticado por grupos como o IRA, mas também a resposta que lhe é dada, à margem da lei, pelas forças de segurança britânicas);

15. In America (“Na América”), 2002, de Jim Sheridan (sobre a vida de uma família irlandesa que emigra para Nova Iorque);

16. Odd Man Out (“A Casa Cercada”), 1947, de Carol Reed (história de um membro ativo do IRA que foge da prisão e decide roubar um banco para ajudar a causa);

17. Mickybo and Me, 2004, de Terry Loane (sobre a amizade entre dois meninos de 8 anos, um de uma família protestante e outro de uma família católica e juntos tornam-se grandes admiradores de famosos bandidos do faroeste);

18. A Prayer For The Dying (“Os Guerrilheiros da Sombra”), 1987, de Mike Hodges (um ex-activista deixa o IRA depois de uma crise de consciência que o leva a questionar os ideais pelos quais lutou durante toda a sua vida);

19. Cal (“Tempo de Guerra”), 1984, de Pat O'Connor (um jovem membro do IRA vive um romance com uma mulher católica que viu o seu marido, um polícia protestante, ser morto pela organização terrorista um ano antes de se conhecerem);

20. An Everlasting Piece, 2000, de Barry Levinson (comédia passada em Belfast, nos anos 80, onde um católico e um protestante, ambos barbeiros, tornam-se parceiros de negócios e começam a vender perucas com bastante sucesso).



Na televisão estreou recentemente a série Derry Girls passada na Irlanda da mesma época, uma comédia leve, que tem um tom completamente diferente de “Milkman”.

Dia Mundial da Música

domingo, 1 de setembro de 2019

Sándor Márai – As Velas Ardem até ao Fim


(releitura)

Este é um livro triste mas profundamente poético. Um verdadeiro tratado sobre a amizade, como afirmou Inês Pedrosa. A prosa de Márai é construída sobre um discurso tranquilo, melódico, profundo. Sem dúvida uma escrita sentida e sofrida. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, num velho castelo da Hungria, um antigo general de 73 anos, Henrik, espera Konrad para com ele ter uma última conversa. Konrad havia sido mais que o seu melhor amigo. Tinha sido um autêntico irmão até ao momento em que, 41 anos antes, algo dramático os separou. Um grande e terrível segredo ia agora ser enfrentado pelos dois. Todo o valor da sua intensa amizade e todo o significado do intenso amor por Krisztina seriam agora sopesados nesta derradeira batalha que os dois enfrentarão.

A tragédia de Henrik levara-o ao imobilismo; uma inação que é uma espécie de morte em vida. Essa espera, esse nada-fazer, essa morte voluntária, talvez seja a tragédia maior para o ser humano. É uma recusa total da vida, como se depois da tragédia nada mais valesse a pena. Talvez a razão maior da infelicidade humana seja esta incapacidade em prosseguir os caminhos da vida quando não se consegue compreender e aceitar aquilo a que, comodamente, chamamos destino; esta incapacidade para encarar o presente, sem deixarmos que ele se sobreponha aos desaires do passado. E depois fica a procura da culpa; a busca tão inútil quanto irresistível da culpa. E é a vida que fica, inexoravelmente, para trás.

Henrik interrompeu a sua vida aos 32 anos e esperou mais 41 para terminar esse julgamento; e, no final, não culpou Konrad nem Krisztina; culpou o destino. Quarenta e um anos depois, Henrik procura apenas lavar a verdade com palavras; com a catarse da memória. Perante Konrad, resta-lhe enfrentar a memória. Mas nada apagará 41 anos de solidão, que é uma espécie de morte.

sábado, 10 de agosto de 2019

sábado, 3 de agosto de 2019

Leituras do Mês


- Margaret Atwood - O Assassino Cego
- Nuno Galopim - Afonso VI - O Indesejado
- Nick Hornby - Era Uma Vez Um Rapaz
- Olivier Guez - O Desaparecimento De Josef Mengele

terça-feira, 23 de abril de 2019

segunda-feira, 25 de março de 2019

Sons da Primavera


1. Placebo - Too Many Friends
2. Girl In Red - We Fell In Love In October
3. The Raconteurs - Now That You're Gone
4. Karen O And Danger Mouse - Woman
5. Island - The Day I Die
6. Pale Honey - Why Do I Always Feel This Way
7. Hey Juniore - En Cavale
8. Sofia Bolt - Get Out Of My Head
9. Hollow Coves - The Woods
10. Black Honey - Crowded City
11. Hailee Steinfeld & Grey (Ft. Zedd) - Starving
12. Sam Fender - Play God
13. Delerium (Ft. Emily Haines) - Glimmer
14. Calvin Harris (Ft. Florence Welch) - Sweet Nothing
15. Isak Danielson (Ft. Ane Brun) - Run To You
16. Weyes Blood - Everyday
17. Teeth & Tongue - There Is A Light That Never Goes Out
18. Lykke Li - Utopia
19. The XX - Missing
20. Peaky Blinders - Wonderful Life


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Remind Me Tomorrow - Sharon Van Etten


O ano ainda está no início e provavelmente está encontrado um dos melhores discos do ano: “Remind Me Tomorrow” de Sharon Van Etten.

Antes deste novo álbum, Sharon editou cinco discos, entre 2009 e 2015, álbuns essencialmente de ruptura amorosa e de coração despedaçado. Após 2015 a sua vida mudou muito: fim de relações, início de outras, um filho, digressões, pausas, representação (na série “The AO” e num episódio de “Twin Peaks”) e um curso de psicologia. Foram tempos de descoberta e mudança. Quando regressou ao estúdio, decidiu experimentar e fez um disco menos óbvio, que exige mais atenção da parte de quem o ouve. É um disco honesto e ambicioso. É um corpo coeso, mas tem uns quantos pontos chave que fazem a diferença:

Seventeen”. É uma grande canção. Enorme. Enorme canção. Dá para tudo. Para dançar e para pensar na vida. Para nos lembrarmos de quando tínhamos 17 anos ou para chegarmos à conclusão de que não fizemos nada de jeito quando tínhamos 17 anos. E por isso canta “I wish I could show you how much you’ve grown”. Tem um piano nos acordes menores certos para chorar, é nervosa, é ansiosa, é tranquila, mas um bocado a fingir. E tem um momento em que Sharon Van Etten perde a noção dos limites da sua voz e deita tudo para fora de uma forma absolutamente arrepiante. Já o fez ao vivo, está em vídeo e é de ver, rever, repetir e repetir outra vez.

Comeback Kid”. O primeiro single ideal. Perfeito para atirar uma de “então pensavam que já tinham visto tudo o que eu tinha para dar?”. Um misto de tanta coisa, esta cantiga. Dancing para o século XXI que gosta de bailar como faziam algumas das estrelas pop dos anos 80, mais místicas, mais góticas, o que quiserem chamar-lhe. Batida deliciosa, belo momento de inspiração.

Jupiter 4”. É uma canção de amor, é um agradecimento por um amor em particular, pelo amor em geral. É um desejo de amor para o mundo todo, o mundo que a quiser ouvir. E é tudo isto sobre um formato maquinal e robótico, a música é fria, quase gélida, é o amor a acontecer num ambiente digital onde não há calor em lado nenhum. Mas é a mesma canção em que Sharon canta “a love so real”. Repete a frase quatro vezes no final do tema. Estas contradições ficam-lhe tão bem. É que ficam mesmo. E esta “Jupiter 4” (que é o nome de um modelo de sintetizador da marca Roland) é de uma beleza tremenda. Sharon, cantas isto tão bem, pá. Tão bem.

I Told You Everything”. É um delicioso filme miserável. Duas pessoas num bar numa conversa difícil. Duas pessoas que têm coisas tramadas para discutir. Não sabemos qual é o tema, não sabemos o que aconteceu antes daquele momento e não sabemos como termina. Mas essa ausência de respostas torna a canção muito mais nervosa, há muito mais ansiedade naquelas poucas notas que por ali andam, meio a flutuar, meio presas ao chão. É uma forma muito densa e dramática de começar um disco, mas é uma forma perfeita de o fazer. E sabemos que uma canção é boa quando a ouvimos e ao mesmo tempo vemos as respectivas personagens à nossa frente, sem a ajuda de álcool ou de qualquer outro amigo da imaginação colorida.

Remind Me Tomorrow” é um belíssimo caos organizado onde Sharon Van Etten persegue, agora a todo o vapor, algumas das emoções mais sombrias, mas propulsivas que sempre se vislumbraram nos limites da sua música.

sábado, 19 de janeiro de 2019

Howard Jacobson – A Questão Finkler




Este é um livro surpreendente, divertido, magnífico. Hooward Jacobson pratica a arte de brincar com coisas sérias.

Julian Treslove era um homem vulgar que não conseguia imaginar uma solidão maior que a sua. Sonhava poder ser ao menos um viúvo; ao menos poder ter tido uma mulher nos braços. Julian era um homem só. Algo faltava na sua vida, sem que ele o pudesse identificar. Julian Treslove invejava Finkler; ele era Finkler e ao mesmo tempo um finkler - um judeu. Era inteligente e imponente.

Houve uma época em que Finkler, professor de filosofia, escreveu quatro livros de autoajuda e ficou rico. Finkler tornou-se mais que um finkler. Treslove queria ser como ele mas não o podia revelar, nem sequer admitir.

A partir daqui, Jacobson constrói um enredo em que o riso esconde uma reflexão poderosa sobre a identidade judaica. Nunca tão bem se escreveu uma comédia sobre coisas muito sérias. O autor coloca-nos um sorriso nos lábios ao mesmo tempo que nos faz encarar de frente o Holocausto (“lá vamos nós outra vez!”), a faixa de Gaza e, acima de tudo, a angústia de ser judeu, com todas as contradições que a história foi construindo em torno deste povo.

De espírito melancólico, Treslove, na sua juventude, apaixonou-se por novelas românticas e ópera. Não aprendeu música porque não tinha ninguém para quem tocar.

O segundo amigo de Julian é Libor, um judeu de 90 anos que havia sido seu professor. Libor tivera uma vida feliz como marido e como judeu. Mas acabará a sua vida desiludido. Quase envergonhado.

Um dia uma mulher assaltou Treslove e chamou-lhe judeu. Ou pareceu-lhe ter ouvido tal insulto. Isto mudará a sua vida. A partir daí Julian reconstruirá a sua personalidade; ele havia de ser um judeu. Havia de aprender iídiche e haveria de casar com uma judia bem gorda – muita mulher judia. Antes disso haveria de ter um caso com a mulher de Finkler que ele julgava judia. Por um lado, era a esposa do amigo que invejava (“ele estava a pedi-las”) por outro lado, era uma judia e ele estava sedento de judaísmo.

Mas é com Hephzibah, uma imponente mulher judia, uma personagem fortíssima, sobrinha-bisneta de Libor que ele veio a casar e a realizar-se, pelo menos provisoriamente. Hep era uma mulher rechonchuda – a primeira mulher saudável da vida de Julian.

Finkler, crítico mordaz do sionismo se bem que nunca prescindindo dos seus objetivos individuais, torna-se um judeu envergonhado. Pode ser-se isso sem ter vergonha de si próprio? Esta é, talvez a questão fulcral deste livro: a sua identidade como judeu e a identidade do povo judeu. Como conciliar o ser individual com o grupo ao qual ele está umbilicalmente ligado? Os judeus são vítimas da história. Mas… e a Faixa de Gaza? E os colonatos? A desunião é cada vez mais visível. Os críticos do sionismo são os envergonhados. No entanto, nem eles deixam de ser vítimas do anti-semitismo. Por outro lado, de certa forma, também eles são anti-semitas. É este mundo confuso, esta miscelânea de interesses e angústias que povoa a vida de Libor, Finkler e Treslove.

O efeito humorístico desta situação deriva, em grande parte do facto de Treslove ser uma espécie de retrato invertido de Finkler: ele é o gentio que quer ser judeu, que é atraído por uma certa melancolia própria da alma judaica e Finker é o judeu envergonhado, que procura no sucesso individual um certo triunfo sobre a realidade histórica em que está envolvido. Ambos lutam contra a sua própria identidade. Quando, finalmente, Treslove se torna judeu, encontra a angústia e a desgraça…

sábado, 5 de janeiro de 2019

Linha de Apoio ao Cliente


A experiência de ligar para uma linha de apoio está a tornar-se cada vez pior. Na última vez que liguei para um Hospital Privado demorei vários minutos até finalmente falar com alguém.
Publicidade, promoções, Já Sabia Que…?, etc. Diga sim, se é o assunto certo; caso contrário, mantenha-se em silêncio e escolha uma das seguintes opções:

1 – quer ouvir uma ladainha sobre os nossos espectaculares serviços e promoções?
2 – quer perder 15 minutos a falar com a assistente que, apesar da simpatia, nada poderá fazer porque a culpa é do sistema?
3 – quer esperar 45 minutos a ouvir “Master Of Puppets” dos Metallica em versão “pan pipes” e depois falar com outra assistente que, apesar da simpatia não conseguirá resolver nada e vai passar a chamada que nunca será feita porque a ligação vai cair?

Obrigado por ter ligado para a nossa linha de apoio. Clique. SMS – A chamada que fez não está incluída na sua mensalidade, por isso toca a desembolsar mais uns euros. É um prazer estar aqui para cobrar, perdão, para servi-lo.

E já conhecem o novo voice mail das escolas? Para escutá-lo é só carregar AQUI