“Será que, afinal, eu não sou prisioneira da casa solitária e do deserto de pedra mas sim deste meu monólogo empedernido?” Magda é uma mulher só. Todo o livro é o seu monólogo da solidão. O pai casou com uma mulher jovem; a mãe morrera quando ela era criança. Hendrik, o criado que irá ser também um dos seus algozes, casou com uma mulher jovem, talvez ainda criança, que comprara ao pai por 5 notas e 5 cabras.
Neste livro pode sentir-se todo o desencanto de Coetzee para com o seu próprio país; todos, tanto os descendentes de colonos como os negros, dependem da terra, mas o trabalho e a vida são sempre solitários.
A escrita de Coetzee é de uma força brutal. A narradora, Magda, conta-nos os seus pensamentos de uma forma muito dura, violenta mesmo. Ela odeia-se, odeia tudo, odeia todos. É uma mulher feia e abandonada. Sonha matar o pai e a madrasta com requintes de malvadez; talvez seja o ódio que a faz viver.
Só a jovem mulher de Hendrik, Anna, trata a protagonista pelo nome. Afinal de contas, as mulheres são companheiras na desgraça. É também por Anna que Magda sente alguma ternura; o único resquício de amor que sentirá em toda a vida.
O sexo surge na narrativa como uma arma de submissão ao poder masculino; nada mais do que submissão e poder. Lágrimas e sofrimento. “Será que isto faz de mim uma mulher?”, pergunta Magda depois de ser violada.
Este livro foi escrito em 1977. Há 30 anos. No entanto, demonstra a mesma qualidade literária dos seus livros mais recentes, especialmente "Desgraça", publicado em 1999. Este é um dos aspectos que define um escritor genial: ele não precisa de experiência para atingir a genialidade.
E já neste seu primeiro sucesso literário estão patentes os traços fundamentais da sua obra: a solidão, a pobreza e o desencanto pelos dramas humanos do seu país, a África do Sul.