quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Os Melhores Discos do Ano 2023


O mercado da música está cada vez mais fragmentado e dominado pelos micro-fenómenos de efémera duração, onde as novas gerações desconhecem o culto do “álbum”. Apesar de o modelo económico da indústria estar em transição, há mais discos a serem lançados todos os anos. E cada esquina da Internet esconde uma opinião, um veredicto, uma sentença. Aqui vai a minha para os discos lançados neste ano que agora termina:

- Lana Del ReyDid you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd
- Blur The Ballad of Darren
- The ClockworksExit Strategy
- Boygenius The Record
- SlowdiveEverything Is Alive
- Depeche ModeMemento Mori
- Sufjan StevensJavelin
- Anohni and the JohnsonsMy Back Was A Bridge For You To Cross
- PJ HarveyI Inside the Old Year Dying
- Robert ForsterThe Candle and the Flame
- Caroline Polachek - Desire, I Want to Turn Into You
- The NationalFirst Two Pages of Frankenstein
- Wednesday - Rat Saw God
- Bar ItaliaTracey Denim
- Belle And SebastianLate Developers
- The KillsGod Games


Playlist com outros sons que marcaram 2023:

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

As Minhas Melhores Leituras de 2023




1. Douglas Stuart – Shuggie Bain
2. Arturo Pérez-Reverte – O Italiano
3. Eduardo Mendoza – A Cidade Dos Prodígios
4. Paul Auster – 4 3 2 1
5. Geoff Dyer – Os Últimos Dias de Roger Federer e Outros Finais
6. Shusaku Endo – Silêncio
7. Virginie Despentes – Vernon Subutex
8. Jorge Carrión – Livrarias
9. Herberto Helder – Os Passos Em Volta
10. David Galgut – A Promessa
11. Flannery O’Connor – Um Bom Homem É Difícil de Encontrar
12. Abdulrazak Gurnah – O Desertor

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Reuniões de Profes

Ata de um Conselho de Turma (de uma Escola Secundária da Terra Média):


----- Relativamente ao aproveitamento, o Conselho de Turma caracterizou-o como hilariante, uma vez que os níveis atribuídos pouco têm a ver com o desempenho dos alunos, mas sim com outros fatores, nomeadamente: o desejo de nunca mais os ver na sala de aula; a necessidade de cumprir as anedóticas metas de sucesso, de forma a evitar o paleio justificativo no relatório de avaliação de desempenho e demais documentação; a vontade de evitar recursos por seis ou sete encarregados de educação, previamente referenciados pelo conselho de turma como "carraças parentais obcecadas com a entrada dos descendentes no curso de Economia da FEP" [soou uma gargalhada quase geral].

----- A docente de Português confessou que devia ter estudado História para entender os hieróglifos dos testes e também que tinha ganas de imitar Espanca, só para não ter que voltar a ler tantos disparates e facadas na bela Língua Lusitana. Lembrou-se da discrepância que certamente existirá entre a avaliação interna e as notas dos exames nacionais, e por isso considerou não haver qualquer problema se as classificações se mantiverem camufladas na “bondade avaliativa” [soaram exclamações de compreensão e comiseração em quatro docentes]. 

----- O docente de Geografia declarou que não abdicava dos seus princípios, pelo que tinha atribuído nível quinze a um aluno que nunca compareceu [silêncio constrangedor]. O diretor de turma, bem-humorado, sugeriu que se alterasse para “dezasseis”, o que mereceu uma ovação geral, quanto mais não fosse para não terem que aturar os chiliques pedagógicos do Gabinete de Psicologia. 

----- A docente de Inglês esclareceu que mais de metade da turma não distingue ainda “yes” de “no”, o que compreende pois nas suas aulas só falam português, e por isso é-lhe impossível dar menos de dezassete valores a toda a gente pois eles são todos uns amores [nesse momento, fez-se silêncio temeroso].

----- O docente de Educação Física acrescentou que também não tem vontadinha nenhuma de aturar os comentários infelizes de vários quadrantes sobre a importância das suas áreas curriculares, pelo que o nível mínimo que atribuiu foi dezassete, que serviu para penalizar 4 alunos por nunca terem levado sapatilhas para a sua aula.

----- A docente de Matemática não disse mas com certeza pensou nas “melgas inúteis” que são os pais e demais parentes que acompanham vários alunos na realização dos TPC e que os instruem no sentido de pôr em causa tudo o que acontece nas suas aulas, embora a maioria nem o nono ano devia ter concluído [interjeições de concordância e olhares suspeitos de quatro docentes]. 

----- A docente de Filosofia explicou ao conselho que, no âmbito da interdisciplinaridade, tinha decidido uniformizar os critérios de avaliação, a saber: nível dezoito para quem tivesse pulsação, nível dezanove para quem também respirasse sozinho e nível vinte para quem emitisse cumulativamente sons [olhares de compaixão]. 

----- Para o docente de Economia, em resposta ao Representante dos Encarregados de Educação que considerou as notas da disciplina muito preocupantes (pois no ano anterior os alunos não falaram de Economia nas respetivas aulas mas pelo menos tiveram média de 16 valores), a inação de uns, a fraca prestação de outros, o desinteresse e a falta de ambição daqueles, enfim, aparentemente barricados na mediocridade escolar, acabam por ter um efeito de desvitalização de todos, vindo sucessivamente a induzir uma mediania académica, mas que tudo poderia ser compensado desde que a estrutura do próximo teste de avaliação fosse ESTA e se inscrevessem na Juventude Socialista. 

------ O Diretor de Turma destacou o facto de em mais de trinta anos nunca ter encontrado uma turma de alunos tão mimados, cultores da ignorância, incapazes de cumprir com as regras mínimas de uma sala de aula, que encaram o copianço nos testes como uma atividade perfeitamente normal e os trabalhos práticos como uma forma de praticar as funções “copy” e “paste” do Word e, não satisfeitos com a exuberância do seu tónus intelectivo, boçalmente ajuizarem sobre a condução do processo de ensino-aprendizagem. Por tudo isto, na sua disciplina decidiu atribuir como nota mais baixa dezassete valores [múltiplas interjeições de concordância]. 

----- E nada mais havendo a tratar...

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Spelling Bee Contest - And The Winner Is...


 

The Clockworks - "Exit Strategy"


Com o lançamento de “Exit Strategy”, os The Clockworks criaram um mundo para ser explorado, analisado e decifrado, mas acima de tudo para ser sentido.

Ao contrário do que o nome indiciaria, esta não é uma estratégia de saída, mas, sim, de uma entrada direta para a lista dos melhores discos do ano. Músicas introspetivas e contemplativas, de indie-pop nostálgico, mas com bastantes laivos de post-punk e uma raiva latente à espreita.



 
É um álbum conceptual que, à imagem da banda nascida em Galway, Irlanda, mas amadurecida em Londres, Inglaterra, narra a história de uma personagem que viaja da sua terra-natal irlandesa até à capital londrina à procura de uma vida melhor. Ao longo dos 13 temas do disco, o nosso protagonista da classe operária narra, com ricos recursos líricos, os dramas mundanos de quem tenta sobreviver num mundo sem escrúpulos e desenhado apenas para alguns privilegiados.

A produção de Bernard Butler (guitarrista original dos Suede) foi certamente um fator determinante para o som fresco da banda. Aqui e ali, até se notam alguns parentescos melódicos entre os saudosos Suede do início dos anos 90. Também é quase impossível não notar algumas influências dos Fontaines D.C., especialmente nos temas mais ritmados. Foi por influência de Butler que a banda optou por regravar alguns temas que já antes editara em formato single. A nova roupagem, com o seu toque de Midas, melhorou-as bastante oferecendo uma maior preponderância às guitarras, mas sem apagar o toque introspetivo da banda. O som ficou ali dependurada num limbo oscilante entre um indie-pop melancólico e um post-punk niilista.

O resultado final é um belo conto suburbano das agruras do dia-a-dia, movido a melodias emotivas e guitarras firmes e marcantes. Uma estreia auspiciosa e um dos melhores discos do ano.


domingo, 5 de novembro de 2023

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Leituras do Mês





Tomás Eloy Martínez – O Cantor De Tango
Céline – Morte A Crédito
- Juan Marsé – Essa Puta Tão Distinta
Flannery O’Connor – Um Bom Homem É Difícil de Encontrar

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Sons de Outono


1. Sigur RósFall
2. Devendra BanhardtTwin
3. London Grammar & SebastiAnDancing By Night
4. Silvert HøyemThe Rust
5. MetricDays of Oblivion
6. Idles Dancer
7. U2Atomic City
8. Debby Friday (Ft. Uñas)I Got It
9. Yves TumorEcholalia
10. Måneskin (Ft. Tom Morello)Gossip
11. JP Saxe (Ft. Julia Michaels)If The World Was Ending
12. Future IslandsDeep In The Night
13. Depeche Mode My Favourite Stranger
14. Passenger (Ft. Gabrielle Aplin)Circles
15. Maximilian HeckerNeverheart
16. Harry StylesFine Line
17. Sharon Van Etten When I Die
18. DeerhoofMidnight, The Stars And You
19. TomaraAvalanche
20. CarminhoLevo O Meu Barco No Mar


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

domingo, 1 de outubro de 2023

domingo, 24 de setembro de 2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Vida de CEO


Diz o CEO gordo para o CEO magrinho:

- Como é que te consegues manter tão magro?

- Pá, quando chego a casa do escritório, não vejo nada de interessante no frigorífico, e vou para a cama. E tu, como é que ficaste assim gordo?

- Olha, quando chego a casa do escritório não vejo nada de interessante na cama, vou ter com o frigorífico…

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Geoff Dyer - Os Últimos Dias de Roger Federer e Outros Finais




"Os Últimos Dias de Roger e Outros Finais" é um livro sobre o vasto catálogo dos tópicos preferidos de Dyer, que vão do rock à história militar, passando pelo ténis, jazz, drogas, cinema, pintura ou fotografia. Aqui, Geoff Dyer explora os últimos dias, as últimas obras ou as obras tardias de escritores, pintores, músicos, cineastas e estrelas do desporto que marcaram a nossa memória. Com charme, ironia e inteligência, revê o colapso de Friedrich Nietzsche em Turim, as reinvenções de antigas canções de Bob Dylan, a pintura de Turner com a sua abstração harmoniosa, a ressurreição tardia de Jean Rhys, as derradeiras melodias de John Coltrane, mas também os últimos quartetos de Beethoven, os poemas finais de Larkin, as últimas canções dos The Doors ou o último sopro criativo de Walter Scott, Joyce, Updike ou David Foster Wallace.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Sons de Verão


1. PJ HarveyA Child’s Question, August
2. BlurThe Narcissist
3. Slowdive Kisses
4. The Legendary Tigerman (Ft. Asia Argento)Good Girl
5. Everything But The Girl Run A Red Light
6. InterpolSomething Changed
7. Caroline PolachekWelcome To My Island
8. Bar ItaliaNurse!
9. Cigarettes After SexPistol
10. Lana Del Rey Did You Know That There’s A Tunner Under Ocean Blvd
11. Lightning CraftMy Way
12. Depeche ModeGhosts Again
13. Yeah Yeah YeahsBlacktop
14. The National Eucalyptus
15. The WaeveCan I Call You
16. Sparks The Girl Is Crying In Her Latte
17. Warpaint Love Is To Die
18. The Last InternationaleWanted Man
19. The Last Dinner PartyNothing Matters
20. FlipturnSad Disco
21. John Cale (Ft. Weyes Blood) Story Of Blood
22. Anohni And The Johnsons It Must Change
23. Girl In RedOctober Passed Me By
24. The Smile Bending Hectic
25. Boygenius The Film


quinta-feira, 6 de julho de 2023

Leituras do Mês

 



- Ivo Andric A Crónica De Travnik
- John SteinbeckO Inverno Do Nosso Descontentamento
- Toni MorrisonA Dádiva
- Rubem FonsecaA Grande Arte

domingo, 28 de maio de 2023

Centenário do CNE

 



O Altice Forum Braga foi o local das comemorações deste Centenário, com a realização de jogos no pavilhão, ao longo do dia 27 de maio e, à noite, com a celebração da Eucaristia e a Festa do Centenário, na zona exterior. 

Celebrar o passado mas, sobretudo, a olhar e a traçar o que vai ser o nosso novo século de vida – o nosso futuro.

São 100 anos de atividades, amizades, construções e acampamentos!

sábado, 27 de maio de 2023

Chemical Brothers (North Festival, Porto, 26 de Maio)

 



Durante mais de uma hora, o duo britânico Chemical Brothers assegurou o espetáculo da noite do primeiro dia do North Festival, protagonizando um espetáculo de luzes, projeção e som a que nos tem habituado. “Hey Boy Hey Girl”, de 1999, foi um dos pontos altos. O auge foram os temas já com décadas de existência, que levaram o público a levantar os braços e abanar a cabeça, oferecendo uma experiência sonora única e envolvente, combinando música eletrónica pulsante com visuais cuidados e impactantes. 

sábado, 20 de maio de 2023

Eduardo Mendoza – A Cidade Dos Prodígios


O enredo desta obra acompanha a cidade de Barcelona entre as duas Exposições Universais aí realizadas: de 1888 e 1929. O protagonista desta estória, Onofre Bouvila, é uma espécie de anti-herói que sobrevive e depois enriquece numa espécie de vida em “contramão”: a sua sorte é o azar dos outros. Toda a cidade de Barcelona acaba por ser vista também nessa perspetiva: uma cidade que enriqueceu com base na desgraça alheia, no sucesso de uma casta de patifes como Onofre Bouvila. A própria Grande Guerra ou a ditadura de Primo de Rivera são vistas em Barcelona como oportunidades de enriquecimento.

Ao longo do livro vamos assistindo também à afirmação do socialismo e do anarquismo como teorias da moda. Os malandrins de Barcelona, mais do que os operários e oprimidos, são o meio em que essas ideias ganham assento. Ao longo do livro vamos sorrindo com um sentido de humor alucinante: do sorriso discreto à gargalhada desabrida vão dois passos, num estilo original e muito fluido. Aliás, é incrível a capacidade de Mendoza para fazer “parêntesis” de duas ou três páginas sem que o leitor perca o fio à meada.

A análise do contexto histórico é excelente: dá-se conta da origem da moderna Barcelona a partir da exposição universal de 1888, num olhar irónico sobre o sucesso de toda a sorte de malandros e rufiões; eles podem ser o coração de uma cidade, mais do que os políticos.

O início do século XX é sempre uma época de eleição para qualquer escritor tais são as novidades; uma das mais espetaculares é o cinema, que Onofre ajudou a levar até Barcelona. Em 1923 dá-se o golpe fascista de Primo de Rivera; a ameaça do extremismo catalão foi uma das causas da instauração da ditadura; é a cidade condal no centro da contestação.

Esta faceta rebelde da Catalunha é o âmago da obra: “Nós, os pobres, só temos uma alternativa, dizia de si para si, a honestidade e a humilhação ou a maldade e o remorso. Isto era o que pensava o homem mais rico de Espanha” (página 292).

A Barcelona moderna surge com o genial Gaudi. No entanto, mesmo neste domínio, Mendoza não deixa de pintar a realidade com tons surreais, apresentando-nos o famoso arquiteto num estado de decadência e decrepitude.

Mas é a aviação que vem fornecer a vertigem dos novos tempos…

A exposição universal de 1929 era a oportunidade de afirmação de Primo de Rivera. Mas foi, pelo contrário, um sinal de falência do sistema capitalista, quatro meses depois do crash da bolsa de Nova Iorque.

A questão fundamental é esta: Vale a pena lutar pela glória? Vale a pena pagar preços tão altos? A questão é posta por Onofre mas podia ter sido posta pela cidade… implícita nesta estória está uma crítica mordaz ao individualismo burguês.

Ao individualismo, Mendoza contrapõe a cidade; um povo que lutou sempre contra a hegemonia da capital e fez da Catalunha um estado autónomo; não se trata da afirmação da cidade em termos económicos nem urbanísticos, mas da cidade como comunidade, com a sua identidade rebelde mas inquebrantável.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Agnes Obel

 



Agnes Obel é uma cantora, compositora e pianista dinamarquesa que ajuda a tranquilizar e a viajar, pela forma como trata a música, proporcionando sonoridades únicas.

O seu primeiro álbum, “Philharmonics”, foi lançado em 2010 e confirmou uma nova voz na música que foge aos padrões da pop e consegue embalar-nos com uma melancolia serena e inabalável, confirmada pelos trabalhos seguintes, “Aventine” (2014), “Citizen Of Glass” (2016) e “Myopia” (2020).

As suas canções são despojadas, quase intimistas. Parece soprar uma chama que não quer apagar. Vale a pena descobri-la…

terça-feira, 2 de maio de 2023

Leituras do Mês




- Amos OzNão Chames Noite À Noite
- Nick CaveA Morte De Bunny Munro
- Neil JordanAmanhecer Com Monstro Marinho
- Eduardo MendozaA Cidade Dos Prodígios

domingo, 23 de abril de 2023

sábado, 25 de março de 2023

Owen Pallett / The Hidden Cameras (GNRation, 24 de Março)




Owen Pallett, antigo membro de The Hidden Cameras, juntou-se ao seu líder Joel Gibb em palco para celebrar o legado histórico que os canadianos deixaram na música pop contemporânea.

O espetáculo iniciou-se com Gibb a solo, todo vestido de branco, com guitarra e bateria e adereços, diz-nos, comprados à tarde numa loja chinesa de Braga, a tocar algumas das canções do disco “The Smell of Our Own”, que celebra agora 20 anos de existência (a primeira foi “Golden Streams” seguida por “A Miracle”, “Shame”, “Boys Of Melody” e “Ban Marriage”) e novas composições para o seu álbum previsto para 2024. Composições irreverentes e diversas influências, que vão desde o folk ao rock’n’roll.

O virtuoso do violino, compositor e produtor, Owen Pallett é um dos músicos mais aclamados no Canadá, com influências que vão desde o pop e rock à música eletrónica, sendo reconhecido pelo seu trabalho a solo e pelos arranjos de orquestra para alguns dos maiores músicos da atualidade. Em 2005 estreou-se a solo como Final Fantasy com o disco Has a Good Home, seguindo-se He Poos Clouds. O seu trabalho com os Arcade Fire, no disco The Suburbs (2011), foi distinguido com um “Grammy”. Esta noite aproveitou a ocasião para celebrar a reedição daqueles dois álbuns de estreia como Final Fantasy.

Á partida poderiam ser dois concertos distintos, mas não foi isso que aconteceu, pois por diversas ocasiões durante o espetáculo, atuaram em conjunto, misturando cumplicidade musical e uma amizade que vai resistindo ao tempo e à distância.



sexta-feira, 24 de março de 2023

Sons da Primavera


1. David BowieYou Feel So Lonely You Could Die
2. PJ Harvey Who By Fire
3. Son Lux, Mitski, David ByrneThis Is A Life
4. London GrammarLord It´s A Feeling
5. Belle and Sebastian I Don’t Know What You See In Me
6. Daughter Be On Your Way
7. Thus LoveCenterfield
8. Yeah Yeah YeahsWolf
9. Yves TumorGod Is A Circle
10. Dream WifeLeech
11. Nothing But ThievesWelcome To The DCC
12. CatbearI Choose Love
13. The 1975 I’m In Love With You
14. Emily Jane WhiteWashed Away
15. BeckOld Man
16. Måneskin The Loneliest
17. Miley CyrusFlowers
18. Trvstfall Sing Louder
19. BoygeniusNot Strong Enough
20. The RegrettesYou’re So F**cking Pretty


sexta-feira, 10 de março de 2023

Nina Nastasia (GNRation, 10 de Março)



"I f*****g love Portugal"

A autora de “A Dog’s Life” trouxe consigo o novíssimo Riderless Horse, sétimo álbum de carreira que assinala o fim de um silêncio discográfico de doze anos. Trata-se do primeiro disco desde a morte do marido Kennan Gudjonsson, com quem travou uma longa e abusiva relação, amorosa e profissional, documentando a dor e o luto através de doze transformadoras canções. Assim, neste disco, Nina Nastasia não celebra um momento feliz e estável da sua vida, apenas tenta recuperá-la, salvando-a do momento mais triste e doloroso da sua existência.

Riderless Horse é um despojado e arrepiante conjunto de canções que nos conta os diversos momentos da relação, dos mais sombrios aos mais esperançosos. Nas últimas palavras de Riderless Horse, diz-nos “I wanna live, I’m ready to live”, deixando-nos o coração aquecido de esperança. Há momentos em que dizemos que a arte salva, mas poucas as vezes isto foi tão evidente e tão profundamente emocionante.

Numa sala esgotada e sem direito a lamentos ou queixumes, a cantora folk norte-americana, uma talentosa cantora e compositora conhecida pela sua abordagem única e emocional na música, apresentou-se sozinha mas segura, criou uma atmosfera íntima e envolvente, e percorreu todos os seus sete discos com canções excelentes, destacando-se "This Is Love", "Nature" ou a arrepiante "The Two of Us". Pelo meio esqueceu-se de uma letra, que justificou com um "Brain Fart" e soltou um espontâneo "I f*****g love Portugal". O público compreendeu mostrando-se sempre recetivo e interessado e ainda participou em coro num "happy birthday", que a cantora registou no telemóvel e com destino a um tio nonagenário!

O espetáculo foi verdadeiramente especial e deixou uma marca indelével na minha memória.


quinta-feira, 9 de março de 2023

Burrocratização do ensino


Enquanto o país se entretém com a futura localização de um aeroporto que se tornou a imagem do desatino e da incapacidade estrutural de decidir em tempo útil, esquecem-se as más notícias que ensombram a escola pública. Concomitantemente, quem queira servir-se da pandemia para relativizar os resultados negativos do desempenho internacional dos nossos alunos, só pode ter em mente o eterno argumento do “coitadinho”.

Quando tudo gira em torno da mediocridade, em nome da qual ganhou raízes o maior monstro burocrático e legislativo de sempre, eis-nos perante o Leviatã que não suga apenas as energias dos melhores professores, mas também destrói a sua dignidade profissional. Com que objetivo? A encenação de um “céu de papel” que esconda a triste realidade da terra. Mas este ocultamento do “reino da estupidez”, para nosso bem, não é totalmente estanque. E os sinais do desastre educativo nacional estão à vista, de facto, não sendo já possível camuflá-los com o fogo de artifício dos recursos digitais e outros iluminismos da era da inteligência artificial.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Ice Merchants


Este ano, pela primeira vez, um filme de produção portuguesa foi candidato aos Oscars, mais precisamente o de melhor curta-metragem de animação.

Intitula-se “Ice Merchants” (“Negociantes de Gelo”), tem 14 minutos e foi realizado por João Gonzalez, cineasta do Porto.

O resumo é fácil de fazer: um homem e o seu filho vivem num pequeno chalé pendurado na parede de uma imponente montanha. Lá, fabricam gelo que vendem numa vila a alguma distância do sopé da elevação. Para servirem os clientes, voam literalmente ao seu encontro. 

Filme assente em pormenores, em pequenos gestos estranhos porque pouco habituais, pois nada sabemos do ofício de negociar gelo, começa por estranhar pelo absurdo de alguém que sobrevive vendendo gelo a quem vive perto de uma montanha coberta de neve...

Limitado nos tons cromáticos em que assenta, utilizados para diferenciar os dois centros da ação, mas também para simbolizar a união do pai e da mãe (ausente?, mas nem sempre...), “Ice Merchants” no minimalismo da sua conceção, na vertigem da sua narrativa com os mergulhos sem rede para o abismo, e no inesperado do seu tom, desconcerta pelo círculo vicioso, qual pescadinha de rabo na boca, que move e condiciona os mercadores.

Termina, de forma trágica, mais impactante dado o humor ligeiro que perpassa por todo ele e na cena final, com uma mensagem ecológica que alerta para a responsabilidade individual de cada um... porque – e quem assistir entenderá – para nós não haverá um paraquedas suplente nem uma almofada que nos ampare a queda.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Leituras do Mês



 
- David GalgutA Promessa
Giorgio Van StratenHistórias de Livros Perdidos
José Carlos BarrosAs Pessoas Invisíveis
Anna PolitkovskayaUm Diário Russo

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Chris Cleave – A Pequena Abelha

 



Abelhinha (que só no título do livro é nomeada como Pequena Abelha) é uma refugiada nigeriana em Londres; na Nigéria ela experimentou as piores humilhações e o maior sofrimento; mas na Inglaterra os tormentos foram outros; diferentes mas não menores. A burocracia, a rigidez dos costumes e, acima de tudo, o preconceito contra os estrangeiros fizeram da vida de Abelhinha em Inglaterra um novo tormento.

Sarah é uma inglesa de classe média com tudo o que uma cidadã desse estatuto costuma ter num país civilizado: filho, marido, amante e um emprego razoável. Mas nem por isso a sua vida é pacífica; quando não temos problemas de sobrevivência, podemos dar-nos ao luxo de arranjar problemas sentimentais. Para fugir a esses problemas, Sarah e o marido resolveram passar umas férias na Nigéria. Aí conheceram Abelhinha mas a vida do pacato casal britânico sofreria um golpe tão rude que nunca mais se conseguirá recompor.

Um certo humor, construído a partir da ingenuidade da alma africana, dá um pouco de leveza a esta estória, absolutamente triste. O elemento feminino, sofredor e sensível é claramente colocado em oposição ao masculino, egoísta e violento. Na Europa como em África, o homem procura impor o seu poder. Os ingleses, civilizados, apenas escondem a violência em subterfúgios, em aparências; o que em África se faz com catanas e espingardas, em Inglaterra faz-se com computadores e papéis.

Há neste livro ideais a aspetos simbólicos verdadeiramente geniais. Apenas alguns exemplos: no centro de detenção, Abelhinha reflete, perante as marcas de sofrimento que as suas colegas exibiam: “uma cicatriz não se forma naqueles que estão a morrer. Uma cicatriz significa «eu sobrevivi»”. Uma rapariga que acompanha Abelhinha nesse centro transporta um saco de plástico cheio de amarelo. Aos nossos olhos seria um saco vazio e inútil. Mas quem perdeu tudo transposta sempre algo. Nem que seja a esperança; a cor viva da esperança ou de uma réstia de alegria…

Um dia, Oscar Wilde afirmou que só a beleza pode salvar o mundo. Assim descontextualizada, esta frase torna-se vaga. Mas Abelhinha faz-nos compreender Wilde quando afirma: “ninguém gosta de ninguém mas todos gostam dos U2”. A música, a arte, a beleza, são raios de sol neste mundo a que chamam global mas onde as atrocidades persistem.

E o final do livro é outro raio de sol. A maldade persiste; a infelicidade não desaparece mas há as crianças; e com elas a esperança e a beleza nunca morrerão.

domingo, 15 de janeiro de 2023

Sobre a Inteligência Artificial (AI)


Começou por ser uma brincadeira de nerds, evoluiu para uma ferramenta engenhosa usada por alunos cábulas, derivou para uma atrativa solução empresarial e industrial, afirmou-se como fonte fidedigna de órgãos de Comunicação Social, passou a integrar a máquina de propaganda e desinformação de algumas tribos e, hoje, é encarada como uma séria ameaça ao curso da História, potenciando teorias que anteveem que o fim da espécie humana pode, afinal, não ter causas naturais, mas baseadas na programação informática. A Inteligência Artificial (IA) veio para ficar. Não acabará com o Mundo (esperamos), mas ajudará certamente a mudá-lo. Tentar travá-la apenas porque temos medo terá, provavelmente, o mesmo efeito inconsequente produzido há umas décadas quando nos assustámos com o advento da Internet.

Não conhecemos ainda em profundidade todas as virtualidades desta revolução (e muito menos todos os perigos), mas a melhor forma de enquadrar esta parcela imparável do futuro é recorrendo às leis. E essas ainda são os homens a desenhar.

A União Europeia começou a redigir o “AI Act” há quase dois anos para regular a tecnologia que explodiu após o lançamento do ChatGPT, o aplicativo de consumo com o crescimento mais rápido da História (atingiu os 100 milhões de usuários ativos mensais em poucas semanas).

Neste momento, os legisladores estão a aperfeiçoar o quadro legal, para estabelecer barreiras em função dos níveis de risco: de mínimo a limitado, de alto a inaceitável, abrangendo áreas que vão da vigilância biométrica à disseminação de informação falsa ou ao uso de linguagem discriminatória. O Parlamento Europeu está a fazê-lo de forma sensata, procurando um justo equilíbrio entre os direitos dos cidadãos, o progresso tecnológico e o crescimento económico.

Não censurando o desconhecido, mas preparando as válvulas de escape que melhorem a aculturação de uma realidade que é tudo menos artificial.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Shusaku Endo – Silêncio




Shusaku Endo, falecido em 1996 foi um dos mais conceituados escritores japoneses do século XX. Nesta obra, "Silêncio", aborda um tema polémico e profundo, que tem muito a ver com a nossa história: o trabalho dos missionários portugueses no Japão, nos séculos XVI e XVII. O livro narra a história do Padre Rodrigues, um jesuíta português que partiu para o país do sol nascente procurando um outro missionário, o padre Ferreira de quem se dizia ter apostatado, ou seja, renegado a fé cristã.

A época era de intolerância; enquanto em Portugal e noutros países cristãos se perseguiam e queimavam judeus nas fogueiras da Inquisição, no Japão eram os cristãos vítimas de perseguição impiedosa por parte das autoridades locais, que pretendiam manter o povo fiel ao Xintoísmo e ao Budismo vigentes.

Mais interessados no negócios do que no cristianismo, os japoneses começaram por aceitar benevolamente a presença portuguesa, tendo os jesuítas, liderados por S. Francisco Xavier, conseguido converter milhares de japoneses. Mas no século XVII tudo se modificaria, em parte pela influência que os holandeses e ingleses (protestantes e rivais dos portugueses) moveram junto das autoridades japonesas. Inicia-se então um período de intensa e cruel perseguição, em que os padres missionários e os fiéis eram punidos com castigos arrepiantes e submetidos a torturas inacreditáveis.

No entanto, a questão fundamental não radicava apenas na falta de tolerância. A questão fundamental que Endo coloca ao narrar a incrível história do Padre Rodrigues é a incapacidade que os seres humanos revelam para enquadrar as crenças num espaço cultural próprio, sem o qual elas se revelam inférteis. Como afirma um samurai japonês, o cristianismo era como uma árvore transplantada para um terreno infértil. Impor, mesmo que por benevolência, uma determinada crença é um ato institucional, mais do que de consciência. A Igreja como Instituição nunca conseguiu compreender devidamente este fenómeno: o conceito de BEM, por mais universal que possa ser, não é compatível com normas institucionais que se pretendem universalizar.

Nessa medida, a obra de Endo não perde atualidade nos nossos dias; vemos com frequência governos atuais a tentar impor o nosso conceito de bem, de democracia e de liberdade, sem ter em conta as realidades culturais diversas com que nos deparamos. E nós, no nosso quotidiano, quantas vezes não recorremos a argumentos como estes: “isto é bom para ti”, sem ter minimamente em conta a realidade do outro? Até que ponto o nosso conceito de “bem” ou de “bom” deixa de ser uma ideia subjetiva?

Enfim, um livro que foi para mim uma excelente surpresa, pela sensibilidade que revela sobre um assunto tão complexo e intemporal. O estilo, bastante claro e acessível, faz deste livro um verdadeiro manual de tolerância universal.



No filme que Martin Scorsese adaptou ao cinema, os padres são interpretados pelos atores americanos Andrew Garfield e Adam Driver. Os dois vão ao Japão para procurar um dos seus líderes, o padre Ferreira, interpretado por Liam Neeson, que segundo rumores teria abandonado a sua fé no Japão.

Trata-se de um filme inquietante e perturbador, fiel à história e sem pretensões tendenciosas onde Scorsese faz uma reflexão radical sobre as relações entre o humano e o sagrado.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Tindersticks (Theatro Circo, 7 de Janeiro)





Noite de Inverno em Braga com muita chuva. Momento de comunhão entre artistas, público e palco, numa noite de música bonita. Stuart Staples, o vocalista, é quem marca o arranque das canções em palco. Musicalmente a banda não parece muito diferente da anterior ocasião em que vi a banda, no Coliseu do Porto, em 2003.

O alinhamento do concerto inicia-se com "Willow" (da banda sonora do filme High Life) e "A Night So Still" (do álbum de 2012, The Something Rain).


A sala esgotada respeita o silêncio que a música dos Tindersticks pede. Rejubila no final de cada tema. Alguns músicos vão trocando de posições no palco. A música mantém-se sedutora. A harmonia conjugada com a voz grave de Staples é hipnotizante. A gestualidade controlada, mas nervosa de Staples, em particular a forma quase infantil como os seus pés se movem, sem abandonar o lugar.

Zero palavras para além das palavras escritas nas letras destas músicas, e, porém, a sensação de estar próximo do palco, dos membros da banda, é esmagadora.

Os Tindersticks continuam deliciosamente imemoriais, sem ligar a modas ou pressões externas, nem precisam de se dedicar a espetáculos de recordar é viver. Bastam serem eles próprios.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Leituras do Mês




- Chris CleavePequena Abelha
- Shusaku EndoSilêncio
- Zoran ŽivkovićO Grande Manuscrito
- Yrsa SigurdardóttirCinza e Poeira