segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Roger Federer - O Ídolo Que Mudou O Desporto


Roger Federer, um dos desportistas mais icónicos dos primeiros 20 anos deste século e seguramente o que mais extravasou a esfera da história do ténis, pendurou as raquetes na Laver Cup no passado fim de semana.

O lendário tenista suíço despede-se dos courts com 310 semanas no topo do ranking, 20 títulos de Grand Slam, duas medalhas olímpicas, 103 títulos de singulares e 1251 vitórias em encontros individuais. E agora? O que será do ténis sem ele?


sábado, 24 de setembro de 2022

Good Luck To You, Leo Grande




"Boa Sorte, Leo Grande", filme da realizadora australiana Sophie Hyde e da argumentista e atriz britânica Katy Brand, oferece-nos um olhar íntimo sobre a sexualidade. Emma Thompson desempenha o papel principal (o que só por si já seria suficiente para ver o filme), de uma professora de Religião e Moral reformada, viúva e insatisfeita, que não tendo tido outro parceiro sexual na sua vida para além do marido (conservador e pouco preocupado com o prazer feminino), decide contratar um trabalhador do sexo que dá pelo nome de Leo Grande (Daryl McCormack). Leo é uma pessoa agradável e segura de si, e embora nem sempre diga a verdade, Nancy descobre que gosta dele e consegue efetivamente estabelecer uma relação íntima. O jovem que lhe entra no quarto de hotel acaba por ir contra os seus mais profundos preconceitos e a sua história de vida fá-la repensar a sua própria relação com os filhos.

Com diálogos magistrais e uma forte componente dramática, introspectiva e até humorística, "Boa Sorte, Leo Grande" é um filme que fala sobre desconstrução. Sobre como é libertador desfazermos os rígidos condicionamentos culturais, morais e patriarcais que nos apertam e reduzem. Como pode ser transformador olharmos ao espelho, despidos dos filtros de sempre, e olhar para o outro com as lentes limpas (de medo, de vergonha e de culpa). Como pode ser revolucionário que uma mulher madura se sinta no direito de sentir desejo, prazer e vontade de o dizer em voz alta. E como é surpreendente isso ser tão novo no cinema.




Esta comédia intimista dramática de exceção entra para a minha lista de filmes preferidos que decorrem num único cenário (neste caso um quarto de hotel e apenas dois atores) e que nem por isso deixam de ser excelentes. Os outros filmes que constam dessa lista e o respetivo cenário único são:

- Rear Window – Janela Indiscreta (1954) – apartamento;

- Carnage - O Deus da Carnificina (2011) – sala de jantar;

- Amour – Amor (2012) – apartamento;

- Locke (2013) – carro;

- Phone Booth (2002) – cabine telefónica;

- 12 Angry Men – Doze Homens em Fúria (1957) – sala de um tribunal;

- Den skyldige (2018) – central de chamadas de emergência;

- Buried – Enterrado (2010) – interior de um caixão;

- My Dinner with Andre (1981) – restaurante.

- The Desperate Hour (2021) – sessão de jogging.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Delia Owens - Lá, Onde O Vento Chora


- Bom, nesse caso, o melhor será escondermo-nos bem longe, onde o vento chora. (…)

– Onde o vento chora? O que queres dizer com isso? – A mãe costumava dizer isso. – Kya recordava-se que a mãe estava sempre a encorajá-la a explorar o pantanal. – Vai tão longe quanto puderes, até onde ouvires o vento chorar.

– Significa bem longe, no mato, onde ainda há criaturas selvagens e estas ainda se portam como tal.
” (Página 120)


A narrativa retrata a história de Kya, nascida em 1945, uma menina que vive com os pais e os quatro irmãos num pântano. Aos seis anos a mãe abandona a casa, devido à violência do pai, e a partir daí a vida dela muda para sempre. Os restantes irmãos também acabam por fugir deixando-a sozinha com o pai. Este, vinha para casa às horas que lhe apetecia, geralmente bêbedo, seguido de períodos em que desaparecia durante dias. Kya tem que crescer à força, principalmente após o dia em que o pai também desaparece. Para sobreviver a pequena vende peixe, mexilhões e outras coisas para conseguir ter o que comer. Os anos passam, Kya é posta de parte pelos habitantes do vilarejo, Barkley Cove (Carolina do Norte), que a consideram um bicho do mato, uma selvagem a quem chamam a “miúda do pântano” e aos 24 anos é acusada de matar um jovem com quem teve uma relação íntima.

Os principais intervenientes nesta história são: o casal Saltos (Jumpin', no original) e Mabel, também vítimas do preconceito racial dos habitantes da vila, proprietários da loja onde Kya consegue algum proveito com as vendas que faz; Tate, o primeiro amor de Kya, que a ensina a ler e Chase Andrews, o tal jovem que apareceu morto, desportista, por quem sente mais tarde atração. Entre amores e desamores, aproximações e desilusões, Kya vai aprendendo a desconfiar até da ideia do amor romântico, acreditando que o pântano e o mundo natural (onde “o mar era tenor e as gaivotas soprano” – página 40) é a sua única e mais pura salvação.

O livro tem muito drama, intenso em sensações, pouca ação, que flutua entre o presente e o passado, mas muito bem escrito, de forma fluída e ritmada, envolvendo-nos nas descrições da natureza (fruto da experiência de Delia Owens enquanto zoóloga e cientista da vida selvagem, em África), do sofrimento e intensa solidão, do racismo (na década de 60 a discriminação com base na cor era ainda uma triste e dura realidade nos E.U.A.), da violência doméstica e alcoolismo do pai. Mostra como a personagem Kya, mesmo tendo uma vida agridoce, viu a sua sorte mudar, conseguindo superar obstáculos e sobrevivendo contra todas as expectativas, tornando-se (irrealisticamente) uma autora de renome ao publicar vários livros de Biologia. Para mim, o final da história foi bastante previsível. De lamentar o número escandaloso de erros gramaticais do livro o que é vergonhoso para a tradutora e para a editora.


 

O filme que adaptou a obra para o cinema estreou em Portugal em setembro. Olivia Newman realiza o drama, com Daisy Edgar-Jones, David Strathairn e Taylor John Smith nos principais papéis. A longa metragem é bastante fiel à obra original, alterando apenas a forma como se descobre o autor do crime…

quinta-feira, 1 de setembro de 2022