No seu livro de 503 páginas sobre as doenças dos grandes estadistas do
século passado, “Na Doença e no Poder – Os Problemas de Saúde dos Grandes
Estadistas nos Últimos 100 Anos”, David Owen (neurologista e ex-ministro dos
Negócios Estrangeiros Britânico) considera que o que motivou a decisão de
invadir o Iraque, tomada por George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar
durante a célebre cimeira dos Açores em 2003, não foi a existência de armas de
destruição maciça, nem a ambição de controlar o petróleo iraquiano mas sim um
transtorno comum entre os políticos no poder, a síndrome de Hubris.
Esta síndrome, não reconhecida pela Medicina, equivaleria a uma “embriaguez
de poder” caracterizada pela perda do sentido da realidade, soberba, presunção,
persistência perversa em políticas que não funcionam e desrespeito pelos
conselhos daqueles que os rodeiam. Os “pacientes” quando as decisões se revelam
erradas, nunca reconhecem o equívoco e continuam convencidos que tomaram a
decisão certa.
A sua dimensão é catastrófica quando se manifesta num pequeno grupo,
fechado sobre si próprio, que desconsidera as pessoas e as instituições que
promovem ideias contrárias, rejeitando-as e excluindo-as do seu núcleo decisor.
O exemplo do Iraque é o mais recente, mas ao longo da obra são apresentados
muitos outros “doentes” afetados pela mesma síndrome como, por exemplo, Neville
Chamberlain (primeiro ministro britânico entre 1937 e 1940, Adolf Hitler,
François Mitterrand, Mao Tse-Tung, John F. Kennedy e até Margaret Thatcher nos
seus últimos anos no poder. Todos eles foram atingidos por este transtorno
psicológico. Aliás, Owen reconhece que também ele, no início da sua carreira
política, deixou que o poder lhe subisse à cabeça - foi o mais novo ministro
inglês dos Negócios Estrangeiros - embora sem nunca chegar aos extremos de
alguns líderes históricos.
O fenómeno foi batizado com o nome da palavra grega “Hubris” que designava
o herói que, uma vez alcançada a glória, deixava-se embriagar pelo êxito e
comportava-se como um Deus capaz de tudo. Em consequência, começava a acumular
erros, encontrando a sua Némesis, que o devolvia à realidade. Não há tradução exata para a palavra Hubris
que sintetiza o significado de outras: “arrogância”, “desprezo”,
“superioridade”, “excesso de confiança” ou até alguma coisa semelhante a
“autismo”, perda do sentido da realidade.
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