O ano foi rico em diversidade de estreias nas plataformas de streaming, do sci-fi à espionagem, das fraudes à fantasia. Com interpretações de luxo, argumentos de peso e histórias mirabolantes, estas são as séries que mais gostei de ver em 2022.
- The Bear – O título desta minissérie é a alcunha dada a Carmen Berzatto, um chef Michelin que se vê na posição de gerir a loja de sandes do irmão, depois de este falecer. É uma série caótica mas viciante, decorre numa atmosfera eletrizante, ao som de “New Noise” dos Refused, tem um elenco brilhante e capta o caos frenético que se apodera da cozinha de um restaurante durante o serviço. Os 8 (curtos) episódios devem ser degustados de enfiada…
- Pachinko – Baseada no bestseller de Min Jin Lee e adaptada por um filho de imigrantes coreanos, em “Pachinko” (uma máquina de flippers à japonesa, que aqui funciona como metáfora para a vida, ela própria uma espécie de montanha-russa diária), o espetador perde-se na belíssima fotografia deste retrato emocional e expressivo da história de todos os coreanos que foram afetados pela colonização japonesa da Coreia no séc. XX.
- Severance – Nesta espécie de comédia bizarra, tenta-se responder essencialmente a uma questão (que depois se desmultiplica): e se conseguíssemos separar a nossa vida pessoal da profissional através de consciências distintas? Independentemente dos motivos, se a tecnologia permitir separar o nosso “eu” pessoal do “eu” do trabalho, será que o fazíamos? Será que conseguíamos simplesmente esquecer oito horas do nosso dia? E, a ser possível, seria sequer ético? Onde é que encaixa aqui o nosso livre-arbítrio?
- The White Lotus (Season 2) – Depois de uma temporada inagural de sucesso, a segunda temporada repete a base satírica mas mudam os ingredientes. A exceção é Jennifer Coolidge, que volta a dar vida a Tanya McQuoid. Neste novo “White Lotus”, as personagens desembarcam na Sicília, num ambiente distópico que sufoca as suas relações interpessoais. Conduzido por um brilhantismo de autor, desta vez o enredo assenta na toxicidade e sexualidade. No desfecho, tudo corre bem porque tudo corre mal.
- Wednesday – Série com gostinho especial pelo macabro e sobrenatural, spin-off da “The Addams Family”, realizada por Tim Burton e por isso ideal para os fãs da estética sombria. Jenny Ortega interpreta a protagonista da história, Wednesday, alérgica a cor e de olhar intimidante, quase desconcertante, que é expulsa da escola e enviada para onde os pais estudaram e se apaixonaram. É lá que aprende a lidar com as suas visões e é educada para ser independente e corajosa mas acaba por ser obrigada a investigar um crime e ser confrontada com algo que abomina: a amizade e o amor.
Momento impressionate da temporada: a dança de Wednesday ao som de “Goo Goo Muck”, dos Cramps, no baile do liceu. Aliás, toda a banda sonora é simplesmente arrepiante. Wednesday é um ás no violoncello e toca, por exemplo, “Winter” de Vivaldi, e uma versão da “Paint It Black”, dos Rolling Stones.
- Bad Sisters – É uma comédia negra sobre as irmãs Garvey. Desde muito cedo, as cinco irmãs tornaram-se inseparáveis devido à morte prematura dos pais. No entanto, quando uma deles, Grace, é vítima de violência doméstica pelo marido, as irmãs decidem resolver o problema com as próprias mãos, levando a consequências desastrosas.
- Inventing Anna – Aqui retrata-se a história verídica de Anna Sorokin (papel desempenhado na perfeição por Julia Garner), uma cidadã russa que, entre 2013 e 2017, se fez passar por uma rica herdeira nos E.U.A., enganando e vigarizando pessoas, bancos, hotéis e outras instituições, até ser finalmente presa (mas libertada no dia 5 de outubro de 2022, precisamente na semana em que vi esta minissérie).
- The Old Man – Um ex-agente reformado da CIA, Dan Chase (Jeff Bridges) a tentar ter uma vida tranquila até que um dia sofre uma tentativa de homicídio e percebe que está a ser caçado. Assim é obrigado a procurar um esconderijo para se proteger daqueles que o querem matar e encontra-o na casa de Zoe McDonald (Amy Brenneman), uma mulher com um passado misterioso e juntos procuram à verdade sobre a caça a Chase.
- MO – É um divertido e comovente retrato da vida de um refugiado palestino nos EUA. Série criada por Mo Amer e Ramy Youssef (de outra excelente série, “Ramy”) e por isso autobiográfica: acompanha Mo e a sua família, refugiados do Iraque durante a Guerra do Golfo, no início dos anos 90, em busca da obtenção da cidadania americana.
- Hacks (Season 2) – Série hilariante sobre uma comediante lendária de Las Vegas, pioneira mas ultrapassada, Deborah Vance (Jean Smart). A história explora a relação de mentoria que Deborah estabelece com Ava Daniels (Hannah Einbinder), uma jovem escritora de comédia. Nesta segunda temporada, Deborah, no crepúsculo da sua carreira, decide retornar às suas raízes e fazer espetáculos itinerantes pelos E.U.A.
- Heartstopper – A novela gráfica passa para o pequeno ecrã, a história de amor de Charlie Spring (Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor), onde os dois adolescentes tentam compreender o sentimento que os une enquanto um lida com o bullying de que é alvo e o outro com incertezas quanto à sua orientação sexual. “Heartstopper” mostra que nem sempre o lado mais negro vinga nas vidas de uma imensa, e diversa, minoria, que continua estigmatizada e perseguida. A participação especial de Olivia Colman é a cereja no topo do bolo.
Menções honrosas para a minissérie The English (protagonizada por Emily Blunt), para a continuação de The Crown (Season 5), Reservation Dogs (Season 3) e Abbott Elementary (Season 2) e para o final da excelente Better Call Daul (Season 6), proveniente do universo Breaking Bad. No mundo da fantasia, além da já mencionada Wednesday é impossível não destacar as majestosas House of the Dragon e The Lord of the Rings: The Rings of Power.
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