terça-feira, 15 de junho de 2021

David Owen - Na Doença e no Poder



No seu livro de 503 páginas sobre as doenças dos grandes estadistas do século passado, “Na Doença e no Poder – Os Problemas de Saúde dos Grandes Estadistas nos Últimos 100 Anos”, David Owen (neurologista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico) considera que o que motivou a decisão de invadir o Iraque, tomada por George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar durante a célebre cimeira dos Açores em 2003, não foi a existência de armas de destruição maciça, nem a ambição de controlar o petróleo iraquiano mas sim um transtorno comum entre os políticos no poder, a síndrome de Hubris.

Esta síndrome, não reconhecida pela Medicina, equivaleria a uma “embriaguez de poder” caracterizada pela perda do sentido da realidade, soberba, presunção, persistência perversa em políticas que não funcionam e desrespeito pelos conselhos daqueles que os rodeiam. Os “pacientes” quando as decisões se revelam erradas, nunca reconhecem o equívoco e continuam convencidos que tomaram a decisão certa.

A sua dimensão é catastrófica quando se manifesta num pequeno grupo, fechado sobre si próprio, que desconsidera as pessoas e as instituições que promovem ideias contrárias, rejeitando-as e excluindo-as do seu núcleo decisor.

O exemplo do Iraque é o mais recente, mas ao longo da obra são apresentados muitos outros “doentes” afetados pela mesma síndrome como, por exemplo, Neville Chamberlain (primeiro ministro britânico entre 1937 e 1940, Adolf Hitler, François Mitterrand, Mao Tse-Tung, John F. Kennedy e até Margaret Thatcher nos seus últimos anos no poder. Todos eles foram atingidos por este transtorno psicológico. Aliás, Owen reconhece que também ele, no início da sua carreira política, deixou que o poder lhe subisse à cabeça - foi o mais novo ministro inglês dos Negócios Estrangeiros - embora sem nunca chegar aos extremos de alguns líderes históricos.

O fenómeno foi batizado com o nome da palavra grega “Hubris” que designava o herói que, uma vez alcançada a glória, deixava-se embriagar pelo êxito e comportava-se como um Deus capaz de tudo. Em consequência, começava a acumular erros, encontrando a sua Némesis, que o devolvia à realidade.  Não há tradução exata para a palavra Hubris que sintetiza o significado de outras: “arrogância”, “desprezo”, “superioridade”, “excesso de confiança” ou até alguma coisa semelhante a “autismo”, perda do sentido da realidade.


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