Há filmes e séries que só queremos ver uma vez. Aliás, há grandes filmes e séries que só queremos ver uma vez. O que separa estas obras da generalidade das criaturas audiovisuais é quase sempre o facto de equivalerem a pesadelos e fotografarem o pior da humanidade, expondo feridas e partilhando traumas.
As próximas linhas são dedicadas aos apaixonados por histórias negras que revelam as mentes perigosas e intrincadas de assassinos. São séries exigentes do ponto de vista emocional mas excelentes!
When They See Us
Baseada na história real de cinco adolescentes negros conhecidos como Central Park Five, a série segue a história de como o grupo de Harlem foi acusado injustamente de violação. A primeira parte da série passa-se num ambiente de 1989, quando foram questionados pela primeira vez sobre o assédio de uma atleta caucasiana no famoso parque de Nova Iorque. A seguir, quatro dos jovens são enviados para um centro de correcção, mas um deles, por já ter 16 anos, é enviado para uma prisão.
A série tem cerca de 5 horas e está dividida em 4 partes. A quarta parte é brutal e é dedicada quase na íntegra à tragédia de Korey Wise (Jharrel Jerome tem um desempenho soberbo) – que em 1989 se deslocou à esquadra apenas para acompanhar um amigo e acabou como o único elemento dos Five julgado como adulto, passando 12 anos da sua vida entre 3 prisões diferentes a tentar sobreviver. Além de Jharrel Jerome também há actuações brilhantes por parte de Felicity Huffman e Vera Farmiga.
É uma reflexão sobre justiça, sobre o medo e sobre abuso de poder. É terapia de choque e formação cívica. Recorda um conjunto de rapazes no lugar errado à hora errada e é a série certa no momento certo, como seriam todos os momentos para relatar uma história assim.
Manhunt: Unabomber
Esta série conta a terrível (e intrigante) história real sobre o terrorista Ted Kaczynski, que ficou conhecido como “Unabomber” por enviar bombas através do correio para as suas vítimas. Entre o final dos anos 1970 e a década de 1990 feriu 23 pessoas e matou outras três.
Manhunt: Unabomber é uma série a duas velocidades. Os últimos meses de caça ao homem, por um lado, mostrando como o FBI procurava um homem ignorante e depois encetou uma busca por um intelecto refinado, capaz de redigir o famoso manifesto enviado ao New York Times. Essa é a primeira mecha da narrativa, que avança, alternando, dois anos para o momento em que é preciso bater o homicida no seu próprio jogo - fazê-lo confessar, evitando que use o palco mediático para pregar à sociedade que considera ser povoada por carneiros dependentes das máquinas.
Com Paul Bettany como o Unabomber e Chris Noth como o agente do FBI que lidera a investigação, a série é protagonizada por Sam Worthington como Jim “Fitz” Fitzgerald, um profiler incorruptível e pioneiro.
Ted Kaczynski matava pelo correio, enviando encomendas armadilhadas. Conseguiu escapar às autoridades durante duas décadas. Visto como um eremita louco, a série inclina o prisma para ver as origens da mente criminosa, mas também a sua sofisticação.
American Crime Story – The Assassination Of Gianni Versace
No dia 15 de Julho de 1997, o estilista Gianni Versace foi assassinado com dois tiros na nuca à porta de sua casa, em Miami. Versace tinha 50 anos. O criminoso, identificado logo no primeiro episódio, Andrew Cunanan, é um serial killer homossexual de 27 anos, que vivia à custa de homens mais velhos e ricos.
A série tem nove episódios. Começa com a morte de Versace e depois anda para trás e para a frente no tempo, ora mostrando como era a vida de Cunanan e outros dos seus crimes, antes de ter morto o estilista, ora centrando-se na caça ao homem pela polícia de Miami.
Édgar Ramirez interpreta Gianni Versace, Ricky Martin personifica o seu namorado, Anthony D’Amico, Darren Criss dá corpo a Andrew Cunanan e Penélope Cruz é Donatella Versace, a irmã do estilista.
Mindhunter - Season 1
Mindhunter é uma série inspirada na obra "Mind Hunter: Inside The FBI's Elite Serial Crime Unit" de John E. Douglas e Mark Olshaker, agentes do FBI, onde narram as suas pesquisas na área de psicologia criminal. Os seus estudos incluem, em grande parte, entrevistar assassinos em série famosos, em busca de razões para as suas acções, tentando desta forma, nos anos 70, expandir as fronteiras da ciência criminal com um perigoso mergulho no universo da psicologia do assassinato.
Apanhar assassinos em série requer astúcia e assim entrevistar assassinos para perceber o que os move é o mote desta série criada por Joe Penhall e dirigida por David Fincher, entre outros realizadores. Baseada numa história verídica, com assassinos de que já ouvimos falar, Mindhunter centra-se nos agentes Holden Ford (Jonathan Groff) e Bill Tench (Holt McCallany), da Unidade de Ciência Comportamental do FBI, juntamente com a psicóloga Wendy Carr (Anna Torv).
Na 2ª temporada o foco vai para a investigação de homicídios de crianças ocorridos entre 1979 e 1981, em Atlanta, Geórgia, nos EUA.
Uma série negra e tensa, sem nunca ser demasiado explícita.
Atravessamos um momento de profunda angústia face a uma realidade que poucos pensavam possível. A pandemia do Covid-19 está a afetar de forma profunda a nossa sociedade e terá consequências a longo prazo.
Embora acredite que será possível, num prazo razoável, encontrar uma vacina que poderá impedir a generalização da infeção, até lá os efeitos continuarão a sentir-se. Situações como a de Itália, com o fecho de todo um país, poderão repetir-se noutros países, com consequências profundas no tecido social e económico.
Aparentemente em Portugal, um país de brandos costumes, está a existir alguma dificuldade na perceção real do problema, não se assistindo, de forma generalizada, à adoção dos comportamentos de prevenção adequados.
Notícias a que temos assistido, como o não cumprimento do isolamento social por parte de algumas pessoas, são de uma enorme irresponsabilidade e dificultam, eventualmente de forma definitiva, os esforços de contenção da disseminação da infeção.
Ainda ontem foi noticiado que algumas praias da zona de Lisboa estavam cheias de banhistas e na marginal de Esposende ou da Póvoa de Varzim, ou ainda no Santuário do Sameiro, verificaram-se situações de aglomeração de cidadãos.
Este tipo de comportamento tem de terminar. Deve ser preocupação de todos cumprir e exigir o cumprimento das medidas de prevenção, contribuindo para a consciencialização da sociedade para a dimensão do problema que enfrentamos e para o fim da pandemia.
Quando se assistia a uma recuperação económica generalizada, após uma crise profunda iniciada em 2008, esta pandemia, conjugada com a guerra do petróleo entre a OPEP e a Rússia, constitui a tempestade perfeita que poderá e deverá originar uma nova crise financeira. E, com o crescimento das tendências nacionalistas, a reconfiguração das cadeias de produção, a subida ao poder de personalidades com reduzidas capacidades de enfrentar os problemas, podemos estar a assistir a uma reconfiguração do Mundo a que estamos habituados, com consequências imprevisíveis e possíveis retrocessos civilizacionais.
Esperemos que os políticos que nos governam estejam, desta vez, à altura do desafio.