quarta-feira, 8 de março de 2023

Ice Merchants


Este ano, pela primeira vez, um filme de produção portuguesa foi candidato aos Oscars, mais precisamente o de melhor curta-metragem de animação.

Intitula-se “Ice Merchants” (“Negociantes de Gelo”), tem 14 minutos e foi realizado por João Gonzalez, cineasta do Porto.

O resumo é fácil de fazer: um homem e o seu filho vivem num pequeno chalé pendurado na parede de uma imponente montanha. Lá, fabricam gelo que vendem numa vila a alguma distância do sopé da elevação. Para servirem os clientes, voam literalmente ao seu encontro. 

Filme assente em pormenores, em pequenos gestos estranhos porque pouco habituais, pois nada sabemos do ofício de negociar gelo, começa por estranhar pelo absurdo de alguém que sobrevive vendendo gelo a quem vive perto de uma montanha coberta de neve...

Limitado nos tons cromáticos em que assenta, utilizados para diferenciar os dois centros da ação, mas também para simbolizar a união do pai e da mãe (ausente?, mas nem sempre...), “Ice Merchants” no minimalismo da sua conceção, na vertigem da sua narrativa com os mergulhos sem rede para o abismo, e no inesperado do seu tom, desconcerta pelo círculo vicioso, qual pescadinha de rabo na boca, que move e condiciona os mercadores.

Termina, de forma trágica, mais impactante dado o humor ligeiro que perpassa por todo ele e na cena final, com uma mensagem ecológica que alerta para a responsabilidade individual de cada um... porque – e quem assistir entenderá – para nós não haverá um paraquedas suplente nem uma almofada que nos ampare a queda.


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