1. Anna Burns – Milkman
2. Svetlana Aleksievitch – O Fim Do Homem Soviético
3. Michel Houellebecq – Submissão
4. António Lobo Antunes – Cartas da Guerra
5. Margaret Atwood – O Assassino Cego
6. Mons Kallentoft & Markus Lutteman – Leão
7. David Lagercrantz – O Homem Que Perseguia A Sua Sombra
8. André Canhoto Costa – Os Vícios Dos Escritores
9. Jaime Bulhosa – Pedra De Afiar Livros
10. Ali Smith – Primavera
11. Tom Clancy – O Cardeal Do Kremlin
12. Carlos Poças Falcão – Arte Nenhuma
A época que atravessamos é apropriada para a elaboração de balanços. E o resultado é de um saudável ecletismo; não por um desejo irreprimível de “ir a todas” mas pela simples constatação de que cada vez faz menos sentido espartilhar a música produzida por estes dias.
As listas de melhores discos do ano valem o que valem. Quero dizer, podem constituir um guia generoso e prático onde estão escarrapachados os discos mais marcantes do ano que passou, mas nunca devem ser lidas como se se tratassem das Sagradas Escrituras.
- Nick Cave and the Bad Seeds - Ghosteen
- Sharon Van Etten - Remind Me Tomorrow
- Fontaines D.C. - Dogrel
- Angel Olsen - All Mirrors
- Purple Mountains - Purple Mountains
- Vampire Weekend - Father of the Bride
- Lana Del Rey - Norman Fucking Rockwell
- The National - I Am Easy to Find
- FKA Twigs - Magdalene
- Billie Eilish - When We All Fall Asleep, Where Do We Go?
- Michael Kiwanuka - Kiwanuka
- Slipknot - We Are Not Your Kind
- Tool - Fear Inoculum
- Weyes Blood - Titanic Rising
- Thom Yorke - Anima
- Foals - Everything Not Saved Will Be Lost (Part 1)
- Cigarettes After Sex - Cry
- Swans - Leaving Meaning
- Ex:Re - Ex:Re
- Tindersticks - No Treasure But Hope
“Chernobyl” é uma minissérie épica da HBO em cinco partes que dramatiza os
acontecimentos do acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, ocorrido a 26 de
abril de 1986, que dispersou uma nuvem radioativa pela Europa, contado pelas
histórias das pessoas que fizeram sacrifícios incríveis para salvar a Europa de
um desastre inimaginável.
Trata-se de um quadro implacável do pior acidente da história nuclear civil
e reproduz o ambiente na antiga URSS, que tentou ocultar o incidente durante
várias semanas, antes de resolver evacuar a zona, ainda inabitável mais de 30
anos depois.
O personagem principal é o diretor adjunto do maior centro de pesquisas da
URSS. A série concentra-se no heroísmo das personagens comuns, mas os altos
dirigentes soviéticos, começando pelo líder da época Mikhail Gorbachev, são
retratados como sendo carentes de valores e mentirosos.
Assistir à série é ficar com um nó na garganta do início ao fim, não só
porque temos a sensação de estarmos diante de algo nunca antes visto em
televisão, como também porque nos relembramos que a história contada foi
inspirada em factos verídicos. Por vezes até parece que estamos a apanhar com a
radiação…
As consequências de Chernobyl foram catastróficas, entre várias mortes,
deformações humanas e o completo abandono da cidade de Pripyat, na Ucrânia,
perto de Chernobyl, atualmente uma cidade fantasma. As partículas radioativas
continuam presentes no local, e quem visita a zona sem permissão é condenado a
pena de prisão.
O vídeo de apresentação do tema “Life Is Golden” incluído no álbum
de 2018 da banda britânica Suede, The Blue Hour, foi totalmente filmado
em Pripyat.
A arte não deve ser vista apenas como uma construção estética, mas também como um importante símbolo que serve para representar movimentos, posicionamentos, contar histórias e, principalmente, nos fazer reflectir.
O desafio que apresento AQUI consiste em identificar 100 obras de arte que considero essenciais em qualquer manual de História da Arte…
Quando, em 2014, At Least For Now começou a ouvir-se, não era previsível que Benjamin Clementine se tornasse um fenómeno de popularidade. Cantor negro britânico votado à vagabundagem desde os 16 anos, como um Jean-Michel Basquiat musical, parecia não encaixar nos parâmetros atuais da indústria, mais abertos ao hip-hop que à memória de Nina Simone. Clementine incorporava essa herança em canções com ecos de perda e dos anos de rua. O novo disco não é uma sequela. Clementine está mais desperto politicamente e, simultaneamente, mais aberto ao vocabulário pop. Uma faixa como «God Save the Jungle» lembra o Tom Waits mais lúgubre, mas aqui e ali o dramatismo recua, dando lugar a melodias quase corais como as de «By the Ports of Europe» ou «Ave Dreamer», ainda que seja nesta que repete que «The Barbarians are coming». Como o anterior, é um disco agridoce e teatral que nunca nos deixa perceber antecipadamente de onde vem a próxima ameaça.
Curiosa teoria económica anunciada nos Estados Unidos. O tipo chama-se Robert Stiglitz. É analista e empresário. Em Junho de 2008, quando a Administração Bush estudava o lançamento de um projeto de ajuda à economia americana, este economista escrevia na sua crónica mensal um comentário com muito humor:
“O Governo Federal está a estudar conceder a cada um de nós a soma de 600,00$. Se gastamos esse dinheiro no Walt-Mart, esse dinheiro vai para a China. Se gastamos o dinheiro em gasolina, vai para os árabes. Se compramos um computador o dinheiro vai para a Índia. Se compramos frutas, irá para o México, Honduras ou Guatemala. Se compramos um bom carro, o dinheiro irá para a Alemanha ou Japão. Se compramos bagatelas, vai para Taiwan, e nem um centavo desse dinheiro ajudará a economia norte-americana. O único meio de manter esse dinheiro nos E.U.A. é gastando-o com p**** ou cerveja, considerando que são os únicos bens realmente produzidos aqui. Eu já estou a fazer a minha parte...”.
Resposta de um economista PORTUGUÊS igualmente de bom humor:
“Estimado Robert, Realmente a situação dos americanos é cada vez pior. Lamento, no entanto, informá-lo que a cervejeira Budweiser foi recentemente comprada pela brasileira AB InBev. Portanto, ficam somente as p****. Agora, se elas (as p****), decidirem mandar o seu dinheiro para os seus filhos, ele virá diretamente para a Assembleia da República de Portugal, aqui em Lisboa, onde existe a maior concentração de filhos da p*** do mundo”.
Protagonizado por uma jovem de 18 anos, “Milkman”, a obra vencedora do Man Booker Prize de 2018, é uma “história de brutalidade, resistência e invasão sexual, tecida com um humor mordaz”, e embora nada seja declarado abertamente, situa-se nos anos 1970, na Irlanda do Norte, durante o conflito conhecido como “The Troubles”. Assim, para compreender esta história é fundamental recordarmos em que consistiu aquela disputa:
- de um lado, os lealistas (nacionalistas) - a maioria protestante que defende a manutenção dos laços políticos com a vizinha ilha da Grã-Bretanha, igualmente protestante, e a consequente manutenção da Irlanda do Norte no seio do Reino Unido;
- do outro lado, os integracionistas (unionistas) - a minoria católica que advoga a integração da “província” na República da Irlanda, predominantemente católica, com quem partilha o território da ilha. Exigem também a igualdade religiosa, nomeadamente a não discriminação da minoria católica no acesso a cargos públicos ou empregos.
Os católicos sentem-se, pois, uma minoria marginalizada, com direitos diminuídos face à maioria protestante. E isso alimenta um compreensível mas perigoso sentimento de revolta. Foi nesse contexto que entrou em cena o grupo paramilitar católico IRA (Irish Republican Army – Exército Republicano Irlandês). Lutou pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, defendendo a anexação à República da Irlanda recorrendo a métodos terroristas, incluindo ataques bombistas e emboscadas com armas de fogo contra alvos protestantes – de políticos unionistas (protestantes) a representantes do governo britânico.
Escrito de uma forma muito original, “Milkman” descreve a relação entre aquela jovem - que não tem nome, ninguém no livro tem nome, todos são referidos por relações, funções ou características, incluindo todos os locais (países e cidades) - e um homem mais velho, que a assedia sexualmente – o famigerado “leiteiro” anunciado no título –, o que leva ao surgimento de um rumor, rapidamente espalhado pela cidade, de que os dois têm um caso. O boato destrói, insidioso, as relações da narradora.
A jovem é referida como a irmã do meio, e fala da família da mesma forma: a mãe, a primeira irmã, a segunda irmã, a terceira irmã, as irmãs pequenas, o primeiro cunhado, o terceiro irmão, etc. Além disso, outros personagens que são importantes na narrativa também são chamados assim, como o namorado “mais ou menos”, a amiga “há mais tempo”, o rapaz da guerra nuclear e o Coiso e Tal. Vive sempre com medo e desconfiança num bairro assinalado como sendo absolutamente anti-governo e onde todos os moradores (mesmo os que não pertencem às “milícias”) são vigiados, fotografados, investigados, apanhados, levados para se tornarem informadores dos “do lado de lá”; onde todas as famílias (incluindo a dela) têm medo (até de ir ao hospital) e perderam pessoas que puseram bombas, ou estavam no sítio errado à hora errada, ou andam fugidas.
Burns conduz-nos pelos pensamentos de uma jovem que se recusa a aceitar o que parece obrigatório e que não pensa em casar-se nem em constituir família. E isso faz dela uma suspeita. Desta forma, esta obra evidencia de forma brilhante o poder da maledicência e a pressão social numa comunidade muito fechada, e demonstra como os boatos e as lealdades políticas podem ser colocados ao serviço de uma persistente campanha de assédio sexual.
A linguagem divertida e inventiva da narradora (que adora ler enquanto caminha por gostar de viver noutros séculos que a literatura lhe oferece) e as travessuras das irmãs mais novas compensam a dureza do ambiente, de uma violência latente, que não nos deixa espaço nem para respirar. Denso e sedutor, torrencial e arrebatador, "Milkman" é o grande romance sobre o desconhecido porque o leitor não sabe quem é o leiteiro, não sabe o que vai acontecer à “Irmã do Meio” e muito menos sabe sobre o fim das hostilidades militares nesta cidade não nomeada.
O confronto entre protestantes e católicos provocou uma violência extrema durante cerca de 30 anos e foi marcado pela manifestação de 30 de Janeiro de 1972, em Londonderry, conhecida como “Bloody Sunday” (morreram 14 manifestantes católicos, com tiros provenientes de soldados ingleses); pelos atentados entre 1972 e 1998, em Guildford, Woolwich e Birmingham, executados pelo IRA e pela morte de Louis Mountbatten, primo da rainha Elisabeth II, em 1979. Finalmente, no dia 10 de Abril de 1998 foi assinado o Acordo de Belfast (ou Acordo da Sexta-Feira Santa) que terminou com “The Troubles” e estabeleceu as bases para um governo de poder partilhado entre católicos e protestantes.
No cinema abundam obras que abordam estas décadas de conflitos e que ajudam a compreendê-los (para informação adicional clicar no nome do filme):
1. Bloody Sunday (“Domingo Sangrento”), 2002, de Paul Greengrass (sobre a tal manifestação de domingo, 30 de janeiro de 1972);
2. In the Name of the Father (“Em Nome do Pai”), 1993, de Jim Sheridan (sobre o atentado no pub de Guilford em 1974 e com o desempenho fantástico de Daniel Day-Lewis);
3. The Boxer (“O Boxeur”), 1997, de Jim Sheridan (que aqui volta a trabalhar com Daniel Day-Lewis);
4. The Devil's Own (“Perigo Íntimo”), de 1997, de Alan J. Pakula (sobre a fuga do líder do IRA Francis McGuire para Nova Iorque e que conta no elenco com Brad Pitt e Harrison Ford);
5. Michael Collins, 1996, de Neil Jordan (baseado na vida do revolucionário irlandês Michael Collins);
6. Hunger (“Fome”), 2008, de Steve McQueen (decorre em 1981, ano em que um grupo de irlandeses do IRA, liderados por Bobby Sands, iniciaram uma greve de fome na prisão);
7. Some Mother's Son (“Em Nome do Filho…”), 1996, de Terry George (luta de duas mães, sendo uma delas a mãe de Bobby Sands, pela vida dos seus filhos);
8. Shadow Dancer (“Dança das Sombras”), 2013, de James Marsh (na Belfast dos anos 90, uma mulher, membro ativo do IRA, é forçada a tornar-se informadora do MI5 para proteger o filho);
9. Fifty Dead Men Walking (“Na Senda dos Condenados”), 2008, de Kari Skogland (baseado na história real de Martin McGartland, um jovem de Belfast que é recrutado pela polícia para se infiltrar no IRA);
10. The Crying Game (“Jogo de Lágrimas”), 1992, de Neil Jordan (explora temas como o terrorismo na Irlanda, transexualidade e racismo);
11. The Wind that Shakes the Barley (“Brisa de Mudança”), 2006, de Ken Loach (sobre a independência da Irlanda, nos anos 20 do século passado, os primeiros passos do IRA e o acordo que levou à criação da Irlanda do Norte e à criação do estado irlandês);
12. Five Minutes Of Heaven (“Cinco Minutos de Paz”), 2009, de Oliver Hirschbiegel (um membro de um grupo paramilitar protestante mata um católico e 33 anos tarde há um reencontro: um procura a redenção o outro só pensa em vingança);
13. '71, 2014, de Yann Demange (imersão expressionista nas ruas de Belfast de inícios dos anos 70, quando o conflito entre protestantes unionistas e católicos independentistas está ao rubro);
14. Hidden Agenda (“Agenda Secreta”), 1990, de Ken Loach (passado na violenta Belfast dos anos 1980 destacando-se o terrorismo praticado por grupos como o IRA, mas também a resposta que lhe é dada, à margem da lei, pelas forças de segurança britânicas);
15. In America (“Na América”), 2002, de Jim Sheridan (sobre a vida de uma família irlandesa que emigra para Nova Iorque);
16. Odd Man Out (“A Casa Cercada”), 1947, de Carol Reed (história de um membro ativo do IRA que foge da prisão e decide roubar um banco para ajudar a causa);
17. Mickybo and Me, 2004, de Terry Loane (sobre a amizade entre dois meninos de 8 anos, um de uma família protestante e outro de uma família católica e juntos tornam-se grandes admiradores de famosos bandidos do faroeste);
18. A Prayer For The Dying (“Os Guerrilheiros da Sombra”), 1987, de Mike Hodges (um ex-activista deixa o IRA depois de uma crise de consciência que o leva a questionar os ideais pelos quais lutou durante toda a sua vida);
19. Cal (“Tempo de Guerra”), 1984, de Pat O'Connor (um jovem membro do IRA vive um romance com uma mulher católica que viu o seu marido, um polícia protestante, ser morto pela organização terrorista um ano antes de se conhecerem);
20. An Everlasting Piece, 2000, de Barry Levinson (comédia passada em Belfast, nos anos 80, onde um católico e um protestante, ambos barbeiros, tornam-se parceiros de negócios e começam a vender perucas com bastante sucesso).
Na televisão estreou recentemente a série Derry Girls passada na Irlanda da mesma época, uma comédia leve, que tem um tom completamente diferente de “Milkman”.
Este é um livro triste mas profundamente poético. Um verdadeiro tratado sobre a amizade, como afirmou Inês Pedrosa. A prosa de Márai é construída sobre um discurso tranquilo, melódico, profundo. Sem dúvida uma escrita sentida e sofrida.
Durante a Segunda Guerra Mundial, num velho castelo da Hungria, um antigo general de 73 anos, Henrik, espera Konrad para com ele ter uma última conversa. Konrad havia sido mais que o seu melhor amigo. Tinha sido um autêntico irmão até ao momento em que, 41 anos antes, algo dramático os separou. Um grande e terrível segredo ia agora ser enfrentado pelos dois. Todo o valor da sua intensa amizade e todo o significado do intenso amor por Krisztina seriam agora sopesados nesta derradeira batalha que os dois enfrentarão.
A tragédia de Henrik levara-o ao imobilismo; uma inação que é uma espécie de morte em vida. Essa espera, esse nada-fazer, essa morte voluntária, talvez seja a tragédia maior para o ser humano. É uma recusa total da vida, como se depois da tragédia nada mais valesse a pena. Talvez a razão maior da infelicidade humana seja esta incapacidade em prosseguir os caminhos da vida quando não se consegue compreender e aceitar aquilo a que, comodamente, chamamos destino; esta incapacidade para encarar o presente, sem deixarmos que ele se sobreponha aos desaires do passado. E depois fica a procura da culpa; a busca tão inútil quanto irresistível da culpa. E é a vida que fica, inexoravelmente, para trás.
Henrik interrompeu a sua vida aos 32 anos e esperou mais 41 para terminar esse julgamento; e, no final, não culpou Konrad nem Krisztina; culpou o destino. Quarenta e um anos depois, Henrik procura apenas lavar a verdade com palavras; com a catarse da memória. Perante Konrad, resta-lhe enfrentar a memória. Mas nada apagará 41 anos de solidão, que é uma espécie de morte.
- Margaret Atwood - O Assassino Cego
- Nuno Galopim - Afonso VI - O Indesejado
- Nick Hornby - Era Uma Vez Um Rapaz
- Olivier Guez - O Desaparecimento De Josef Mengele
Ensinarás a cantar,
Mas não cantarão a tua canção.
Ensinarás a pensar,
Mas não pensarão como tu.
Porém saberás que cada vez que voarem,
Sonharem, viverem, cantarem e pensarem
Estará lá a semente do caminho ensinado e aprendido!"
Madre Teresa de Calcutá
Ao fim de dois anos de trabalho
intenso, espero ter contribuído para que todos sejam um pouco mais conscientes
do mundo que os aguarda. Não se esqueçam que as dificuldades são como as
montanhas, pois só se aplainam quando avançamos sobre elas.
É o convívio com alunos assim que
faz desta profissão de Professor algo de maravilhoso e único.
Desejo a todos as maiores
felicidades e que o futuro vos sorria.
O ano ainda está no início e provavelmente está encontrado um dos melhores discos do ano: “Remind Me Tomorrow” de Sharon Van Etten.
Antes deste novo álbum, Sharon editou cinco discos, entre 2009 e 2015, álbuns essencialmente de ruptura amorosa e de coração despedaçado. Após 2015 a sua vida mudou muito: fim de relações, início de outras, um filho, digressões, pausas, representação (na série “The AO” e num episódio de “Twin Peaks”) e um curso de psicologia. Foram tempos de descoberta e mudança. Quando regressou ao estúdio, decidiu experimentar e fez um disco menos óbvio, que exige mais atenção da parte de quem o ouve. É um disco honesto e ambicioso. É um corpo coeso, mas tem uns quantos pontos chave que fazem a diferença:
“Seventeen”. É uma grande canção. Enorme. Enorme canção. Dá para tudo. Para dançar e para pensar na vida. Para nos lembrarmos de quando tínhamos 17 anos ou para chegarmos à conclusão de que não fizemos nada de jeito quando tínhamos 17 anos. E por isso canta “I wish I could show you how much you’ve grown”. Tem um piano nos acordes menores certos para chorar, é nervosa, é ansiosa, é tranquila, mas um bocado a fingir. E tem um momento em que Sharon Van Etten perde a noção dos limites da sua voz e deita tudo para fora de uma forma absolutamente arrepiante. Já o fez ao vivo, está em vídeo e é de ver, rever, repetir e repetir outra vez.
“Comeback Kid”. O primeiro single ideal. Perfeito para atirar uma de “então pensavam que já tinham visto tudo o que eu tinha para dar?”. Um misto de tanta coisa, esta cantiga. Dancing para o século XXI que gosta de bailar como faziam algumas das estrelas pop dos anos 80, mais místicas, mais góticas, o que quiserem chamar-lhe. Batida deliciosa, belo momento de inspiração.
“Jupiter 4”. É uma canção de amor, é um agradecimento por um amor em particular, pelo amor em geral. É um desejo de amor para o mundo todo, o mundo que a quiser ouvir. E é tudo isto sobre um formato maquinal e robótico, a música é fria, quase gélida, é o amor a acontecer num ambiente digital onde não há calor em lado nenhum. Mas é a mesma canção em que Sharon canta “a love so real”. Repete a frase quatro vezes no final do tema. Estas contradições ficam-lhe tão bem. É que ficam mesmo. E esta “Jupiter 4” (que é o nome de um modelo de sintetizador da marca Roland) é de uma beleza tremenda. Sharon, cantas isto tão bem, pá. Tão bem.
“I Told You Everything”. É um delicioso filme miserável. Duas pessoas num bar numa conversa difícil. Duas pessoas que têm coisas tramadas para discutir. Não sabemos qual é o tema, não sabemos o que aconteceu antes daquele momento e não sabemos como termina. Mas essa ausência de respostas torna a canção muito mais nervosa, há muito mais ansiedade naquelas poucas notas que por ali andam, meio a flutuar, meio presas ao chão. É uma forma muito densa e dramática de começar um disco, mas é uma forma perfeita de o fazer. E sabemos que uma canção é boa quando a ouvimos e ao mesmo tempo vemos as respectivas personagens à nossa frente, sem a ajuda de álcool ou de qualquer outro amigo da imaginação colorida.
“Remind Me Tomorrow” é um belíssimo caos organizado onde Sharon Van Etten persegue, agora a todo o vapor, algumas das emoções mais sombrias, mas propulsivas que sempre se vislumbraram nos limites da sua música.
Este é um livro surpreendente, divertido, magnífico. Hooward Jacobson pratica a arte de brincar com coisas sérias.
Julian Treslove era um homem vulgar que não conseguia imaginar uma solidão maior que a sua. Sonhava poder ser ao menos um viúvo; ao menos poder ter tido uma mulher nos braços. Julian era um homem só. Algo faltava na sua vida, sem que ele o pudesse identificar. Julian Treslove invejava Finkler; ele era Finkler e ao mesmo tempo um finkler - um judeu. Era inteligente e imponente.
Houve uma época em que Finkler, professor de filosofia, escreveu quatro livros de autoajuda e ficou rico. Finkler tornou-se mais que um finkler. Treslove queria ser como ele mas não o podia revelar, nem sequer admitir.
A partir daqui, Jacobson constrói um enredo em que o riso esconde uma reflexão poderosa sobre a identidade judaica. Nunca tão bem se escreveu uma comédia sobre coisas muito sérias. O autor coloca-nos um sorriso nos lábios ao mesmo tempo que nos faz encarar de frente o Holocausto (“lá vamos nós outra vez!”), a faixa de Gaza e, acima de tudo, a angústia de ser judeu, com todas as contradições que a história foi construindo em torno deste povo.
De espírito melancólico, Treslove, na sua juventude, apaixonou-se por novelas românticas e ópera. Não aprendeu música porque não tinha ninguém para quem tocar.
O segundo amigo de Julian é Libor, um judeu de 90 anos que havia sido seu professor. Libor tivera uma vida feliz como marido e como judeu. Mas acabará a sua vida desiludido. Quase envergonhado.
Um dia uma mulher assaltou Treslove e chamou-lhe judeu. Ou pareceu-lhe ter ouvido tal insulto. Isto mudará a sua vida. A partir daí Julian reconstruirá a sua personalidade; ele havia de ser um judeu. Havia de aprender iídiche e haveria de casar com uma judia bem gorda – muita mulher judia. Antes disso haveria de ter um caso com a mulher de Finkler que ele julgava judia. Por um lado, era a esposa do amigo que invejava (“ele estava a pedi-las”) por outro lado, era uma judia e ele estava sedento de judaísmo.
Mas é com Hephzibah, uma imponente mulher judia, uma personagem fortíssima, sobrinha-bisneta de Libor que ele veio a casar e a realizar-se, pelo menos provisoriamente. Hep era uma mulher rechonchuda – a primeira mulher saudável da vida de Julian.
Finkler, crítico mordaz do sionismo se bem que nunca prescindindo dos seus objetivos individuais, torna-se um judeu envergonhado. Pode ser-se isso sem ter vergonha de si próprio? Esta é, talvez a questão fulcral deste livro: a sua identidade como judeu e a identidade do povo judeu. Como conciliar o ser individual com o grupo ao qual ele está umbilicalmente ligado? Os judeus são vítimas da história. Mas… e a Faixa de Gaza? E os colonatos? A desunião é cada vez mais visível. Os críticos do sionismo são os envergonhados. No entanto, nem eles deixam de ser vítimas do anti-semitismo. Por outro lado, de certa forma, também eles são anti-semitas. É este mundo confuso, esta miscelânea de interesses e angústias que povoa a vida de Libor, Finkler e Treslove.
O efeito humorístico desta situação deriva, em grande parte do facto de Treslove ser uma espécie de retrato invertido de Finkler: ele é o gentio que quer ser judeu, que é atraído por uma certa melancolia própria da alma judaica e Finker é o judeu envergonhado, que procura no sucesso individual um certo triunfo sobre a realidade histórica em que está envolvido. Ambos lutam contra a sua própria identidade. Quando, finalmente, Treslove se torna judeu, encontra a angústia e a desgraça…
A experiência de ligar para uma linha de apoio está a tornar-se cada vez pior. Na última vez que liguei para um Hospital Privado demorei vários minutos até finalmente falar com alguém.
Publicidade, promoções, Já Sabia Que…?, etc. Diga sim, se é o assunto certo; caso contrário, mantenha-se em silêncio e escolha uma das seguintes opções:
1 – quer ouvir uma ladainha sobre os nossos espectaculares serviços e promoções?
2 – quer perder 15 minutos a falar com a assistente que, apesar da simpatia, nada poderá fazer porque a culpa é do sistema?
3 – quer esperar 45 minutos a ouvir “Master Of Puppets” dos Metallica em versão “pan pipes” e depois falar com outra assistente que, apesar da simpatia não conseguirá resolver nada e vai passar a chamada que nunca será feita porque a ligação vai cair?
Obrigado por ter ligado para a nossa linha de apoio. Clique. SMS – A chamada que fez não está incluída na sua mensalidade, por isso toca a desembolsar mais uns euros. É um prazer estar aqui para cobrar, perdão, para servi-lo.
E já conhecem o novo voice mail das escolas? Para escutá-lo é só carregar AQUI…