Manoel de Oliveira (1908-2015), cineasta
- Bir Zamanlar Anadolu'da (Era Uma Vez na Anatólia), de Nuri Bilge Ceylan – Turquia (2011)
História policial sobre a reconstrução de um crime. Desenvolve-se desde o pôr do Sol ao meio dia seguinte. Os personagens, polícias, guardas, chefe da polícia, procurador, médico e suspeitos, à exceção do regedor da aldeia, podiam, com pequenas diferenças ser portugueses. É um filme sobre a morte e o seu impacto nos vivos.
A partir das suas habituais experimentações formais e estudos filosóficos, Nuri Bilge Ceylan construiu uma lancinante exploração sobre a moralidade humana onde os diálogos são explícitos ao ponto de serem literários, e onde a paisagem noturna rasgada pelas luzes dos automóveis policiais contém tanta importância conceptual como o mais complexo monólogo (e há bastantes neste filme).
- Les Innocentes (Agnus Dei – As Inocentes), de Anne Fontaine – França, Polónia (2016)
Filme passado num convento logo após o final da Segunda Guerra Mundial. É sobre um tema delicado, cheio de nervos sensíveis e propício a derrapagens facilmente melodramáticas ou a tropeções de simplismos piedosos. Fontaine mostra a complexidade emocional, ética, psicológica e espiritual da situação das protagonistas, e as suas perplexidades, tensões, angústias e interrogações, da descrente e materialista médica, confrontada com o mundo e os valores das religiosas. O “happy ending”, talvez com açúcar em demasia, em nada colide com a profundidade e o dramatismo desta terrível história, contada com a segurança e a sensibilidade exigida por algo tão frágil.
- Oslo, 31. August (Oslo, 31 de Agosto), de Joachim Trier – Noruega (2011)
Filme belíssimo, que nos interroga sobre o que nos faz viver e o que nos faz desistir de viver. Sobre como é invisível a linha que nos faz sentir «em cima» ou «sentir em baixo».
A história de um dia na vida de um homem perdido que quer cometer suicídio parece ser a receita perfeita para uma obra de puro miserabilismo à boa moda do cinema europeu. Mas Joachim Trier não é um realizador qualquer e dessa premissa limitada, o cineasta norueguês faz um filme que funciona muito mais como uma celebração da experiência da vida humana do que como uma marcha fúnebre.
- Timbuktu, de Abderrahmane Sissako – Mauritânia (2014)
Timbuktu é cidade Património Mundial da UNESCO desde 1988. De pequena povoação perdida no deserto do Saara, o lugar transformou-se, ao longo dos séculos, em capital intelectual e espiritual de África, um oásis no deserto que foi despertando a atenção do mundo. Em 2012, a cidade é ocupada por um grupo islâmico liderado por Iyad Ag Ghaly. O medo e a incerteza apoderam-se daquele lugar. Por ordem dos fundamentalistas religiosos, a música, o riso, os cigarros e o futebol são banidos. As mulheres são obrigadas a usar véu e a mostrar submissão total. A cada dia surgem novas leis para serem cumpridas e a vida de cada um dos habitantes vai sendo modificada tragicamente.
Na conjuntura atual, um filme sobre uma comunidade africana a enfrentar a opressão de invasores que impõe leis fundamentalistas islâmicas é uma preciosidade a ser considerada com admiração e respeito. Quando essa obra é, para além da sua importante temática, uma magnífica construção de cinema elegante, solene e esteticamente belíssimo, então temos um verdadeiro triunfo que deve ser visto por todos.
- La Teta Asustada (A Teta Assustada), de Claudia Llosa – Peru (2009)
O filme inicia-se com uma cantiga inocente num testemunho de traumas e horrores que rompem pela escuridão da tela como um pesadelo do qual é impossível acordar. Começar um filme desta forma é arriscado e é um verdadeiro testamento à ousadia da cineasta peruana. É graças ao seu trabalho que um conto meio melodramático, sobre uma jovem que está “doente” devido à sua mãe ter sido violada durante os conflitos que assolaram o país nos anos 80, é representado com um bizarro, mas fascinante, estilo entre o realismo social e o artifício simbólico.
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