quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

As Melhores Séries de 2021


Com 2021 a chegar ao fim, volto a fazer um balanço daquilo que mais gostei de ver na televisão e no streaming.




- Mare Of Easttown

- Maid

- The White Lotus

- Nine Perfect Strangers

- The Chair

- It’s A Sin

- The Morning Show (Season 2)

- The Great (Season 2)

- Lupin (Season 1 & 2)

- The Underground Railroad

- Only Murders In The Building (Season 1)

- The Kominsky Method (Season 3)

- Scenes From A Marriage

- Foundation

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Os Melhores Discos do Ano 2021


A pandemia ainda não acabou, os conflitos políticos e sociais continuaram mas no que à música diz respeito e depois de um período de forte instabilidade vivido no ano passado, 2021 foi um ano de fortes emoções. Foi um ano com menos isolamento o que não significou um regresso à normalidade, mas houve muita música nova, com grandes sentimentos e alguma catarse. Segue a lista de discos que mais ouvi bem como uma seleção de músicas memoráveis:


- Nick Cave & Warren Ellis - Carnage
- Wolf Alice - Blue Weekend
- Idles - Crawler
- Dry Cleaning - New Long Leg
- The War On Drugs - I Don't Live Here Anymore
- Julien Baker - Little Oblivions
- Low - Hey What
- Billie Eilish - Happier Than Ever
- Altin Gün - Yol
- Nell Smith & The Flaming Lips - Where The Viaduct Looms
- The Weather Station - Ignorance
- Black Country, New Road - For The First Time



terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Os Melhores Filmes de 2021


Após um ano que não deixa muitas saudades devido à COVID-19, os grandes filmes voltaram a ser lançados nos cinemas, enquanto outros chegaram às nossas casas através das plataformas de streaming. Há diversos filmes que deverão ficar por muito tempo na minha memória.




1. The Power Of The Dog (O Poder do Cão), de Jane Campion

2. Doraibu Mai Kâ (Drive My Car), de Ryûsuke Hamaguchi

3. King Richard (Para Além do Jogo), de Reinaldo Marcus Green

4. Madres Paralelas (Mães Paralelas), de Pedro Almodóvar

5. Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson

6. Tre Piani (Três Andares), de Nanni Moretti

7. CODA (No Ritmo do Coração), de Sian Heder

8. The French Dispatch (Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun), de Wes Anderson

9. The Card Counter (O Jogador), de Paul Schrader

10. Cry Macho (A Redenção), de Clint Eastwood   

11. The Last Duel (O Último Duelo), de Ridley Scott

12. State Funeral (Funeral de Estado), de Sergey Loznitsa


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

As Minhas Melhores Leituras de 2021

1. Ali Smith – Verão 
2. Jon Fosse – Trilogia 
3. Manuel Monteiro – O Funambulista, O Ateu Intolerante E Outras Histórias Reais 
4. Simon Jerkins – Breve História De Inglaterra 
5. Jo Nesbø – Macbeth 
6. Olga Tokarczuk – Conduz O Teu Arado Sobre Os Ossos Dos Mortos 
7. José Eduardo Agualusa – O Mais Belo Fim Do Mundo 
8. Richard Osman – O Clube Do Crime Das Quintas-Feiras 
9. Roger Crowley – Conquistadores – Como Portugal Criou O Primeiro Império Global 
10. Ken Follett – Uma Coluna De Fogo 
11. Han Kang – A Vegetariana 
12. Oyinkan Braithwaite – A Minha Irmã É Uma Serial Killer

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Oyinkan Braithwaite – A Minha Irmã É Uma Serial Killer


O amor não é uma erva daninha,
Não pode crescer onde bem quiser…
(página 130)


A Minha Irmã É Uma Serial Killer, o romance de estreia da jovem nigeriana Oyinkan Braithwaite, que também é ilustradora, retrata o modo de vida dos jovens nigerianos, a presença nas redes sociais e as aspirações e sonhos que os motivam. Trata-se de uma leitura breve, com humor e alguns momentos um pouco bizarros, mas que passa com clareza a sua mensagem: no final do dia, o que é que é mais importante para nós? Qual é o valor que atribuímos à família? Onde estaríamos dispostos a ir pelas pessoas que amamos? E do que é que abdicaríamos sem pensar duas vezes?

Provenientes de uma família da classe média de Lagos (Nigéria), Ayoola e Korede são irmãs, que tiveram a infância marcada pela presença de um pai violento, agora já falecido.

Korede, que narra a história, é uma mulher pouco atraente, pragmática e amargurada, uma enfermeira cuja maior paixão é cuidar dos outros, incluindo de Ayoola.

Ayoola, a irmã mais nova e a preferida da mãe, é uma mulher bela e sexy, que gosta de se divertir e de acordar tarde e que é… uma sociopata, uma serial killer (que matou os seus três últimos namorados). É uma personagem mimada e atrevida, é extremamente manipuladora e usa a sua beleza e capacidade de persuasão para conseguir tudo o que quer. É uma assassina que traz uma grande dose de humor negro à história. A delicada relação entre ambas é abordada entre intrigas, ressentimentos e um passado tortuoso, revelado pouco a pouco.

Surpreendente, macabro, divertido. Este livro, que apresenta um pouco da cultura da Nigéria, com a sua escrita ágil e bem desenvolvida, devora-se, agarra o leitor sem pudores, é uma leitura empolgante e apaixonante mas tem um final brusco e previsível e por isso um pouco dececionante...

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Drive My Car


Belíssimo filme do realizador japonês Ryûsuke Hamaguchi: do país do sol nascente, Tchekov (“O Tio Vânia”) visto pelos olhos rasgados das novas cinematografias orientais, um mergulho profundo no coração de cada um. Sem sorrisos, com palavras não verbalizadas e a condição humana e a solidão. A vida que não se repete e a amizade… Um filme a roçar a obra-prima.

Acabado de nos presentear com outra excelente longa-metragem, Wheel of Fortune and Fantasy, Drive My Car é adaptado de um conto com o mesmo nome publicado no livro de 2014 "Homens Sem Mulheres" de Haruki Murakami. Ou melhor, também se baseia no conto “Xerazade” da mesma obra, quando a esposa do protagonista lhe conta a história da lampreia…


O filme inicia-se com um longo prólogo (40 minutos), que dá conta de um acontecimento dramático que irá mudar a rotina automatizada de Yûzuke Kafufu, um conceituado autor e cenógrafo de teatro cujo universo relacional se cinge quase exclusivamente à sua mulher (uma atípica argumentista com a qual partilha um desgosto que os une numa vivência algo melancólica). 

O tempo passa e voltamos a encontrá-lo dois anos mais tarde, ao volante do seu fiel e inseparável amigo de quatro rodas, um Saab 900 Turbo (no qual tem por hábito ouvir longos diálogos, verbalizados pela voz da sua amada, gravados em cassete, como forma de memorizar os textos das peças), a caminho de uma residência artista em Hiroshima, onde irá partilhar com uma audiência de atores de diversas nacionalidades o seu pouco convencional modus operandi enquanto encenador (curiosamente, no filme o Saab é vermelho e não amarelo e não é descapotável, contrariando o conto original). Aí chegado, por motivos de segurança, é confrontado com a proibição de conduzir, pelo que passará a ser transportado por uma jovem motorista enigmática e de "poucas falas" (tal como ele próprio), com a qual irá estabelecer gradualmente uma relação de confiança e partilha de emoções.
Hamaguchi é um autêntico arquiteto de palavras, que desenha um melodrama contido dotado de um arco narrativo fluido e subtil (recorrendo frequentemente a uma espécie de inteligentes jogos de espelhos entre o conteúdo das peças e a vida real), que nos expõe perante um modo diferenciado de lidar com sentimentos como a perda, o ciúme, a vingança e a culpa. Os seus "diálogos não verbais" e os subentendidos, que vão descascando as várias camadas dos seus personagens, são, igualmente, sublimes (pura poesia!). E não menos líricas se revelam as (aparentemente banais) filmagens que se cingem à condução do icónico carro encarnado pelas enormes estradas e túneis do Japão. Um autêntico deleite visual!


 

domingo, 10 de outubro de 2021

Sons de Outono


1. Ela MinusThey Told Us It Was Hard, But They Were Wrong 
2. MåneskinI Wanna Be Your Slave 
3. RVGI Used To Love You 
4. WidowspeakAmy 
5. The Twist ConnectionFake 
6. Alison MosshartRise 
7. At Freddy’s HouseThe Lamplight 
8. Black FoxxesSwim 
9. Black MidiJohn L 
10. Sault Wildfires 
11. Kim GordonHungry Baby 
12. Nothing But ThievesReal Love Song 
13. Indochine & Christine And The Queens3Sex 
14. James BlakeBefore 
15. CultsShoulders To My Feet 
16. The 1975Guys 
17. Orla GartlandMore Like You 
18. AuroraRunaway 
19. Bring Me The HorizonParasite Eve 
20. Phoebe BridgersNothing Else Matters


domingo, 3 de outubro de 2021

Leituras do Mês


- Ken Follett - O Escândalo Modigliani 
- J. M. G. Le Clézio - Deserto 
- Manuel Monteiro - O Funambulista, O Ateu Intolerante E outras Histórias Reais 
- Roger Crowley - Conquistadores - Como Portugal Criou O Primeiro Império Global

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Dia Mundial do Sorriso (Best Stand-Up Comedy Specials)

“O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica.”
Eça de Queirós




- Hannah Gadsby: Nanette (2018)

- Hari Kondabolu: Warn Your Relatives (2018)

- John Mulaney: Kid Gorgeous at Radio City (2018)

- Michelle Wolf: Joke Show (2019)

- Wanda Sykes: Not Normal (2019)

- Chris Rock: Tamborine (2018)

- Ricky Gervais: Humanity (2018)

- Dave Chapelle: The Age of Spin (2017)

- Jim Jefferies: Alcoholocaust Live (2010)

- Tig Notaro: Happy to Be Here (2018)



Dia Mundial da Música

domingo, 15 de agosto de 2021

Tribunais de Braga, Barcelos e Guimarães criticam facilitismo de Escola Secundária

Um professor da Escola Secundária de Barcelos, do grupo 430 - Economia e Contabilidade, apresentou uma denúncia via email à Inspeção Geral da Educação e Ciência com a intenção de comunicar condutas éticas e regulamentares inapropriadas, tais como o facto de um elemento (não identificado) da direção da escola ter ido à sala de aula de algumas turmas do 11º ano, incluindo a Direção de Turma do denunciante, solicitar a escolha da disciplina de Direito no ano letivo seguinte por ser fácil obter a classificação de 20 (vinte) valores no final do ano ou o facto dos professores da escola faltarem diversas semanas para acompanharem alunos em programas de Intercâmbios sem que se respeite o nº 3 do art.º 43 do Regulamento Interno da escola (que menciona que os docentes devem ser substituídos e assim os alunos que ficassem em Barcelos continuariam a ter aulas), queixa esta apresentada pelos Encarregados de Educação dos alunos. Quando ouvido, este docente de Economia informou que 25 dos 28 alunos da turma de Direito obtiveram 20 valores nessa disciplina no final do ano letivo (os restantes alunos da turma obtiveram 19 valores; mencionou também que na disciplina de Sociologia o cenário é semelhante), e ainda enumerou diversas atitudes da direção da escola que considerava que o lesavam a si ou aos alunos. A título de exemplo: a inação perante as queixas de Encarregados de Educação sobre o comportamento e desempenho de alguns docentes na sala de aula; a falta de computadores e projetores na sua sala de aula; a atribuição a si de serviço de apoio a várias disciplinas do 3º Ciclo, incluindo até a disciplina de Matemática, sendo um professor colocado pelo grupo 430 – Economia, que leciona exclusivamente no Ensino Secundário.

Um dos professores auxiliares da direção, contratado pela escola para o grupo disciplinar 420 – Geografia –, que terá sido o professor que visitou as turmas do 11º ano para convencer os alunos a escolherem a disciplina de Direito no ano letivo seguinte, acionou um processo judicial contra aquele whistleblower mas o Tribunal de Barcelos considerou não haver razão para o punir. Não contente com este desfecho, o professor de Geografia, considerado um expert em Direito pela direção da sua escola, remeteu a ação para o Tribunal de Braga, que concordou com o Tribunal de Barcelos. Aqui, perante o juiz, o reclamante declarou não se recordar se nesse ano letivo atribuiu a algum aluno a classificação de 20 valores na disciplina de Direito! Insatisfeito com esta segunda resolução, o reclamante especialista em Direito solicitou recurso para o Tribunal da Relação de Guimarães que também não atendeu ao que este expert em Direito pretendia.

Os processos, de onde foram extraídas as afirmações seguintes, podem ser consultados nos respetivos tribunais. Em nenhum dos 3 acórdãos é proferida uma palavra de censura ao whistleblower. Todos foram arquivados e resultaram numa decisão de Não Pronúncia.  


Tribunal de Barcelos:

“...entendemos que os dizeres escritos e enviados pelo denunciante, não constituem uma conduta a reclamar tutela penal...os factos denunciados não são aptos a ofender a dignidade ou o bom nome do reclamante, nos termos exigidos pelo direito penal.”

“...o teor do email não imputa ao seu autor a prática de crime, de contra-ordenação ou falta disciplinar, razão pela qual não se mostra preenchido o tipo de denúncia caluniosa”.



Tribunal de Braga:

“...a aluna V. Silva (folhas 245/247 do processo) afirma que o reclamante «explicou que a média de notas dos seus alunos naquele ano rondava os 19 a 20 valores». Só uma ideia de apresentar a disciplina pela vantagem de tirar notas altas justifica esses dizeres... não se vislumbra no texto da denúncia «convencer os alunos a escolherem a disciplina de Direito no 12º ano pois nessa disciplina é fácil tirar vintes» qualquer falsidade. O convencimento, mais a mais quanto a uma disciplina opcional, pode fazer-se lançando aparência de facilidade.”

“...do que decorre não haver qualquer indício que contrarie o facto de o denunciante ter fundamento sério para, em boa fé, reputar como verdadeiro o conteúdo comunicacional do reclamante perante os alunos, tal como relatou no email.”

“Ademais, quanto ao propósito de dar a conhecer a disciplina de Direito aos alunos resulta dos autos que os alunos estavam muito bem informados quanto ao que queriam em termos de disciplinas de opção. Pois os que foram ouvidos são categóricos nessa afirmação. Daí que estando os alunos já informados não se encontre fundamento sério para adicionar informação. A não ser avançar com um incentivo adicional: notas altas.

“Assim, concluindo, de uma forma directa, sintética e abstraindo das motivações subjacentes à actuação de cada um, o denunciante apresenta-se contra o facilitismo e o reclamante evidenciou na sua acção aspectos de facilitismo, já que em circunstância alguma pode um professor ao dar a conhecer a disciplina que pretende lecionar, enquanto opcional, falar em notas altas, passadas, futuras, o que quer que seja. E o reclamante falou. Procurou e evidenciou este aspecto, o que é censurável num sistema de ensino que se reclama de excelência.”

Sobre o Crime de Denúncia Caluniosa (pretendido pelo reclamante): “...ao não terem sido denunciados factos falsos, não pode haver consciência de uma falsidade que não se verifica. Como tal, logo ao nível dos elementos objectivos do tipo, claudica a pretensão de pronúncia”.

Sobre o Crime de Falsidade Informática (pretendido pelo reclamante): “...não se percebe qual o normativo, entende o reclamante estar em causa... Mas o que aconteceu, na sua simplicidade, foi o envio de correspondência”.

(custas: 5 UC para o reclamante; a valor de cada Unidade de Conta - UC - é de €102,00)



Tribunal de Guimarães (Recurso instaurado pelo reclamante expert em Direito): 

“...nenhuma censura merece o despacho recorrido, devendo ser confirmado, por não ter violado qualquer dos preceitos legais invocados pelo recorrente e assim manter-se a decisão de não pronúncia em causa.”

(custas: 1 UC para o reclamante)
 


terça-feira, 10 de agosto de 2021

Cinema do Mundo


"Nenhuma arte simula a vida como o cinema. Todavia, não é uma vida. Também não é propriamente uma arte. Porque é uma acumulação, uma síntese de todas as artes. O cinema não existia sem a pintura, sem a literatura, sem a dança, sem a música, sem o som, sem a imagem, tudo isto é um conjunto de todas as artes, de todas sem exceção".
Manoel de Oliveira (1908-2015), cineasta



- Bir Zamanlar Anadolu'da (Era Uma Vez na Anatólia), de Nuri Bilge Ceylan – Turquia (2011)

História policial sobre a reconstrução de um crime. Desenvolve-se desde o pôr do Sol ao meio dia seguinte. Os personagens, polícias, guardas, chefe da polícia, procurador, médico e suspeitos, à exceção do regedor da aldeia, podiam, com pequenas diferenças ser portugueses. É um filme sobre a morte e o seu impacto nos vivos.

A partir das suas habituais experimentações formais e estudos filosóficos, Nuri Bilge Ceylan construiu uma lancinante exploração sobre a moralidade humana onde os diálogos são explícitos ao ponto de serem literários, e onde a paisagem noturna rasgada pelas luzes dos automóveis policiais contém tanta importância conceptual como o mais complexo monólogo (e há bastantes neste filme).
 



- Les Innocentes (Agnus Dei – As Inocentes), de Anne Fontaine – França, Polónia (2016)

Filme passado num convento logo após o final da Segunda Guerra Mundial. É sobre um tema delicado, cheio de nervos sensíveis e propício a derrapagens facilmente melodramáticas ou a tropeções de simplismos piedosos. Fontaine mostra a complexidade emocional, ética, psicológica e espiritual da situação das protagonistas, e as suas perplexidades, tensões, angústias e interrogações, da descrente e materialista médica, confrontada com o mundo e os valores das religiosas. O “happy ending”, talvez com açúcar em demasia, em nada colide com a profundidade e o dramatismo desta terrível história, contada com a segurança e a sensibilidade exigida por algo tão frágil.




- Oslo, 31. August (Oslo, 31 de Agosto), de Joachim Trier – Noruega (2011)

Filme belíssimo, que nos interroga sobre o que nos faz viver e o que nos faz desistir de viver. Sobre como é invisível a linha que nos faz sentir «em cima» ou «sentir em baixo».

A história de um dia na vida de um homem perdido que quer cometer suicídio parece ser a receita perfeita para uma obra de puro miserabilismo à boa moda do cinema europeu. Mas Joachim Trier não é um realizador qualquer e dessa premissa limitada, o cineasta norueguês faz um filme que funciona muito mais como uma celebração da experiência da vida humana do que como uma marcha fúnebre.
 



- Timbuktu, de Abderrahmane Sissako – Mauritânia (2014)

Timbuktu é cidade Património Mundial da UNESCO desde 1988. De pequena povoação perdida no deserto do Saara, o lugar transformou-se, ao longo dos séculos, em capital intelectual e espiritual de África, um oásis no deserto que foi despertando a atenção do mundo. Em 2012, a cidade é ocupada por um grupo islâmico liderado por Iyad Ag Ghaly. O medo e a incerteza apoderam-se daquele lugar. Por ordem dos fundamentalistas religiosos, a música, o riso, os cigarros e o futebol são banidos. As mulheres são obrigadas a usar véu e a mostrar submissão total. A cada dia surgem novas leis para serem cumpridas e a vida de cada um dos habitantes vai sendo modificada tragicamente.

Na conjuntura atual, um filme sobre uma comunidade africana a enfrentar a opressão de invasores que impõe leis fundamentalistas islâmicas é uma preciosidade a ser considerada com admiração e respeito. Quando essa obra é, para além da sua importante temática, uma magnífica construção de cinema elegante, solene e esteticamente belíssimo, então temos um verdadeiro triunfo que deve ser visto por todos.




La Teta Asustada (A Teta Assustada), de Claudia Llosa – Peru (2009)

O filme inicia-se com uma cantiga inocente num testemunho de traumas e horrores que rompem pela escuridão da tela como um pesadelo do qual é impossível acordar. Começar um filme desta forma é arriscado e é um verdadeiro testamento à ousadia da cineasta peruana. É graças ao seu trabalho que um conto meio melodramático, sobre uma jovem que está “doente” devido à sua mãe ter sido violada durante os conflitos que assolaram o país nos anos 80, é representado com um bizarro, mas fascinante, estilo entre o realismo social e o artifício simbólico.


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Leituras do Mês

 

- Benjamin WikerDez Livros Que Estragaram O Mundo 
- Ófeigur SigurdssonO Livro de Jón 
- Mario Vargas LlosaA Cidade e os Cães 
- Nicole KraussA Grande Casa

sexta-feira, 30 de julho de 2021

domingo, 25 de julho de 2021

Sons de Verão


1. Sharon Van Etten & Angel OlsenLike I Used To
2. Manchester OrchestraTelepath
3. Billie EilishLost Cause
4. Tom Hodge ft. EivørNothing Less Nothing More
5. Alison MosshartIt Ain’t Water
6. Martin Garrix ft. Bono & The EdgeWe Are The People
7. CHVRCHES ft. Robert SmithHow Not To Drown
8. Yves TumorJackie
9. Final Song
10. The VaccinesHeadphones Baby
11. Girl In RedBad Idea!
12. Japanese BreakfastPosing In Bondage
13. MåneskinZitti E Buoni
14. Nothing But ThievesFutureproof
15. LordeSolar Power
16. 070 ShakeGuilty Conscience
17.The Divine ComedyInfernal Machines / You’ll Never Work In This Town Again
18. Antony & The JohnsonsThank You For Your Love
19. Fiona AppleThe Whole Of The Moon
20. The Head And The HeartRivers & Roads


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Factos Escondidos da História de Portugal - José Gomes Ferreira

 



Após a leitura das 477 páginas desta obra, cheguei à conclusão que o seu ator tortura os factos históricos, espezinha a verdade, mata a probidade e estrangula a independência intelectual e principalmente a nossa portugalidade. Pura perda de tempo, exemplo do que não deve ser uma obra didática e útil para quem quer aprender algo sobre a História do nosso país.

José Gomes Ferreira não tem qualquer formação em História, assegura que se trata de um livro de política (apesar de na contracapa destacar que “obriga a repensar a História”). Insinua que não estamos a ensinar corretamente a História de Portugal nas nossas escolas alegando que há uma História oficial e outra não oficial e que para ele os historiadores seguem uma “cartilha” oficial.

Trata-se de uma autêntica compilação de pseudo-factos secretos onde demonstra uma ignorância enciclopédica sobre os estudos que são feitos e publicados em Portugal por investigadores, apresenta um conjunto de teorias mirabolantes sem qualquer fundamentação científica, pejado de erros factuais. Não há análise de fontes, recorre a páginas avulsas da internet, cita meia dúzia de livros de autores e tenta adaptar as fontes à sua teoria não mencionando autores mais credíveis que não confirmem a sua tese. O último capítulo do livro, “Só não vemos o que não queremos ver” devia chamar-se “O autor só vê o que quer ver” tal é o número de imprecisões e de ideias feitas sem qualquer fundamentação.

O próprio título do livro é enganador: não apresenta Factos Escondidos da História de Portugal mas apenas factos relativos aos séculos XV e XVI. É errado considerar que em Portugal há uma História oficial: mesmo entre os historiadores há muitas opiniões e versões diferentes. A História não oficial de José Gomes Ferreira é baseada em fontes que não têm qualquer validade ou fundamentação científica. Sobre cartografia apresenta algumas deduções e ideias soltas mas todas as suas ideias não são novas, já foram apresentadas por outros autores. Faz uma escolha muito seletiva da bibliografia: chega a citar um artigo de João Paulo Oliveira e Costa mas não segue as conclusões do autor mas sim as suas próprias conclusões e ignora o resto da bibliografia deste investigador. Baseia-se em indícios, artigos desatualizados (1926 e 1934), introduz factos errados sobre o pau-brasil e a sua origem e apresenta uma mixórdia de temáticas com teorias controversas: Américas, Canadá, Brasil, Austrália, Antártida, Califórnia, Colombo, Fernão de Magalhães, os portugueses em Marrocos, a origem do nome Portugal (atribuída à Ordem dos Templários, quando existe consenso entre os historiadores quanto à sua origem) e os Painéis de S. Vicente.

Existe muita bibliografia que contradiz o autor, alguma até disponível online. Por exemplo, no que diz respeito aos portugueses em Marrocos pode-se ler este artigo de António Dias Farinha AQUI; sobre Cristóvão Colombo, ESTE artigo de Luís Filipe Thomaz (página 483) ou ESTE de Francisco Contente Domingues e sobre os portugueses na Austrália, ESTE de Carlota Simões e Francisco Contente Domingues.

Esta edição só tem explicação por se tratar de uma figura pública. Infelizmente, o mercado literário em Portugal privilegia essencialmente autores que sejam reconhecidos facilmente pelo público (como apresentadores de televisão, atores, participantes em reality shows, jornalistas, desportistas ou familiares de celebridades). Além disso, as editoras tendem a procurar material sensacionalista. O trabalho sério de investigação é muitas vezes preterido por este tipo de publicação.


quinta-feira, 17 de junho de 2021

11º CSE 1 e 2 (ESFH)

"Ensinarás a voar,

Mas não voarão o teu voo.

Ensinarás a sonhar,
Mas não sonharão o teu sonho.

Ensinarás a viver,
Mas não viverão a tua vida.

Ensinarás a cantar,
Mas não cantarão a tua canção.

Ensinarás a pensar,
Mas não pensarão como tu.

Porém saberás que cada vez que voarem,
Sonharem, viverem, cantarem e pensarem
Estará lá a semente do caminho ensinado e aprendido!"


Madre Teresa de Calcutá




Ao fim de dois anos de trabalho intenso, espero ter contribuído para que todos sejam um pouco mais conscientes do mundo que os aguarda. Não se esqueçam que as dificuldades são como as montanhas, pois só se aplainam quando avançamos sobre elas.

É o convívio com alunos assim que faz desta profissão de Professor algo de maravilhoso e único.

Desejo a todos as maiores felicidades e que o futuro vos sorria.

Até sempre,

CCB

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Wolf Alice – Blue Weekend (2021)


Desde 2015 que os Wolf Alice têm merecido a minha atenção quando editaram o aclamado álbum My Love is Cool, confirmada dois anos depois com Visions of a Life, onde a banda mistura elementos do indie rock com músicas mais introspetivas e calmas, com faixas mais pesadas e cheias de energia.

Depois de quatro silenciosos anos, acabam de regressar às edições com o ambicioso, potente e excelente Blue Weekend que promete tornar-se épico. O álbum move-se em terrenos familiares, algures entre o rock de feição mais clássica, misturado com elementos shoegaze, riffs de guitarra que, muitas vezes, remetem para o grunge do início dos anos 90, aqui e ali, um pouco de psicadelismo à mistura e uma incorporação bastante acentuada, em certos momentos, de elementos eletrónicos. As letras são reflexivas, discutem como relacionamentos começam e terminam e abordam a pandemia e as crises intermináveis que estamos a viver.


“The Last Man On Earth”, primeiro single do álbum, tem tudo para ser apenas uma balada, vai-se lenta e subtilmente metamorfoseando noutra coisa graças ao cunho pessoal dos Wolf Alice. Se a primeira parte da canção nos dá a voz crua de Ellie Rowsell, em solitária conversa com o piano, enfatizando-se cada palavra proferida, a ponte assinala uma viragem inesperada, introduzindo uma mescla de coros épicos e guitarras psicadélicas da década de 60.

Seja cinema ou sonho (“Lipstick On The Glass” e “Feeling Myself”), dream pop (“Delicious Things” e “No Hard Feeling”) ou riffs distorcidos (“The Beach”), punk (“Play The Greatest Hits” e “Smile”), folk (“Safe From Heartbreak – If You Never Fall In Love”) ou anos 80 (“How Can I Make It OK?”), Blue Weekend soa como um disco de consolidação, com arranjos impecáveis em cada música e que em apenas 40 minutos mostra uma das joias da música inglesa de 2021.

Os Wolf Alice acabam de anunciar a Tour Europeia com passagem por Lisboa a 3 de março de 2022. Os bilhetes já estão à venda...

Wolf Alice Mixtape:

terça-feira, 15 de junho de 2021

David Owen - Na Doença e no Poder



No seu livro de 503 páginas sobre as doenças dos grandes estadistas do século passado, “Na Doença e no Poder – Os Problemas de Saúde dos Grandes Estadistas nos Últimos 100 Anos”, David Owen (neurologista e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico) considera que o que motivou a decisão de invadir o Iraque, tomada por George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar durante a célebre cimeira dos Açores em 2003, não foi a existência de armas de destruição maciça, nem a ambição de controlar o petróleo iraquiano mas sim um transtorno comum entre os políticos no poder, a síndrome de Hubris.

Esta síndrome, não reconhecida pela Medicina, equivaleria a uma “embriaguez de poder” caracterizada pela perda do sentido da realidade, soberba, presunção, persistência perversa em políticas que não funcionam e desrespeito pelos conselhos daqueles que os rodeiam. Os “pacientes” quando as decisões se revelam erradas, nunca reconhecem o equívoco e continuam convencidos que tomaram a decisão certa.

A sua dimensão é catastrófica quando se manifesta num pequeno grupo, fechado sobre si próprio, que desconsidera as pessoas e as instituições que promovem ideias contrárias, rejeitando-as e excluindo-as do seu núcleo decisor.

O exemplo do Iraque é o mais recente, mas ao longo da obra são apresentados muitos outros “doentes” afetados pela mesma síndrome como, por exemplo, Neville Chamberlain (primeiro ministro britânico entre 1937 e 1940, Adolf Hitler, François Mitterrand, Mao Tse-Tung, John F. Kennedy e até Margaret Thatcher nos seus últimos anos no poder. Todos eles foram atingidos por este transtorno psicológico. Aliás, Owen reconhece que também ele, no início da sua carreira política, deixou que o poder lhe subisse à cabeça - foi o mais novo ministro inglês dos Negócios Estrangeiros - embora sem nunca chegar aos extremos de alguns líderes históricos.

O fenómeno foi batizado com o nome da palavra grega “Hubris” que designava o herói que, uma vez alcançada a glória, deixava-se embriagar pelo êxito e comportava-se como um Deus capaz de tudo. Em consequência, começava a acumular erros, encontrando a sua Némesis, que o devolvia à realidade.  Não há tradução exata para a palavra Hubris que sintetiza o significado de outras: “arrogância”, “desprezo”, “superioridade”, “excesso de confiança” ou até alguma coisa semelhante a “autismo”, perda do sentido da realidade.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Leituras do Mês


- Daphne du MaurierO Outro Eu 
- Laura RestrepoA Noiva Obscura 
- Knut HamsonMistérios 
- John BanvilleA Guitarra Azul

sexta-feira, 23 de abril de 2021

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Leituras do Mês

- Jon FosseTrilogia 
- Italo SvevoA Consciência De Zeno 
- Aravind AdigaO Último Homem Da Torre 
- José Eduardo AgualusaO Mais Belo Fim Do Mundo

quinta-feira, 25 de março de 2021

Sons da Primavera


1. Dry CleaningScratchcard Lanyard 
2. Nick Cave & Warren EllisHand Of God 
3. Cassandra JenkinsHard Drive 
4. King Gizzard & The Lizzard WizardO.N.E. 
5. The CoralFaceless Angel 
6. Wolf AliceThe Last Man On Earth 
7. The Flaming LipsWill You Return / When You Come Down 
8. Olivia RodrigoDrivers Licence 
9. Lael NealeEvery Star Shivers In The Dark 
10. Arab StrapHere Comes Comus! 
11. Pom PokoLike A Lady 
12. Tate McRaeYou Broke Me First 
13. Shame Snow Day 
14. Fiona AppleShameika 
15. The ChillsMonolith 
16. Midnight SisterDoctor Says 
17. Fleet Foxes – Can I Believe You
18. Billie Eilish Everything I Wanted 
19. UnionsSex & Candy 
20. TindersticksMan Alone (Can’t Stop The Fadin’)


 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Leituras do Mês


- Gonçalo M. TavaresUma Menina Está perdida No Seu Século à Procura Do Pai
- Jo NesboMacBeth
- João Ubaldo RibeiroA Casa Dos Budas Ditosos
- Zadie SmithO Homem Dos Autógrafos